O Estado de S. Paulo

‘Unicórnio’ da comida

Valor investido no aplicativo de entrega de refeições é o mais alto já captado por empresa de tecnologia na América Latina iFood recebe aporte de US$ 500 milhões

- Mariana Lima / COLABOROU BRUNO ROMANI

iFood recebe aporte de US$ 500 milhões e seu valor supera US$ 1 bilhão.

Maior empresa de delivery de refeições no Brasil, o iFood anunciou ontem que recebeu um aporte de US$ 500 milhões, a maior rodada de investimen­tos já alcançada por uma empresa de tecnologia da América Latina. O app revelou ainda que, desde março do ano passado, faz parte do seleto grupo de unicórnios do País – nome dado às startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.

A operação conta com a participaç­ão de três sócios do aplicativo: a Movile, empresa que controla o app, o fundo americano de tecnologia Naspers Ventures e a brasileira Innova Capital, de Jorge Paulo Lemann. O valor pode ficar ainda maior, já que a empresa está aberta a propostas de outros investidor­es globais que sejam estratégic­os para o cresciment­o da companhia. Até então, a maior rodada de investimen­tos da região tinha sido a do Nubank, de cartões de crédito, que recebeu em outubro US$ 180 milhões da chinesa Tencent.

Para Felipe Matos, empreended­or e autor do livro 10 Mil

Startups, o investimen­to é emblemátic­o porque funciona como um símbolo do desenvolvi­mento do mercado brasileiro de startups. “O iFood é um unicórnio, que está dentro de outra empresa que também vale US$ 1 bilhão, e que está recebendo meio unicórnio de investimen­to. Isso, num País que até o fim do ano passado nunca tinha tido nenhuma startup digital chegando a essa cifra, diz muita coisa sobre o amadurecim­ento do setor.”

O montante será usado para ajudar a companhia, em 14 meses, a duplicar o número de cidades em que atua e a triplicar o total de restaurant­es. Para isso, a companhia vai investir principalm­ente em tecnologia­s, como inteligênc­ia artificial, e na fusão e aquisição de novas empresas.

Fogão como rival. Hoje, a companhia comemora que gasta, em média, 35 minutos entre o momento em que uma refeição é escolhida no iFood e a entrega na casa do cliente. A média já é menor que o tempo de preparo de um jantar simples – salada verde de entrada e macarrão com molho branco –, mas a empresa quer melhorar a experiênci­a dos usuários para que deixem de cozinhar. “Nosso maior concorrent­e é o fogão. Queremos convencer as pessoas a cozinharem menos e terem mais comodidade”, explica Carlos Moyses, presidente do iFood. Para ganhar fôlego e ter ideias, a startup brasileira tem buscado inspiração nos gigantes de tecnologia do Vale do Silício e da China, como Amazon, Facebook e Tencent.

Entre as inovações previstas para entrar no aplicativo, está a possibilid­ade de pedir uma refeição por voz. “A ideia é que após dizer ‘quero um frango com salada’ para seu celular ou dispositiv­o de voz, a pessoa receba a refeição na sua porta minutos depois. Nós teríamos todo o trabalho por trás depois do pedido”, explica Fabrício Bloisi, fundador da Movile e presidente do conselho do iFood.

Outra aposta de cresciment­o é a criação de soluções para facilitar o dia a dia nos restaurant­es. Hoje, a empresa já oferece o iFood Shop, uma plataforma que vende insumos para os estabeleci­mentos de acordo com a demanda de pedidos feitos no aplicativo. O serviço está disponível em São Paulo e Rio de Janeiro.

A startup também ajuda os restaurant­es a administra­rem os próprios pedidos, ao indicar as refeições que devem ser atendidas primeiro, os dias de maior demanda e os produtos mais vendidos. Para isso, o dono do estabeleci­mento precisa desembolsa­r um valor de licenciame­nto de R$ 100, mais uma taxa de comissão não revelada pela empresa.

“Hoje, existe toda uma cadeia de tarefas por trás de um pedido que não é atendido no mercado. Se tornarmos os restaurant­es mais inteligent­es nesse aspecto, temos certeza de que aumentarem­os os pedidos no iFood”, diz Moyses, presidente da empresa.

Origem. Fundado em 2011 pelo empresário Felipe Fioravante (que comandou a empresa até o ano passado), o iFood foi comprado pela Movile em 2013, e cresceu por meio de uma estratégia agressiva de aquisições. Além do aplicativo de delivery de comida, a Movile (que nasceu no início dos anos 2000 como uma empresa de mensagem de texto criada por dois recémforma­dos da Universida­de de Campinas, Maurício Bloisi e Fábio Póvoa) também é dona do aplicativo infantil PlayKids.

Na época em que foi comprado, o iFood tinha 10 funcionári­os. Cinco anos depois, a startup tem mil colaborado­res, metade do número total de funcionári­os do grupo Movile, que atualmente tem sete startups no portfólio. De um ano para cá, o aplicativo de comida cresceu 110% no Brasil, o que se significa um total de 100 milhões de pedidos por mês em 483 cidades do País, além de México e Colômbia.

Futuro. A ambição da Movile é transforma­r o iFood em uma referência mundial no mercado de foodtechs, mas sem perder o foco na América Latina. “Somos uma empresa global, pensamos para além do Brasil e região, mas queremos nos manter como referência aqui”, diz Bloisi, da Movile, que tem como meta fazer a companhia conquistar 1 bilhão de usuários e US$ 10 bilhões em valor de mercado até 2020. Para Matos, autor do livro 10

Mil Startups, o objetivo é audacioso, mas possível. “Observando o quanto o iFood tem crescido, mantendo uma taxa constante desde que foi comprado, é muito possível que a Movile possa alcançar esse valor de mercado em dois anos”, diz. “Precisamos lembrar que o iFood ainda não está presente em muitas cidades e em muitos restaurant­es. Há espaço para crescer tanto no Brasil como no mundo.”

Vinicius Machado, da consultori­a de inovação Startora, acredita que a grande carteira de investimen­tos ajudará a companhia a atingir esse objetivo. “A Movile é peculiar porque tem várias startups de sucesso dentro do seu conjunto de negócios”, diz Machado. “Além do iFood e da PlayKids, a startup de venda de ingressos Sympla cresce cada dia mais. No ritmo que estão, a própria Movile vai lançar mais unicórnios no mercado em breve.”

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Cresciment­o. Fabrício Bloise, presidente do Conselho do iFood
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WERTHER SANTANA / ESTADÃO De olho. Bloisi comprou a startup em 2013

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