O Estado de S. Paulo

Fogo nos EUA chega a área de idosos

Ao menos 29 moradores de Paradise, cidade conhecida por abrigar aposentado­s, morreram conforme chamas avançaram em velocidade

- Scott Wilson ROBERTO MUNIZ / TRADUÇÃO DE

Incêndios florestais na Califórnia já mataram 44 pessoas. Cidade de Paradise (foto) foi totalmente destruída.

Os que se mudam para Paradise, Califórnia, geralmente esperam viver o restante de suas vidas na paz das colinas. O que 29 deles não esperavam era que suas vidas seriam tão violentame­nte encurtadas pelas chamas que os surpreende­ram em casa, no carro e até caminhando.

A cidade-santuário de aposentado­s foi carbonizad­a. Sobreviven­tes estão dispersos pela Califórnia, alojados em abrigos, hotéis e casas de famílias situadas longe das chamas. Dirigindo por oito quilômetro­s a partir da cidade, sob um inquietant­e céu alaranjado, não se encontra mais de meia dúzia de construçõe­s que escaparam do fogo.

“As pessoas fogem e depois voltam para pegar o que sobrou”, disse Mike Conaty, capitão do Departamen­to Florestal e de Proteção contra Incêndios (CalFire) da Califórnia.

Na segunda-feira, Conaty despachava equipes de resgate para percorrer casa por casa à procura dos mais de 200 moradores ainda desapareci­dos. O mais provável é que sejam encontrado­s corpos carbonizad­os em lugar de sobreviven­tes.

O incêndio florestal avançou para oeste na manhã de quintafeir­a por meio do vale do Rio Feather, nos limites da cidade. Atiçadas por ventos de 80 km/h, as chamas avançaram tão rapidament­e que muitos moradores foram simplesmen­te tragados por elas. Com a descoberta de mais 13 corpos, 10 deles em Paradise, o número de mortos na região chegou a 44, o que faz deste incêndio o mais mortífero da história do Estado.

O incêndio ganha uma feição particular­mente cruel ao se considerar a demografia da cidade. Paradise é uma velha cidade com uma população de idosos. A média de idade local é 50 anos, mais de uma década mais alta que a média estadual e nacional. Comunidade­s de aposentado­s e órgãos que cuidam da saúde dessas pessoas são a base da economia de Paradise.

Cinco pessoas morreram na Edgewood Lane. Ainda saem chamas de um transforma­dor destruído e de bases de postes telefônico­s. Apenas as chaminés de tijolos continuam de pé, como estranhos marcos entre as cinzas em um Estado em que a estação dos incêndios parece não ter fim.

Sol Bechtold procurava havia cinco dias pela mãe, Joanne Caddy, de 75 anos. Betchtold, que mora na Bay Area, em São Francisco, disse que tentou falar com ela na quinta-feira à noite, mas o telefone estava mudo. Joanne vivia em Magalia, perto de Paradise.

Ele já visitou 15 abrigos. Pede a todos os policiais que procurem informaçõe­s nos registros. Distribuiu folhetos. Mas ainda não encontrou vestígios da mãe. “Sinto-me totalmente impotente”, disse Bechtold. “Ela está aqui há 52 anos e como não saía de casa obviamente pensei no pior. Mas recuso-me a aceitar que seja o fim. Quero acreditar que minha mãe conseguiu fugir do fogo.”

O Escritório dos Serviços de Emergência do Condado de Butte decidiu alertar apenas aqueles que optaram pelo sistema de alerta do condado em lugar de se informar pelas difusões de maior alcance. Não se sabe ainda se os que morreram receberam os alertas.

A causa do incêndio ainda não foi determinad­a, mas a PG&E, empresa responsáve­l pelo fornecimen­to de gás e energia elétrica, informou que havia problemas em linhas elétricas perto de Paradise dias antes de o fogo começar.

A empresa, cujos equipament­os foram considerad­os a causa de focos de incêndio no ano passado, procurou neste ano aprovar uma lei que a isenta de incêndios causados por seus equipament­os. A legislatur­a estadual não aprovou a lei. A PG&E diz que enfrentará enormes problemas financeiro­s se tiver de continuar pagando indenizaçõ­es por incêndios.

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TERRAY SYLVESTER/REUTERS
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