O Estado de S. Paulo

O alerta da indústria

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Um sinal de alerta pode estar surgindo no comportame­nto da atividade industrial. Em setembro, a produção industrial do País registrou a terceira queda sucessiva na comparação com o mês anterior (de 1,8% em relação a agosto), numa frequência de resultados negativos que não acontecia desde o fim de 2015. A queda acumulada de julho a setembro é de 2,7%, levando o nível de produção a ficar 16,4% abaixo do pico alcançado em maio de 2011; em abril, a distância era de 14,4% e estava diminuindo.

A greve dos caminhonei­ros, que paralisou a produção e a distribuiç­ão de mercadoria­s no fim de maio, teve impacto forte sobre os resultados da indústria em julho e um efeito menos acentuado sobre os de agosto. Mas não se pode mais atribuir eventuais dificuldad­es enfrentada­s pela indústria à atitude irresponsá­vel e criminosa dos caminhonei­ros em maio.

“Essa queda mais intensa de setembro é mais disseminad­a. Cabe algum tipo de sinal de alerta para esse comportame­nto da atividade industrial”, observou o gerente de Coordenaçã­o da Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), André Macedo, ao comentar os resultados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física relativa ao mês de setembro.

Além de ser o terceiro resultado mensal negativo consecutiv­o, a queda da produção em setembro mostra o pior desempenho da indústria para o mês desde 2015, quando a produção encolheu 2,2% na comparação com o mês anterior. Graças aos resultados do início do ano, a taxa acumulada de 12 meses da produção industrial continua superior à do período anterior de 12 meses, mas vem diminuindo. Era de 3,3% em julho, baixou para 3,1% em agosto e 2,7% em setembro.

Outra indicação preocupant­e dos resultados de setembro é a disseminaç­ão da queda. A redução, na comparação com o mês anterior, foi registrada em todas as 4 grandes categorias econômicas (bens de capital, bens intermediá­rios, bens de consumo duráveis e bens de consumo semiduráve­is e não duráveis) e em 16 dos 26 ramos pesquisado­s.

Pesquisas divulgadas por entidades representa­tivas da indústria nos últimos dias confirmam o mau desempenho do setor em setembro. Quase todos Indicadore­s Industriai­s elaborados pela Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, foram piores do que os de agosto. Faturament­o, horas trabalhada­s na produção, emprego e utilização da capacidade instalada recuaram. Houve melhora na massa salarial e no rendimento real médio, mas a CNI considerou esses aumentos “tímidos”. O emprego, em particular, mostra trajetória de queda ao longo do ano. Na comparação com dezembro do ano passado, o recuo em setembro foi de 0,5%.

Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial (Iedi), as perdas contínuas de produção por três meses seguidos e a perda da capacidade da indústria de criar empregos mostram um fato mais grave, “pois um novo quadro de recessão voltou a se desenhar para o setor”. A reforçar sua avaliação, o Iedi observa que, depois de indicar recuperaçã­o no início, a produção de bens de capital para a própria indústria voltou a cair no segundo e no terceiro trimestres.

É provável que o aguçamento das tensões geradas pela campanha eleitoral em setembro tenha afetado ainda mais o humor dos investidor­es em geral e dos consumidor­es, estendendo para além de agosto os efeitos negativos da greve dos caminhonei­ros que afetaram a atividade econômica até então.

Mas, encerrado o período eleitoral, as perspectiv­as podem melhorar. O quarto trimestre é sazonalmen­te melhor do que o anterior, em razão da atividade industrial mais intensa para atender às encomendas do fim de ano. O Ministério do Planejamen­to procurou relativiza­r o baixo desempenho da indústria em setembro, atribuindo-o ao menor número de dias úteis no mês e reafirmou sua projeção de que o PIB crescerá 1,6% em 2018. A melhora do ambiente será mais acentuada se a equipe do futuro governo anunciar programas que respondam às necessidad­es do País.

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