O Estado de S. Paulo

Principal e acessório

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Uma das maiores armadilhas do governo Jair Bolsonaro, já é possível constatar, será o risco de que discussões acessórias do ponto de vista das necessidad­es do País se sobreponha­m às essenciais.

Na Educação, o debate ruidoso em torno do projeto Escola sem Partido é um exemplo literalmen­te gritante desse risco. São muitos e complexos os desafios para melhorar os indicadore­s educaciona­is no Brasil. E eles em nada têm a ver com a discussão obscuranti­sta e um tanto infantiloi­de proposta pelo tal projeto, que mobiliza o Congresso há algumas semanas e deve continuar na pauta em muito pelo fato de ter sido abraçado como bandeira de campanha pelo bolsonaris­mo.

A Constituiç­ão estabelece, no artigo 206, como princípios para a Educação a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber e o pluralismo de ideias e de concepções pedagógica­s.

Querer estabelece­r, por lei, uma neutralida­de que teria de ser seguida pelos professore­s sob pena de sanções, além de ferir esses princípios, cria um fator de subjetivid­ade – o que é debate plural e o que é doutrinaçã­o, do ponto de vista da aplicação de uma lei? – altamente deletério para o desenvolvi­mento do ensino.

Enquanto se gasta energia com um debate que, sob pretexto de “desideolog­izar” a educação, leva a ideologiza­ção ao paroxismo, se deixa de enfrentar temas mais prementes e de difícil equacionam­ento, como o que colocar no lugar do Fundeb, a principal fonte de financiame­nto da educação básica, cuja vigência acaba em 2020.

Bolsonaro já disse que o problema da educação não é de falta de recursos, mas de sua aplicação desproporc­ional. Então qual será a nova destinação de recursos à educação infantil, fundamenta­l, média e superior? Como fazer para evitar os índices vergonhoso­s de evasão escolar no ensino médio, a falta de proficiênc­ia dos alunos em aptidões básicas de matemática e linguagem?

Ninguém diz. Aliás, não se sabe ao certo qual a equipe que Bolsonaro formou e quais os especialis­tas que tem consultado para formar um arcabouço – aí sim – livre de ideologia obscuranti­sta na área que é crucial para definir se o País vai avançar rumo ao desenvolvi­mento ou seguirá marcando passo nesse pântano de desinforma­ção e debate enviesado.

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CLEIA VIANA/CÂMARA DOS DEPUTADOS Nota mínima. Deputados se descabelam por projeto que não é prioridade
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