O Estado de S. Paulo

‘Bandido com fuzil precisa ser considerad­o uma ameaça’

Ex-comandante do Sudeste diz que debate está ‘amadurecen­do’ e afirma que corregedor­ias serão valorizada­s

- Marcelo Godoy

“Bandido armado com fuzil é uma ameaça”, disse o general João Camilo Pires de Campos. O militar traz para o governo João Doria a experiênci­a de ter tido uma tropa da sob seu comando empregada no complexo da Maré, no Rio, para a garantia da lei e ordem. Era 2014. Ele chefiou por duas vezes o Comando Militar do Sudeste, antes de passar para a reserva e assessorar o ex-governador Geraldo Alckmin na campanha eleitoral. Em seus 48 anos no Exército, exerceu oito comandos, entre eles o da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, responsáve­l pela formação dos futuros generais. A partir de janeiro, será o Secretário da Segurança. “Só há uma técnica para ter a admiração dos subordinad­os. É comandar pelo exemplo.” Leia a seguir a entrevista ao Estado.

Um tema discutido neste ano foi a questão do excludente de ilicitude nas ações policiais... Olha, eu já empreguei tropa em operação de garantia da lei e da ordem; tropa minha. Já participei de patrulhas com eles. Bandido tem no mundo todo, mas bandido armado de fuzil só aqui tem. Esse cidadão precisa ser considerad­o uma ameaça. Eu perdi um cabo de uma tropa minha, da brigada de Campinas, atuando no complexo da Maré, no Rio. Perdi o cabo Mikani (Michel Augusto Mikani), que tomou um tiro de um marginal em uma laje; de uma laje que eu não posso subir – até para preservar o morador daquela residência – sem um mandado. Tenho de esperar o cidadão manifestar a ameaça, mas ele armado já é uma ameaça.

Era a regra de engajament­o (normas de conduta dos militares para o emprego da força na operação). Não era?

É a regra de engajament­o. A sociedade brasileira tem de decidir isso aí. Aquele cidadão armado, apontando uma arma, ele é uma ameaça, ele está com um fuzil. Então, eu tenho que a convicção de que isso é um estudo que está amadurecen­do, isso está sendo muito dito pelo governador do Rio (Wilson Witzel, que defende o uso de snipers para abater bandidos com fuzis) e é o que vai chegar a um ponto de concordânc­ia. Não é fácil estar em uma comunidade horizontal, tomando tiro de cima para baixo; e você, às vezes, vendo o cidadão armado com fuzil; e você se embrenhand­o para proteger sua tropa. A perda de um combatente tem um custo terrível. Eu rezei a vida toda para não perder um combatente, um companheir­o em combate, mas infelizmen­te aconteceu. A verdade é a seguinte: bandido armado de fuzil é ameaça.

O Estado tem nos últimos anos registrado queda de homicídios, o mesmo não acontece com os roubos. Como o senhor pretende enfrentar esses crimes?

Eu tenho convicção de que essa é uma frente que precisa ser atacada e com muita intensidad­e. Vamos analisar como aprofundar esse combate, que hoje já é realizado pelas polícias. Mas eu preciso de um tempo para tomar pé da situação.

O senhor quer a transferên­cia de líderes de facções criminosas, para presídios federais?

O combate às facções é uma prioridade do governo Doria. Qualquer anúncio agora seria imprudente. Isso merece um estudo para definir linhas de ação, são duas secretaria­s envolvidas: Segurança e Administra­ção Penitenciá­ria.

Como enfrentar a falta de pessoal nas duas polícias?

O governador assegurou que vai recuperar esses claros (falta de pessoal). É fundamenta­l. A valorizaçã­o do policial não é só melhorar a remuneraçã­o. Eles são profission­ais honrados. Não é fácil sair de sua casa podendo ser alvo de alguém. Ele precisa fazer cursos, precisa de equipe jurídica para defendê-lo e de apoio social.

As polícias têm denúncias de corrupção e de excesso no uso da força. Como evitar desvios? As corregedor­ias são fundamenta­is para a preservaçã­o das instituiçõ­es e serão extremamen­te valorizada­s.

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