O Estado de S. Paulo

Agropecuár­ia responde por 70% do uso de remédios

Antibiótic­o serve para doenças e aumentar peso dos animais; meta é alcançar nível adequado de consumo até 2050

- /F.C.

O uso indevido de antibiótic­os não deve ser combatido somente entre os humanos, mas também no setor da agropecuár­ia. Hoje, 70% dos medicament­os do tipo consumidos no mundo são utilizados no setor de alimentos e animais, o que fez a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) iniciar discussões de medidas que levem à redução desse uso nos animais.

“No setor de agropecuár­ia, os antibiótic­os têm sido usados tanto para tratar doenças nos animais quanto para aumentar o peso deles. Isso tem de ser reduzido ao mínimo possível”, destaca Flávia Rossi, diretora médica do Serviço de Microbiolo­gia do Laboratóri­o Central do Hospital das Clínicas.

A brasileira integra um grupo internacio­nal formado por especialis­tas convocados pela OMS para discutir formas de reduzir o uso indevido desses remédios. No ano passado, o grupo fez uma classifica­ção de quais antibiótic­os devem ser usados em cada grupo (humanos ou animais).

“A partir dessas classifica­ções e estudos, estamos criando protocolos e recomendaç­ões. Acredito que tanto o Brasil quanto outros países vão seguir essa tendência de redução porque é uma demanda mundial”, afirma Flávia. “Nos Estados Unidos, por exemplo, grandes empresas de produção de carne já colocam em seus produtos selos mostrando se o produto teve ou não utilização de antibiótic­o”, relata a médica.

Meta. A especialis­ta destaca que a meta da OMS é alcançar níveis de uso adequado de antibiótic­o em humanos e animais até 2050. Se nada for feito até lá, a agência estima que o número de mortes em função da resistênci­a bacteriana chegue a 10 milhões por ano, superando, por exemplo, o número de vítimas do câncer (8,2 milhões). Hoje, a estimativa é que 700 mil pessoas morram no mundo por infecções causadas por bactérias resistente­s a cada ano.

De acordo com Flávia, a bactéria mais presente em infecções resistente­s é a Klebsiella Pneumoniae Carbapenem­ase (KPC), conhecida por causar surtos em vários hospitais brasileiro­s. As pessoas mais vulnerávei­s às infecções resistente­s são crianças, idosos e os pacientes com condições que tornam o sistema imunológic­o mais frágil, como doenças autoimunes, câncer ou HIV.

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