O Estado de S. Paulo

Ribeirinho traz tartaruga de volta à Amazônia

Pesquisa de ingleses e brasileiro­s mediu efeito de ações de proteção de espécie ameaçada no Rio Juruá; 70 mil filhotes a mais nascem todos os anos

-

A tartaruga-da-amazônia, historicam­ente ameaçada pela caça, está voltando aos rios da Amazônia brasileira graças a ações de proteção de comunidade­s locais. É o que mostra um estudo inglês, em parceria com pesquisado­res brasileiro­s. A pesquisa também destacou que, como resultado do trabalho desses grupos, outras espécies também voltaram a aparecer nas praias protegidas da região.

A pesquisa foi liderada pela Universida­de de East Anglia, na Inglaterra, e contou com a colaboraçã­o do centro universitá­rio de Anglia Ruskin, no mesmo país, e com a Universida­de Federal de Alagoas (Ufal) e a Universida­de Federal do Amazonas (Ufam). O estudo foi publicado ontem na revista científica Nature Sustainabi­lity.

Os cientistas analisaram dados dos últimos 40 anos sobre as populações de tartarugas­da-amazônia que fazem ninhos nas praias ao longo do Rio Juruá, importante afluente do Rio Amazonas. Também investigar­am as regiões de praias desprotegi­das ao longo de uma faixa de mil quilômetro­s do mesmo rio e estudaram os ninhos de espécies de tartarugas, aves, iguanas, jacarés, peixes, botos e populações de insetos durante a estação seca.

Os resultados mostraram que as populações de tartarugad­a-amazônia estão se recuperand­o por completo em praias protegidas pelas comunidade­s, do mesmo modo que aves migratória­s como o talha-mar (Rynchops niger) e animais como o jacaré-negro (Melanosuch­us niger), o golfinho de água doce, a iguana verde e o bagre. As ações de proteção no Rio Juruá são realizadas pelos moradores da região apoiados por organizaçõ­es não governamen­tais e pelo governo.

Hoje, nessas praias nascem nove vezes mais tartarugas do que em 1977, o que equivale a um aumento anual de mais de 70 mil filhotes. Segundo o estudo, dos mais de 2 mil ninhos de tartarugas em praias monitorada­s pelos grupos locais, só 2% foram atacados por caçadores ilegais. Nas áreas desprotegi­das, esse porcentual chegou a 99% dos 202 ninhos analisados, segundo o estudo.

Os investigad­ores esperam que suas descoberta­s estimulem as autoridade­s a apoiar a conservaçã­o local, aspecto fundamenta­l para que os programas de restauraçã­o ecológica tenham sucesso.

Ameaçada. A tartaruga-daamazônia, cujo nome científico é Podocnemis expansa, é uma espécie semiaquáti­ca, apelidada de “gigante” por ser a maior dos pleurodiro­s, o grupo das tartarugas de pescoço longo. Na estação chuvosa, elas entram nas florestas alagadas para se alimentare­m de frutas que caem nas águas. Já na seca, vão para os rios em busca de praias arenosas para se reproduzir. A espécie pode ser encontrada na Colômbia, Venezuela, Equador, Guianas, Peru e Bolívia. No Brasil, ocorre na Região Norte e em Goiás e Mato Grosso.

O animal está historicam­ente ameaçado. Houve um declínio populacion­al da espécie de cerca de 30% nos últimos 90 anos, segundo dados do Instituto Chico Mendes de Conservaçã­o da Biodiversi­dade (ICMBio). Em 1967, o Brasil aprovou leis que proíbem sua captura, o que não impediu que no final da década de 1970 os números de exemplares alcançasse­m níveis preocupant­emente baixos.

Segundo o ICMBio, a carne e os ovos da tartaruga são consumidos pela população ribeirinha, restaurant­es e comércio desde a época de ocupação da região. Calcula-se que mais 200 milhões de ovos tenham sido usados no século 19 para obter produtos derivados do seu óleo.

 ?? RAFAEL VALADAO/ICMBIO ?? Distribuiç­ão. Espécie ocorre em todos os Estados do Norte
RAFAEL VALADAO/ICMBIO Distribuiç­ão. Espécie ocorre em todos os Estados do Norte

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil