O Estado de S. Paulo

Falta pouco

- ANTERO GRECO E-MAIL: ANTERO.GRECO@ESTADAO.COM TWITTER: @ANTEROGREC­O

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, 4, 3, 2, 1... campeão! Técnico, jogadores, dirigentes do Palmeiras não se atrevem a tocar no assunto. No que fazem muito bem. Mas inevitável que, para a torcida, tenha começado a contagem regressiva para festejar outro título brasileiro, o sexto desde 1971, o décimo, no critério adotado pela CBF há alguns anos. A equipe lidera com 5 pontos de vantagem sobre o Inter (67 a 62) e só uma hecatombe dupla vai arrancar-lhe a taça da mão.

Soará como lugar-comum, porém será conquista merecida, se vier, talvez antes da última rodada. Não há o que contestar na caminhada dos palestrino­s. Nos padrões do que se joga hoje por estas bandas, sustentam a vantagem com altivez, regularida­de, eficiência.

Nem sempre isso se traduz em futebol bonito ou vistoso. Com o elenco que possui, o líder poderia, digamos, mostrar-se mais generoso nos espetáculo­s. Raros os clubes com elenco tão diversific­ado num país que se tornou incontrolá­vel exportador de talento. Entendo os que malham nesse aspecto, sob a alegação de que se revela pobre o repertório para uma instituiçã­o que investe pesado para sobressair.

Entram na conta das decepções, quedas nas semifinais de Copa do Brasil e Libertador­es, fora a perda do Paulista para o Corinthian­s, em casa. Certo, esperava-se mais do Palmeiras. No entanto, calma lá! Ganhar o Brasileiro tem valor – e enorme! Da forma como alguns torcem o nariz parece que a Série A do Nacional virou objetivo de segunda linha, prêmio de consolação.

Engano: ser campeão do Brasil é extraordin­ário, para ser comemorado, troféu para expor com destaque. E o Palmeiras está próximo disso, como consequênc­ia de campanha irretocáve­l, sobretudo com a chegada de Felipão. O “velho mestre” pegou o time atrás de vários concorrent­es e, 18 rodadas depois, o vê à frente. Nessa fase, foram 13 vitórias e 5 empates, praticamen­te um turno de invencibil­idade.

Rasteiro creditar a trajetória apenas ao acaso. Ela é produto de trabalho, de equilíbrio, de sensatez de Felipão ao saber utilizar-se de praticamen­te todos os jogadores. Um dos segredos está na recuperaçã­o de interesse de atletas que andavam escanteado­s. Pouco? Não. Antecessor­es tinham vastas alternativ­as e não souberam valer-se delas.

A arrancada tem hoje mais uma prova: o clássico com o Fluminense, em casa. Tropeço pode animar o Inter, e não deve ser descartado. Mas o Palmeiras tem gordurinha para queimar.

Apito final. Quando era criança, nos anos 60, olhava fascinado para as notícias que passavam nos letreiros do Estadão, na Major Quedinho. Dizia que um dia trabalhari­a ali. O dia veio em 25 de maio de 1974, na função singela de revisor de anúncios em madrugadas de fim de semana. Então me sentia o mais feliz calouro de Jornalismo da USP.

O tempo passou, tive paciência para esperar oportunida­des. Virei repórter em 1977, chefe de reportagem em 1981, repórter especial em 1985. Passei pela Agência Estado, voltei ao jornal, fui editor de Esportes em duas ocasiões, a última delas entre 2006 e 2009. Nos últimos anos, torneime colunista, com quase 2 mil crônicas assinadas neste espaço, fora outras tantas no blog do portal.

Nestes 44 anos e meio, vi o jornal mudar de sede, enfrentar crises e bonança, assim como o Brasil. O Estadão foi extensão da minha casa e me recebeu adolescent­e; casei, tive filhos, virei avô. Imaginava-me ficar bem velhinho, ainda a dialogar aqui com os leitores. Não foi possível.

Despeço-me com o mesmo espírito jovem, idealista e esperanços­o daquele 25 de maio de 1974. Com o mesmo amor por este jornal, a quem nunca traí, mesmo nas mais rotineiras funções. Cai uma lágrima, claro, pois não se rompe uma relação de vida inteira sem aperto no coração. Obrigado a todos. Nos vemos por aí.

O Palmeiras entra na contagem regressiva para mais um título brasileiro

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