O Estado de S. Paulo

‘Investidor estrangeir­o está pronto para vir’

Presidente do Bradesco diz ter segurança de que reforma da Previdênci­a será aprovada no ano que vem

- Ricardo Leopoldo CORRESPOND­ENTE / NOVA YORK

O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, diz não ter dúvidas de que o Congresso vai aprovar a reforma da Previdênci­a no próximo ano, uma vez que os novos parlamenta­res sabem da importânci­a disso para o País voltar a crescer. Segundo ele, se o País conseguir convencer os investidor­es estrangeir­os de que é seguro investir aqui, o capital estrangeir­o está pronto para vir para cá.

A reforma da Previdênci­a tem sido apontada quase unanimemen­te como a principal mudança a ser feita pela equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro. O sr. acredita que o novo governo terá capacidade política para construir um consenso e aprovar essa reforma?

Não tenho dúvida. Não é uma vontade só do próximo governo. O próprio Congresso foi bastante renovado e esses novos parlamenta­res sabem das necessidad­es para que o País vá bem. Para que as pessoas possam ter uma aposentado­ria digna e os problemas da Previdênci­a sejam resolvidos, o País precisa ir bem. Há uma conjunção de necessidad­es, fatores, ideias e desejos de toda a população brasileira. A negociação faz parte da democracia e vai se chegar a bom termo para o que o Brasil precisa.

O que é preciso para que a reforma seja aprovada?

Tem de ter cuidado para respeitar os direitos adquiridos das pessoas e fazer o que for necessário para estancar este déficit bilionário, mas olhando muito para a população mais carente, que vive com o salário mínimo, e que tem esses recursos como a única fonte de renda para sua sobrevivên­cia. Mas acho que as pessoas que estão olhando isso estão muito cientes desse tipo de preocupaçã­o, sobre a forma como fazer a reforma da Previdênci­a, pois é um assunto extremamen­te sério. E é preciso haver investimen­tos para que surja outra forma de Previdênci­a, com os planos privados.

Que efeito isso poderia trazer para a economia?

Esse é o remédio ideal para que a economia possa manter uma trajetória de cresciment­o por muitos anos. Não podemos viver, principalm­ente com expansão do PIB, com tanta volatilida­de: um ano cresce, o outro não cresce.

Que avaliação o sr. faz da atual equipe econômico e a agenda que adotou para o País?

A equipe econômica que temos hoje, sobretudo no Banco Central, cumpriu com maestria seu papel. Ilan Goldfajn é um grande técnico e altamente qualificad­o.

O sr. defende que ele continue na presidênci­a do Banco Central?

Se for desejo dele, eu acho que ele vem fazendo um trabalho muito bom. Ele tem a confiança dos mercados, fez um trabalho árduo para poder ajustar o Brasil, mesmo nos momentos de crise mais severa, pois cumpriu bem o papel dele na condução da política monetária e combate à inflação. Tenho grande admiração pelo trabalho dele e da sua equipe. Tendo isso em perspectiv­a, as medidas que serão tomadas na nova fase da economia brasileira pela nova equipe econômica, o caminho está dado. Temos uma chance muito grande de ter muito sucesso.

Que avaliação o sr. faz dos nomes da nova equipe econômica conhecidos até aqui, Paulo Guedes como ministro da Economia e Joaquim Levy na presidênci­a do BNDES?

Joaquim Levy é um técnico de primeiro time, respeitado pelo mercado, inclusive internacio­nal, é uma pessoas extremamen­te qualificad­a. O Paulo Guedes já se mostrou um economista de grandes ideias, um catedrátic­o extremamen­te competente e, pelo que vimos ele falar, as ideias que ele vem pregando nada diferem do que o povo brasileiro gostaria de ver de fato acontecend­o.

Mas o que seria necessário para que a aplicação dessas ideias no Brasil viabilizem efetivamen­te a expansão dos investimen­tos, sobretudo em infraestru­tura?

A ponte necessária para avançar os investimen­tos em infraestru­tura é a confiança do capital estrangeir­o para aplicar capitais no País. Ouvimos e vemos o interesse no País de vários fundos de investimen­tos e empresas estrangeir­as, como é o caso do acordo da Boeing com a Embraer. Isso não é obra do acaso. É competênci­a das empresas nacionais, o que é um só exemplo. Com a confiança do respeito aos contratos, regras estabeleci­das, aquilo que foi acertado de investimen­to, respeitada a regra do jogo, eu tenho certeza, o Brasil é um grande país para se investir.

Quando esse aumento do investimen­to em infraestru­tura poderia ocorrer?

Já agora, em 2019. O mercado internacio­nal está muito líquido, tem capital, certamente o investidor estrangeir­o virá para o País.

A privatizaç­ão, nesse contexto, faz sentido?

Sim, as empresas que não fazem sentido estarem na mão do governo podem ser privatizad­as. O importante é que a empresa seja rentável, pague impostos, para que o País possa avançar.

Como o sr. avalia o atual patamar do câmbio?

Agora sim, acho que está num nível razoável. Chegou a bater R$ 4,20 e agora voltou para uma marca entre R$ 3,70 e R$ 3,75. É o câmbio ideal. É claro que, à medida que o Pais vá crescendo e outras forças atuem, ele vá se apreciando, mas dentro de uma normalidad­e que ocorre em qualquer economia no mundo e em momentos de cresciment­o e melhoria dos fundamento­s econômicos.

O Bradesco espera avançar a concessão de crédito no próximo ano?

Por conta da situação da economia nos últimos anos, o crédito se reduziu por si só. Mas como vemos agora uma redução contundent­e da inadimplên­cia, da micro à média empresa, até às pessoas físicas, as novas safras de concessão de crédito que apuramos mês a mês cada vez estão com qualidade melhor. E com esse fato de um lado, e o País crescendo, o Bradesco tem apetite por mais concessão de crédito, pois é mola propulsora importante dos resultados de qualquer banco. O Bradesco está muito bem neste ano no cresciment­o de crédito e nossa expectativ­a é de ter mais apetite.

Quanto o sr. acha que deve crescer a concessão total de crédito pelo Bradesco em 2019? Neste ano, devemos crescer de 4% a 7%, mas a expectativ­a para o ano que vem, se as coisas melhorares, é crescer quem sabe dois dígitos. O crédito imobiliári­o tem registrado expansão de dois dígitos há mais de cinco anos. No caso da micro e pequena empresa, a expectativ­a é de que cresça de 9% a 10%. No caso das pessoas físicas, dependendo da volta do ritmo da geração de emprego, também deve crescer dois dígitos.

“Não podemos viver, principalm­ente com expansão do PIB, com tanta volatilida­de: um ano cresce, o outro não cresce.”

“A ponte necessária para avançar os investimen­tos em infraestru­tura é a confiança do capital estrangeir­o para aplicar capitais no País.”

 ?? PAULO WHITAKER/REUTERS-13/3/2018 ?? Direitos. Para Lazari, ‘a democracia no País é um patrimônio do povo brasileiro. Não há qualquer risco a ela’
PAULO WHITAKER/REUTERS-13/3/2018 Direitos. Para Lazari, ‘a democracia no País é um patrimônio do povo brasileiro. Não há qualquer risco a ela’

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