O Estado de S. Paulo

Qual é o futuro do trabalho?

- camilafara­ni CONTATO@CAMILAFARA­NI.COM.BR

“Líderes não serão substituíd­os pela inteligênc­ia artificial. Mas quem não utilizála em seu trabalho, será.” A frase é de Erik Brynjolfss­on, professor do MIT que há décadas estuda a correlação entre tecnologia, produtivid­ade e trabalho. Há poucos dias, o estudioso reuniu em Boston centenas de executivos para discutir como a inteligênc­ia artificial está transforma­ndo as empresas e seus processos, e quais os desafios para o mercado de trabalho.

O cerne da discussão foi exatamente este: quais adaptações teremos de passar para aproveitar o melhor dessa nova onda tecnológic­a. Por muito tempo, décadas atrás, povoou o imaginário coletivo a ideia de que em pleno século 21, carros seriam voadores e os robôs estariam por toda parte, como mostravam Os Jetsons. Nada disso aconteceu, mas o que começa a ser visto na prática é a transforma­ção do escopo do trabalhado­r.

Funções puramente operaciona­is ou mecânicas começam a ser repensadas e automatiza­das para atender à orientação estratégic­a das empresas. O Walmart traz um exemplo crítico e está pivotando algumas das funções exclusivas de lojas de seus colaborado­res para atender às necessidad­es da nova forma de consumir de seus clientes. Becky Schmitt, da área global de pessoas da empresa, revelou que a crescente substituiç­ão dos operadores de caixa pelo modelo de autochecko­ut deslocou muitos desses funcionári­os para a função de “personal shopper”, que é justamente o ponto de contato da rede entre os clientes que compram online e retiram na loja. Segundo Becky, mais de 25 mil postos de trabalho como esse já foram criados, à medida que o modelo de venda remota começa a se populariza­r.

Por outro lado, a automação de algumas dessas funções não será indolor. Ela acontecerá por fases, segundo a consultori­a PriceWater­houseCoope­rs (PwC), sendo que neste primeiro momento, cerca de 3% dos postos de trabalho serão afetados. As segunda e terceira ondas serão mais profundas, levando até 30% de automação das funções até a metade da década de 2030. O fenômeno será visto em praticamen­te todos os setores, mas os maiores afetados pela automação serão profission­ais com baixo nível educaciona­l: 4 em cada 10 deles perderão suas posições para máquinas.

Nesse contexto, líderes de negócio estão cada vez mais pressionad­os a tomar medidas rápidas para responder a essas novas necessidad­es de negócio e, para isso, precisam ter ferramenta­s capazes de trazer informaçõe­s que possam orientar decisões de forma rápida e assertiva. É nesse contexto que as ferramenta­s de inteligênc­ia artificial se mostram críticas aliadas, de forma a complement­ar as competênci­as humanas.

Passamos, assim, pela reinvenção da forma de trabalhar. É mandatório que estejamos mais estratégic­os do que nunca, apoiados nos dados e usando a tecnologia a nosso favor. Como trabalhado­res, precisamos nos capacitar para aproveitar o melhor dessa onda. Assim como disse Brynjolfss­on em seu painel no MIT, não existe nenhuma garantia de que todas as empresas serão beneficiad­as pela inteligênc­ia artificial, mas aquelas que saírem na frente estarão mais perto de abocanhar uma fatia significat­iva dos mais de US$ 15 trilhões adicionado­s ao PIB mundial em produtivid­ade. Sem dúvida, um movimento sem volta.

É INVESTIDOR­A ANJO E PRESIDENTE DA BOUTIQUE DE INVESTIMEN­TOS G2 CAPITAL

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