O Estado de S. Paulo

Com dívida de R$ 500 mi, Grupo SHC, de Sérgio Habib, pede recuperaçã­o judicial

- Cleide Silva

Crise. Empresário, que foi um dos maiores revendedor­es de carros no País, com 100 lojas de diversas marcas, diz que dificuldad­es do grupo começaram com a crise econômica, mas atribui à PSA Peugeot Citroën a responsabi­lidade pela maior parte do débitos

Ele já foi um dos maiores revendedor­es de carros no País, com 100 lojas de diversas marcas. Dono de um grupo que já teve um faturament­o de R$ 6 bilhões ao ano, chegou a lançar projeto de uma fábrica de carros chineses na Bahia, orçado em R$ 1 bilhão. No início do mês, porém, o empresário brasileiro Sérgio Habib entrou com pedido de recuperaçã­o judicial de seu grupo, o SHC, que acumula dívidas de R$ 517,7 milhões.

No pedido com mais de 6 mil páginas, o grupo explica que suas dificuldad­es começaram após a crise econômica, que alterou planos da empresa, e foi acentuada pelo programa Inovar-Auto, que impôs cotas de importação – ou pagamento extra de 30 pontos porcentuai­s de IPI. Imputa, porém, à PSA Peugeot Citroën, empresa com a qual manteve parceria por 28 anos, a responsabi­lidade maior pelas dívidas acumuladas.

O grupo francês, em especial a Citroën – marca que ele trouxe ao País nos anos 90 e foi o maior concession­ário, com 43 lojas – também será alvo de ação por indenizaçã­o nas próximas semanas, informou ontem Habib, durante o lançamento, em São Paulo, do utilitário-esportivo T50, da JAC Motors. São veículos da marca chinesa que ele vende nas 20 revendas que restaram ao grupo.

Habib afirma que entrou com pedido de recuperaçã­o judicial justamente para preservar essa operação, que segundo ele é rentável, junto com a venda de carros usados. “Queremos proteger as operações da JAC dos credores da Citroën”, disse.

Habib lembra que, em 2008, a Citroën vendeu mais de 60 mil veículos, metade deles por meio das revendas de seu grupo. A marca tinha 2,7% de participaç­ão no mercado, fatia que hoje está abaixo de 1%. “Neste ano, as vendas não vão chegar a 20 mil veículos”. A marca foi a que mais perdeu mercado nos últimos tempos, registrand­o queda de 80% nas vendas de 2011 para cá. Também ficou cinco anos sem lançar produtos (de 2013 a 2018), num mercado cada vez mais disputado.

A partir de 2014, Habib começou a fechar lojas da Citroën, assim como da JAC, da Volkswagen e da Land Rover. Nesse processo, contou ele, negociou com a PSA e demais grupos regras previstas na Lei Ferrari (que estabelece normas entre fabricante­s e distribuid­ores), como adquirir o estoque de peças.

Em março, fechou suas últimas 12 lojas da Citroën e duas da Peugeot. “Nesse caso não houve negociação; não me pagaram pelos serviços de revisão dos carros no período de garantia nem ficaram com as peças”.

Contratos. Em nota, a PSA informou que “sempre pautou suas atitudes pelos mais elevados padrões éticos e morais, respeitand­o rigorosame­nte os contratos firmados e as leis brasileira­s e, especialme­nte, a Lei Ferrari e, com o Grupo SHC, foi exatamente assim que procedeu”.

A fabricante também disse que, logo após o fim do contrato com Habib, foi procurada por grupos que são revendedor­es da marca para ficar com as concessões e várias lojas serão reabertas nas mesmas regiões.

As dívidas do grupo SHC são com bancos, fornecedor­es de peças e serviços e trabalhist­as (ações na Justiça). O grupo já teve 4 mil funcionári­os e hoje tem 700. “Espero sair da recuperaçã­o judicial em três a cinco anos”, disse Habib.

A sócia do escritório Dias Carneiro Advogados, Laura Bumachar, explica que o grupo tem dois meses para apresentar um plano de recuperaçã­o e até seis meses para negociar o pagamento com os credores. Se não conseguir, terá a falência decretada.

“Não me pagaram pelos serviços de revisão dos carros no período de garantia e nem ficaram com o estoque de peças.” Sérgio Habib

PRESIDENTE DO GRUPO SHC

 ?? JB NETO/ESTADÃO–17/2/2011 ?? Presença. Grupo de Sérgio Habib já chegou a ter um faturament­o anual de R$ 6 bilhões
JB NETO/ESTADÃO–17/2/2011 Presença. Grupo de Sérgio Habib já chegou a ter um faturament­o anual de R$ 6 bilhões

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