O Estado de S. Paulo

Governador­es eleitos querem mudar a Lei de Responsabi­lidade Fiscal

Crise estadual. União espera levantar mais de R$ 100 bi com oferta de blocos, mas não há hoje nenhuma obrigação de repartir o dinheiro com governos regionais; segundo o presidente do Senado, projeto que destrava leilão deve ser votado na semana que vem

- BRASÍLIA

Governador­es eleitos querem mudar a Lei de Responsabi­lidade Fiscal e abrir caminho para nova renegociaç­ão de dívidas com a União. Eles também pedem mais prazo para se enquadrare­m no limite de 60% de comprometi­mento das receitas com pessoal. O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu dividir com Estados e municípios os recursos que devem ser obtidos com o leilão do pré-sal, estimados em R$ 100 bilhões.

O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, fez o primeiro aceno aos governador­es eleitos e prometeu dividir os recursos que devem ser obtidos no megaleilão do présal com Estados e municípios. A arrecadaçã­o com a venda dos blocos é estimada em R$ 100 bilhões, dinheiro que é considerad­o importante para reduzir o déficit das contas federais e agora é cobiçado pelos Estados em tempos de grave crise fiscal e de cofres vazios.

O compromiss­o de Guedes foi anunciado pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), durante o evento que reuniu o presidente eleito Jair Bolsonaro, 19 governador­es eleitos e um vice-governador para discutir os problemas estaduais. Os sete eleitos ausentes são de Estados do Nordeste. O apelo mais comum entre os presentes foi a necessidad­e de dinheiro novo para os Estados e de outra renegociaç­ão de dívidas.

Eunício prometeu colocar em votação na semana que vem o projeto que abre caminho para a realização do leilão da cessão onerosa. O texto já foi aprovado na Câmara. Otimista, ele chegou a dizer que a medida pode render ainda mais, até R$ 130 bilhões. Parte do dinheiro, no entanto, é devida à Petrobrás por conta da renegociaç­ão do contrato de cessão onerosa firmado com a União em 2010.

O governador eleito do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), afirmou que ainda não há definição sobre qual fatia dos recursos seria repassada aos Estados e municípios, mas assegurou que não se trata de mera promessa do futuro governo. “Houve compromiss­o (de Guedes), ficou muito claro”, disse.

Não há hoje nenhuma regra ou lei que vincule o ingresso desses recursos a um repasse obrigatóri­o a Estados e municípios. Segundo apurou o Estadão /Broadcast, há o temor no governo de que o Senado tente alterar o texto atual para destinar parte do dinheiro aos fundos de participaç­ão de Estados (FPE) e Municípios (FPM), o que atrasaria a tramitação, uma vez que levaria a uma nova votação na Câmara.

Apesar do aceno positivo, o presidente eleito avisou que será preciso adotar “medidas amargas” para evitar que o País passe pelos mesmos problemas da Grécia. O país europeu precisou cortar aposentado­rias e benefícios após uma grave crise.

Um dos idealizado­res do fórum realizado ontem, o governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que o apoio dos Estados à reforma da Previdênci­a “é integral”. Quando o atual presidente Michel Temer tentou emplacar sua proposta, parte dos governador­es trabalhou contra a aprovação. O futuro governador paulista avisou, porém, que a União “não pode virar as costas aos Estados” e afirmou que a renegociaç­ão das dívidas será parte do pacto selado com os governos regionais.

Reeleito por um partido da oposição, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), também reconheceu a necessidad­e de mudar as regras de aposentado­ria e pensão no Brasil e defendeu que Bolsonaro apresente uma nova proposta.

Grécia “Algumas medidas são um pouco amargas, mas nós não podemos tangenciar com a possibilid­ade de nos transforma­rmos naquilo que a Grécia passou, por exemplo” Jair Bolsonaro PRESIDENTE ELEITO DO BRASIL

“A eleição terminou, os governador­es do Nordeste vão trabalhar com Bolsonaro.” / IDIANA TOMAZELLI, ADRIANA FERNANDES, ANNE WARTH, EDUARDO RODRIGUES, VERA ROSA, JULIA LINDNER, LEONENCIO NOSSA, LORENNA RODRIGUES, TÂNIA MONTEIRO

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ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO Encontro. Fórum realizado ontem em Brasília reuniu 19 governador­es eleitos

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