Colômbia investiga envenenamento em caso Odebrecht
Alejandro Pizano Ponce de León bebeu água que estava no quarto do pai, que havia denunciado irregularidades e morrido de enfarte três dias antes
A Procuradoria da Colômbia vai investigar a morte de Jorge Enrique Pizano, engenheiro que apontou pagamentos suspeitos em obra ligada à Odebrecht. Inicialmente, acreditava-se que ele tinha sofrido um enfarte, mas o caso chamou a atenção depois que seu filho morreu envenenado, após tomar água na casa do pai.
O engenheiro colombiano Jorge Enrique Pizano deixou a um canal de TV entrevistas e documentos sobre pagamentos suspeitos na construção de uma estrada ligada à Odebrecht, com a condição de que só fossem divulgados se ele morresse ou deixasse o país. As acusações foram ao ar na segunda-feira, quatro dias após a morte dele, atribuída a um enfarte. O envenenamento por cianureto do filho dele, após beber água em uma garrafa na casa do pai na terça-feira, abriu uma investigação sobre as duas mortes.
O arquiteto Alejandro Pizano Ponce de León, de 31 anos, deixou mulher e filho na Espanha para acompanhar o funeral do pai. Segundo a vice-promotora-geral da Colômbia, María Paulina Riveros, o cianureto de potássio estava dentro de uma garrafa de água com gás em um criado-mudo do quarto do pai da vítima. Alejandro, que estava acompanhado de uma irmã, bebeu o líquido e, minutos depois, apresentou uma forte dor estomacal. Morreu a caminho do hospital.
O diretor do Instituto de Medicina Legal e Ciência Forense, Carlos Valdés, afirmou que a causa da morte de Jorge Enrique Pizano também será analisada pelas autoridades. Ele foi cremado, mas amostras de tecido serão analisadas. A morte dos dois ocorre semanas depois de um acidente de carro no Chile ter ferido gravemente Amparo Cerón Ojeda, procuradora que investiga o caso.
Segundo o senador opositor Gustavo Petro, Pizano acreditava que o tentariam matar por causa das denúncias e buscava colaborar com a Justiça dos EUA.
As duas mortes recolocaram o escândalo da Odebrecht no centro do debate político colombiano apenas 100 dias depois da posse do presidente Iván Duque. O caso provocou pedidos de renúncia no Congresso do procurador-geral Néstor Humberto Martínez, no cargo desde 2016, que se declarou impedido de investigar denúncias relativas à construtora brasileira.
O procurador atuou como advogado da empresa Corficolombiana, sócia minoritária da Odebrecht na construção da chamada Rota do Sol, estrada que liga o centro da Colômbia ao Caribe, e subsidiária do Grupo Aval, uma das maiores empresas da Colômbia.
Como controlador contratado pela Corficolombiana, Pizano relatou a Martínez pagamentos suspeitos em contratos feitos na Colômbia e no exterior. Segundo ele, o caso não foi levado adiante dentro da empresa. Ou seja, o atual procurador decidiu não investigar as denúncias sobre um contrato de US$ 2,5 bilhões. Na entrevista divulgada após sua morte, Pizano, que sofria de câncer linfático, disse ter sido traído por Martínez.
O procurador se defendeu. Disse que recebeu Pizano “como amigo” e encaminhou os documentos apresentados por ele a seus superiores, mas o próprio Pizano disse na época que não sabia com certeza que os pagamentos se tratavam de propina.
“Perguntei a Pizano se podia deduzir que havia propinas e ele me respondeu que não tinha certeza. Uma das hipóteses que ele contemplava era que se tratava de propinas pagas a paramilitares. A dúvida explica a razão pela qual ele não apresentou nenhuma denúncia às autoridades”, afirmou o procurador-geral da Colômbia. Martínez disse também que só soube que as descobertas de Pizano tinham ligação com as propinas pagas pela Odebrecht em 2017.