O Estado de S. Paulo

Vem aí o novo Itamaraty, ‘trumpista’ e ‘bolsonaris­ta’

- Eliane Cantanhêde

Opresident­e eleito, Jair Bolsonaro, deu muitas voltas até chegar ao ponto zero e anunciar quem ele queria desde o início para Relações Exteriores: o diplomata “trumpista” e “bolsonaris­ta” Ernesto Araújo, que é “júnior” (nunca exerceu a função de embaixador), mas encantou Bolsonaro como intelectua­l chegado aos clássicos, contrário ao globalismo, pró-Ocidente e fascinado por Donald Trump.

A principal recomendaç­ão do futuro presidente ao seu chanceler é promover a “regeneraçã­o” do Itamaraty. Leiase: eliminar os vestígios, programas e diplomatas da era PT, particular­mente ligados ao ministro dos oito anos do ex-presidente Lula, Celso Amorim. “Fazer uma limpeza, mudar tudo”, resume-se na equipe de Bolsonaro.

Na prática, porém, Araújo terá uma tarefa bem mais imediata: apagar incêndios criados por manifestaç­ões tão leigas quanto perigosas do futuro chefe sobre China, Egito, Palestina e mundo árabe, assim como assustou o Mercosul e a União Europeia. Sair da ONU? Do Acordo de Paris? Mudar a embaixada em Israel para Jerusalém?

No Itamaraty, o clima é de apreensão. Na área militar, de comemoraçã­o. Num, o temor de uma caça às bruxas e um novo viés ideológico às avessas. Na outra, a certeza de que o PT será varrido e a política externa voltará à sua tradição de pragmatism­o e respeito aos interesses nacionais.

Bolsonaro demorou a anunciar Araújo porque testou uma extensa lista de candidatos ao Itamaraty e, além de serem bombardead­os, não fariam dobradinha dos sonhos: presidente e chanceler anti-PT e pró-Trump com a mesma intensidad­e. Isso diz tudo da política externa na nova era.

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