O Estado de S. Paulo

May garante aval de ministros a plano para o Brexit, mas prevê ‘dias duros’

Saída. Projeto, que agora será encaminhad­o ao Parlamento britânico, onde deve enfrentar dificuldad­es, prevê a manutenção do livre fluxo de bens e pessoas na fronteira entre as duas Irlandas até o fim de 2020, quando deve ser substituíd­o por um novo acordo

- LONDRES

Em uma reunião de mais de cinco horas, o gabinete de ministros da premiê britânica, Theresa May, chegou ontem a um consenso para apoiar o acordo prévio para a saída do Reino Unido da União Europeia. A ala do Partido Conservado­r favorável a uma ruptura mais radical com o bloco criticou o pacto e pediu aos deputados da legenda que não o aprovem na Câmara dos Comuns. Ao menos 11 dos 29 ministros expressara­m ressalvas ao acordo, mas May conseguiu um consenso pela aprovação.

O esboço do projeto foi divulgado depois da reunião. Ele prevê a manutenção do livre fluxo de bens e pessoas na fronteira entre as duas Irlandas até o fim de 2020, quando deve ser substituíd­o por um novo acordo negociado entre as partes. Não haverá, no entanto, nenhuma fronteira física na região – pacificada desde os Acordos da SextaFeira Santa, em 1998. Caso não haja um acordo, será criada uma zona aduaneira na região, o chamado “backdrop”.

O acordo também reduz o acesso atual do poderoso setor financeiro britânico aos mercados continenta­is e o coloca no mesmo nível de empresas americanas e japonesas. Regras alfandegár­ias que atualmente unem o Reino Unido à União Europeia serão mantidas durante o período de transição, que vai até o fim de 2020, e o acesso a mercados entre o arquipélag­o e o continente terá como base o princípio da equivalênc­ia. A libra esterlina subiu em comparação ao dólar após o anúncio.

Os direitos de cidadãos britânicos e europeus vivendo dos dois lados do Canal da Mancha foram mantidos, mas depois do Brexit o fluxo livre de pessoas será mantido para viagens de curto prazo.

Segundo May, o acordo foi o melhor possível e o debate entre os ministros foi apaixonado e longo. O pacto, diz ela, atende às principais reivindica­ções dos britânicos sobre o Brexit, envolvendo principalm­ente o controle das leis, fronteiras e recursos do país.

“Acredito firmemente que o

acordo prévio foi o melhor que conseguimo­s negociar e coube ao gabinete decidir prosseguir com as negociaçõe­s”, disse May. “As escolhas diante de nós eram bem difíceis, particular­mente em relação à fronteira da Irlanda do Norte, mas essa foi a decisão coletiva do gabinete.”

May ainda disse que um passo decisivo foi dado e cabe agora ao governo finalizar o acordo nos próximos dias. “A escolha diante de nós é bem clara: ou este acordo, que nos dá o controle sobre nosso dinheiro, leis e fronteiras, acaba com o trânsito livre de fronteiras, protege empregos e a nossa segurança,

ou nós saímos sem acordo, ou nós saímos sem Brexit”, disse.

Agora, o pacto deve ser apresentad­o ao Parlamento, que deve ratificá-lo. Os deputados da Câmara dos Comuns devem sabatinar May hoje sobre o acordo. O debate legislativ­o deve ser recheado de dificuldad­es, em meio a críticas dentro do Partido Conservado­r ao pacto.

Jacob Rees-Mogg, que lidera os conservado­res eurocético­s, divulgou uma carta aos membros do partido pedindo que rechacem o acordo. O Partido Nacional Escocês emitiu nota dizendo que o pacto é ruim para os escoceses.

Antes de o texto do projeto ser divulgado, o Partido Trabalhist­a e o Partido Liberal-Democrata, que se opõem a May, também indicaram que votariam contra o acordo.

Os unionistas do DUP, que governam com os conservado­res, disseram antes do fim da reunião que não aceitariam um acordo que trata a Irlanda do Norte de maneira diferente do restante do Reino Unido.

A imprensa britânica também especulou sobre possíveis deserções no gabinete da premiê. Pelo menos uma ministra poderia deixar o cargo, segundo a BBC.

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