DIVÓRCIO POLÍTICO AMEAÇA BUQUÊS
Flores enviadas da Holanda serão tarifadas
Yme Pasma enfrenta um sério problema logístico criado pelo longo e tedioso processo de saída do Reino Unido da União Europeia. Pasma é o chefe de operações da Royal FloraHolland, um mercado no qual são vendidas anualmente 12 bilhões de flores e plantas – mais de um terço do comércio mundial do gênero.
No interior dos enormes armazéns da cidade de Aalsmeer, a 13 km de Amsterdã, a Royal FloraHolland opera uma central de leilões e de distribuição. Uma frota de empilhadeiras transporta feixes de rosas, caixas de amarílis e folhagens diversas para docas de carga. Dali, as flores – algumas cultivadas na Holanda, outras na África, Ásia e América Latina – saem de caminhão para serem despachadas para consumidores do mundo inteiro.
Cerca de US$ 1 bilhão dessas flores vai anualmente para o Reino Unido, que ainda faz parte da UE. Flores procedentes da Europa têm entrada livre pela alfândega britânica. Mas, a partir de março, quando está previsto o Brexit, Holanda e Reino Unido devem se tornar mercados separados, divididos por uma nova e importante fronteira.
A menos que as duas partes desse divórcio cheguem a um acordo, os bens que serão transportados através do Canal da Mancha estarão sujeitos a checagens e inspeções sanitárias nas alfândegas. Flores, que hoje têm livre trânsito, podem ficar sujeitas a tarifas.
“Os governos estão prontos a colaborar, mas mesmo assim, para os ajustes serão necessárias centenas de pessoas, que terão de ser treinadas, armazéns para checagem e novos sistemas de computação”, disse Pasma. “Poderá haver grandes congestionamentos na Holanda. Se a mudança começasse amanhã, os problemas seriam enormes.”
Mulheres, em esmagadora maioria, trabalham nas estufas próximas ao Lago Naivasha, a noroeste de Nairóbi. Elas cortam rosas e as reúnem em maços, que são levados de caminhão para o aeroporto e embarcados em jatos para Europa e Oriente Médio. Um fluxo cada vez maior dessas rosas vai diretamente para o Reino Unido, evitando o centro de distribuição na Holanda. Mesmo assim, o Brexit ainda representa uma variável significativa.
A UE tem um acordo comercial com o Quênia que permite a importação de flores livre de tarifas. Mas, após o Brexit, o Reino Unido terá de negociar acordos com o Quênia e outros exportadores. Até que um acordo seja fechado, flores enviadas do Quênia para o Reino Unido incorreriam em tarifas de cerca de 7%, um grande baque para uma indústria que se tornou grande fonte de empregos nessa nação do leste da África.