O Estado de S. Paulo

DIVÓRCIO POLÍTICO AMEAÇA BUQUÊS

Flores enviadas da Holanda serão tarifadas

- / NYT TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

Yme Pasma enfrenta um sério problema logístico criado pelo longo e tedioso processo de saída do Reino Unido da União Europeia. Pasma é o chefe de operações da Royal FloraHolla­nd, um mercado no qual são vendidas anualmente 12 bilhões de flores e plantas – mais de um terço do comércio mundial do gênero.

No interior dos enormes armazéns da cidade de Aalsmeer, a 13 km de Amsterdã, a Royal FloraHolla­nd opera uma central de leilões e de distribuiç­ão. Uma frota de empilhadei­ras transporta feixes de rosas, caixas de amarílis e folhagens diversas para docas de carga. Dali, as flores – algumas cultivadas na Holanda, outras na África, Ásia e América Latina – saem de caminhão para serem despachada­s para consumidor­es do mundo inteiro.

Cerca de US$ 1 bilhão dessas flores vai anualmente para o Reino Unido, que ainda faz parte da UE. Flores procedente­s da Europa têm entrada livre pela alfândega britânica. Mas, a partir de março, quando está previsto o Brexit, Holanda e Reino Unido devem se tornar mercados separados, divididos por uma nova e importante fronteira.

A menos que as duas partes desse divórcio cheguem a um acordo, os bens que serão transporta­dos através do Canal da Mancha estarão sujeitos a checagens e inspeções sanitárias nas alfândegas. Flores, que hoje têm livre trânsito, podem ficar sujeitas a tarifas.

“Os governos estão prontos a colaborar, mas mesmo assim, para os ajustes serão necessária­s centenas de pessoas, que terão de ser treinadas, armazéns para checagem e novos sistemas de computação”, disse Pasma. “Poderá haver grandes congestion­amentos na Holanda. Se a mudança começasse amanhã, os problemas seriam enormes.”

Mulheres, em esmagadora maioria, trabalham nas estufas próximas ao Lago Naivasha, a noroeste de Nairóbi. Elas cortam rosas e as reúnem em maços, que são levados de caminhão para o aeroporto e embarcados em jatos para Europa e Oriente Médio. Um fluxo cada vez maior dessas rosas vai diretament­e para o Reino Unido, evitando o centro de distribuiç­ão na Holanda. Mesmo assim, o Brexit ainda representa uma variável significat­iva.

A UE tem um acordo comercial com o Quênia que permite a importação de flores livre de tarifas. Mas, após o Brexit, o Reino Unido terá de negociar acordos com o Quênia e outros exportador­es. Até que um acordo seja fechado, flores enviadas do Quênia para o Reino Unido incorreria­m em tarifas de cerca de 7%, um grande baque para uma indústria que se tornou grande fonte de empregos nessa nação do leste da África.

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ANDREW URWIN/THE NEW YORK TIMES-2/11/2018 Leilões. Royal FloraHolla­nd é um mercado na Holanda onde são vendidas anualmente 12 bilhões de flores e plantas

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