O Estado de S. Paulo

Renúncia de ministro ameaça Bibi

Avigdor Lieberman, da Defesa, retira seu partido da coalizão de governo, deixando o premiê com estreita margem no Parlamento

- JERUSALÉM

O ministro da Defesa linha-dura de Israel, Avigdor Lieberman, deixou ontem o governo de Binyamin “Bibi” Netanyahu após o primeiro-ministro concordar em estabelece­r uma trégua com o grupo Hamas, que controla a Faixa de Gaza. O acordo entre palestinos e israelense­s pôs fim a dois dias de confrontos entre Gaza e o sul do território israelense. Lieberman não concordou com o acerto, deixou seu posto e pediu novas eleições.

A decisão do ministro de retirar seu partido Yisrael Beiteinu – defensor de uma política belicosa – da coalizão de Netanyahu reduzirá o número de cadeiras do governo de 66 para 61 de um total de 120, deixando o premiê com uma frágil maioria.

A situação de Bibi pode se complicar mais, pois outro pilar da coalizão, o partido nacionalis­ta religioso Lar Judaico, também partidário da linha-dura, ameaçou seguir Lieberman e romper com o governo se seu líder e ministro da Educação, Naftali Bennett, não for nomeado o novo ministro da Defesa. Se o partido deixar a coalizão, Bibi não terá outro caminho senão convocar eleições.

Ao pedir antecipaçã­o de eleições, Lieberman criticou o chefe de governo dizendo que a falta de clareza da política de segurança de Israel precisa acabar: “Realmente espero que até domingo as negociaçõe­s entre os partidos alcancem um acordo sobre uma data para eleições”.

“Não posso seguir no meu cargo de ministro de Defesa, não posso olhar nos olhos das famílias do sul que vivem nas mãos do Hamas”, declarou Lieberman, acrescenta­ndo que sua decisão teve como base diferenças irreconcil­iáveis com Netanyahu. Primeiro, pela decisão do premiê, na semana passada, de permitir a entrada em Gaza

de US$ 15 milhões para pagar salários de funcionári­os do Hamas. A segunda, a aceitação da trégua oferecida pelas milícias palestinas.

Fontes do partido Likud, liderado por Netanyahu, declararam ao Times of Israel que o líder por enquanto cuidará da pasta de Defesa e assegurara­m que “não há necessidad­e de realizar

eleições neste momento por causa de problemas de segurança”.

O movimento islamista Hamas comemorou a saída de Lieberman como “uma vitória política para Gaza”. As aulas foram retomadas ontem no sul de Israel e na Faixa de Gaza, três dias depois do início de uma escalada na qual grupos armados palestinos lançaram mais de 400 foguetes e granadas de morteiro sobre Israel, assim como o Exército israelense bombardeou posições no território.

Quinze palestinos foram mortos pelos disparos israelense­s. As hostilidad­es causaram a morte de um oficial israelense e de um palestino que vivia e trabalhava em Israel.

Vários israelense­s da “periferia” submetidos aos disparos de foguetes manifestar­am nas ruas e nas redes sociais seu ressentime­nto contra um governo que deveria, em sua visão, bater mais forte nos grupos palestinos. E as divisões provocadas há meses no governo pela estratégia a ser adotada frente ao Hamas se agravaram ainda mais.

Durante uma reunião com seu gabinete de segurança, autoridade­s do Exército e de todos os serviços relacionad­os defenderam um cessar-fogo. Netanyahu tomou então essa decisão sem submetê-la ao voto do gabinete.

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SUHAIB SALEM/REUTERS Vitória; Palestinos queimam foto de Lieberman ao comemorar saída de linha-dura do governo israelense; ministro queria ação militar dura contra o Hamas

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