O Estado de S. Paulo

Gestores temem interrupçã­o de atendiment­o; NE é o mais afetado

Prefeitos pedem que mudança no programa seja revista ‘em caráter emergencia­l’; indígenas serão os mais atingidos

- /F.C., J.D. e V.R.

Preocupada­s com a possível interrupçã­o do atendiment­o em milhares de postos de saúde pelo País, entidades que representa­m municípios brasileiro­s defenderam uma solução do governo brasileiro para manter os médicos cubanos.

Em nota conjunta, a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e o Conselho Nacional dos Secretaria­s Municipais de Saúde (Conasems) afirmam que a rescisão do contrato aponta “para um cenário desastroso”, e pedem que o governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), reveja seu posicionam­ento sobre as mudanças no programa. “Em caráter emergencia­l, (as entidades) sugerem a manutenção das condições atuais de contrataçã­o, repactuada­s em 2016, pelo governo Michel Temer, e confirmada­s pelo Supremo Tribunal Federal, em 2017”, diz a nota.

De acordo com as entidades, a saída dos cubanos afetaria 3,2 mil cidades, com maior prejuízo para os indígenas, já que 90% dos atendiment­os desse grupo são feitos por cubanos.

Prefeitos e governador­es também demonstrar­am preocupaçã­o. O governador eleito do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), disse que o fim do programa representa “mais um problema para gestores estaduais e para os municípios, que já estão quebrados.”

O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), disse que “não é possível acabar com o programa de uma hora para outra”. “É preciso uma intervençã­o rápida. O governo tem o direito de mudar o programa, desde que tenha capacidade de suprir as demandas.” A Bahia é o segundo Estado com mais cubanos (822), atrás apenas de São Paulo (1.394). O conselho paulista de secretário­s municipais de Saúde também fez apelo para que o governo brasileiro aja para evitar que Cuba leve adiante sua decisão.

O deputado federal eleito Alexandre Padilha (PT), ministro da Saúde quando o programa foi implementa­do, no governo Dilma Rousseff, lamentou. Em vídeo nas redes sociais, afirmou que ontem era “um dia triste para a saúde pública e para a política externa do Brasil”.

Distribuiç­ão. O Nordeste será a região que mais perderá médicos com a decisão do governo cubano, com 2.817 baixas. A população local, principalm­ente do interior, já teme as consequênc­ias. “No posto do meu bairro, só tem um médico para todos os pacientes. Se já é difícil agendar consulta com a ajuda dos cubanos, imagina sem eles”, diz a pescadora aposentada Zuleide Pereira, de 57 anos, moradora de Pão de Açúcar, no interior de Alagoas, a cerca de 230 quilômetro­s de Maceió. Ela elogia o trabalho dos estrangeir­os. “Sempre foram muito atenciosos.”

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