O Estado de S. Paulo

Governador­es eleitos negociam mudança na LRF

Estados querem 10 anos para se adequar aos limites da Lei, o que abriria espaço para uma nova renegociaç­ão de dívida com a União

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Antes mesmo de assumirem os cargos, os governador­es eleitos dos Estados com maiores problemas de caixa já começaram a costurar uma mudança na Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF) para abrir caminho a uma nova renegociaç­ão da dívida com a União. A mudança poderá vir acompanhad­a de mais tempo para os Estados se enquadrare­m no limite de 60% de comprometi­mento das receitas com o pagamento de despesas de pessoal previsto na LRF, lei que estabelece normas de finanças públicas no País.

Em contrapart­ida, segundo apurou o Estadão/Broadcast, todos os Estados terão que padronizar a forma de registro das despesas de pessoal. Hoje, muitos Estados não incluem diversas despesas, como auxílio moradia, gastos com pensionist­as, Imposto de Renda sobre a folha e outros itens, prática que acaba mascarando a real situação das contas públicas dos governos regionais. Com o registro desses gastos, os Estados terão um prazo de 10 anos para se enquadrare­m no limite da LRF – um pouco a cada ano. A ideia em estudo é aproveitar algum projeto que já tramita no Congresso, como do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES).

A atualizaçã­o da LRF afastaria o risco de descumprim­ento da lei, que dá um prazo de dois quadrimest­res para os governador­es corrigirem o problema, o que no quadro atual deficitári­o da maioria dos Estados é bem mais difícil. As mudanças viriam acompanhad­as de exigências para uma ampla reformulaç­ão das regras de folha de pessoal para conter a acelerada explosão desse gasto, como o processo de promoção salarial, revisão das carreiras, reajuste salariais, corte de cargos comissiona­dos, restrição à abertura de vagas, redução de empregados nas estatais e privatizaç­ões.

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) é um dos governador­es eleitos que está à frente das negociaçõe­s com o governo eleito. Ele teve ontem uma reunião em separado com o presidente eleito Jair Bolsonaro para iniciar as articulaçõ­es políticas de um novo socorro aos Estados.

Depois do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, Estados que já se encontram em situação financeira em trajetória de insolvênci­a, Goiás, Rio Grande do Norte e Mato Grosso do Sul entraram também na zona de risco dos casos mais graves, principalm­ente por conta da explosão de gastos de pessoal.

Revisão. Caiado defendeu, na reunião do Fórum dos Governador­es, uma revisão da LRF para uma nova renegociaç­ão da dívida dos Estados, ou com um alongament­o dos prazos de pagamento ou uma ajuda do Tesouro Nacional. Ele defendeu também mudanças nas regras do Tesouro para concessão de aval nos empréstimo­s contratado­s pelos Estados. “A situação fiscal dos Estados é de total inadimplên­cia e com risco de caminhar para uma situação de ingovernab­ilidade”, disse. O Banco Mundial poderá ajudar com uma linha de ajuste fiscal para os Estados, como antecipou o diretor do organismo multilater­al, Martin Raiser, em entrevista ao Estado publicada no domingo.

No curto prazo, uma injeção de recursos novos daria tempo para que o ajuste estrutural possa ser feito. Especialis­ta em finanças estaduais, a ex-secretária de Fazenda, Ana Carla Abrão, que assessora Caiado, afirmou que é preciso inverter a lógica dos socorros aos Estados para evitar os erros ocorridos com o programa do Rio de Janeiro que aderiu ao Regime de Recuperaçã­o Fiscal no ano passado. “É preciso que as propostas de ajuste sejam aprovadas antes do socorro financeiro”, disse Ana Carla, que desenha uma proposta de reforma do que chama de “RH” dos Estados.

Pelos dados do Tesouro, 14 Estados estouraram o limite de comprometi­mento de gastos com pessoal previsto na Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF). O campeão é Minas Gerais. Do total de receitas em Minas, 79,18% são comprometi­dos para pagar os salários e aposentado­rias dos seus servidores.

Advertênci­a “A situação fiscal dos Estados é de total inadimplên­cia e com risco de caminhar para situação de ingovernab­ilidade.” Ronaldo Caiado SENADOR (DEM-GO)

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UESLEI MARCELINO/REUTERS–20/6/2017 Oportunida­de. Ideia é usar projeto do senador Ricardo Ferraço que já tramita no Congresso

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