O Estado de S. Paulo

Venezuela, Cuba e Moçambique devem R$ 1,7 bi ao BNDES

Maior parte da dívida é de empréstimo­s para obras que foram executadas por construtor­as brasileira­s com garantia do Tesouro

- Vinicius Neder / RIO

Venezuela, Moçambique e Cuba devem R$ 1,7 bilhão (US$ 459,2 milhões) ao BNDES em pagamentos atrasados. A maior parte das dívidas é de empréstimo­s para obras tocadas nesses países por construtor­as brasileira­s, como Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. Como os financiame­ntos têm garantia do Tesouro, a conta poderá ficar em Brasília. O projeto de Orçamento de 2019 já prevê R$ 1,4 bilhão de gastos para cobrir calotes.

O caso que mais preocupa é o da Venezuela, que enfrenta crise política, recessão e hiperinfla­ção, e começou a atrasar o pagamento da dívida em setembro do ano passado. O país vizinho tem um total de US$ 274 milhões de pagamentos da dívida em atraso com o BNDES – US$ 159 milhões atrasados há mais de 180 dias. Pelo câmbio médio do terceiro trimestre, o total atrasado há mais de 180 dias equivale a R$ 628 milhões.

No caso de Cuba, os atrasados somam US$ 71,2 milhões – USS 26 milhões em financiame­ntos de exportação do BNDES e cerca de ¤ 40 milhões no Proex Financiame­nto, linha com subsídios federais para apoiar exportaçõe­s de empresas de menor porte –, mas o quadro piorou recentemen­te.

A ilha caribenha chegou a pagar, com atraso, a parcela de maio, mas agora deve parcelas desde junho. A economia cubana foi atingida neste ano pela crise da Venezuela, que subsidiava o fornecimen­to de petróleo à ilha. Também foi afetada pela reversão de parte da distensão diplomátic­a com os EUA, após a posse de Donald Trump.

Já os atrasos de Moçambique são mais antigos, começaram em novembro de 2016. O país da Costa Leste da África está com US$ 114 milhões em atraso superior a 180 dias.

Calote. Os atrasos fizeram o BNDES elevar as provisões para crédito duvidoso – o montante que os bancos separam em seus balanços financeiro­s para fazer frente a possíveis calotes (leia texto abaixo). O diretor de Estratégia e Transforma­ção Digital da instituiçã­o de fomento, Ricardo Ramos, frisou que esses empréstimo­s têm garantia do Tesouro, por meio do Seguro de Crédito à Exportação (SCE), bancado pelo Fundo de Garantia às Exportaçõe­s (FGE). Por causa da Venezuela, o BNDES já foi indenizado em US$ 139 milhões pelo FGE.

As indenizaçõ­es por conta dos atrasos de Moçambique somam

US$ 29,7 milhões. Os atrasos de Cuba ainda não excederam o prazo necessário para executar a garantia. Quando aciona

o SCE, o BNDES retira aquele valor do provisiona­mento e quem cobra o país devedor é o governo. “Esses países, de forma

muito semelhante aos Estados da federação, não quebram. Países passam por ciclos econômicos”, disse Ramos.

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