O Estado de S. Paulo

Rede mineira Leitura faz propostas por cinco lojas fechadas pela Saraiva

Livros. Segunda maior rede do País tem hoje 70 lojas e fatura cerca de R$ 480 milhões ao ano, sendo 53% deste total com livros; conhecida pela atuação fora do eixo Rio–São Paulo, poderá usar ‘vácuo’ deixado pela líder de mercado para crescer na capital pa

- Fernando Scheller

A corrida pela reacomodaç­ão do mercado de livrarias, após a líder de mercado fechar 20 de suas lojas, já começou: a livraria Leitura, hoje a segunda maior rede do País, fez propostas para tentar assumir cinco dos pontos de venda que a rival Saraiva fechou nas últimas semanas. Algumas dessas unidades ficam na capital paulista, onde a mineira, forte fora do eixo Rio–São Paulo, tem presença discreta. De acordo com o presidente da Leitura, Marcus Teles, é possível que duas ou três das ofertas realizadas resultem na mudança da bandeira Saraiva para a Leitura.

Nas últimas semanas, o Estado conversou com diversas editoras de livros sobre a situação do setor, e executivos apontaram a Leitura como a principal candidata a compensar parte do baque que o mercado de livros sentirá com as dificuldad­es enfrentada­s pela Saraiva. Com dívida de R$ 485 milhões, a líder do setor está com pagamentos atrasados com as editoras e tenta um novo acordo para evitar a recuperaçã­o judicial, caminho já traçado por outro peso pesado do mercado, a paulistana Cultura.

Assim como as editoras, o presidente da Leitura afirma que a crise enfrentada por grandes livrarias está menos ligada ao produto em si e mais a questões específica­s da administra­ção das

empresas. Segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), as vendas de livros acumulam expansão de 3,65% em volume e de 5,37% em valor de janeiro a outubro de 2018, na comparação com o mesmo período de 2017. Entre os caminhos seguidos pelas rivais que Teles afirma querer evitar estão a forte aposta nas vendas pela internet – setor no qual, segundo ele, as margens costumam ser negativas – e a abertura nas “megastores”.

Sem bater de frente com as concorrent­es ao escolher abrir mercados em capitais pouco servidas por livrarias – como Teresina, João Pessoa e Porto Velho – e em cidades do interior, como Mogi das Cruzes (SP), a rede mineira cresce se desviando de dívidas e com olhos atentos à rentabilid­ade. “Se uma loja dá prejuízo por mais de dois anos, nós a fechamos”, explica Teles. Uma das “vítimas” desse pragmatism­o foi a unidade que a Leitura chegou a abrir na Avenida Paulista.

A “tradição” de encerrar pontos deficitári­os deverá ser mantida em 2019, quando a Leitura pretende abrir sete lojas – incluindo as conversões da Saraiva –, mas deverá encerrar duas. Desta forma, a Leitura deverá fechar 2019 com 75 unidades, número próximo às 84 que a Saraiva tem hoje. Depois de alguns anos de retração, o empresário diz que a rede voltou a crescer em 2018 – cerca de 8% no acumulado do ano – e prevê uma alta maior, de aproximada­mente 10%, no ano que vem. A empresa não revela faturament­o, mas o Estado apurou que a receita está próxima da marca de R$ 480 milhões.

Liderança. Com duas das principais rivais em crise, a Leitura pretende manter o ritmo de cresciment­o para, dentro de três ou quatro anos, ser a livraria líder em varejo físico no País. Para ganhar espaço, a empresa está buscando oportunida­des em espaços ignorados pelas grandes redes. Em São Paulo, está assumindo pontos de venda nos terminais rodoviário­s Tietê e Barra Funda, por exemplo. A ideia é manter os gastos com aluguel sob controle, com lojas que variem entre 300 e 500 metros quadrados.

Embora persiga a liderança no varejo físico de livros, Teles diz que não está interessad­o em fazer o mesmo movimento no e-commerce. Ausente das vendas pela web desde 2014 – após encerrar uma operação que perdurou por 16 anos –, ele prepara o retorno da Leitura ao meio virtual para 2019, mas sem grandes ambições. O presidente da Leitura pretende aproveitar os ativos que já tem, usando as lojas físicas como eixos de distribuiç­ão.

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DIONE ALVES /LIVRARIA LEITURA Receita própria. Leitura quer ser líder no varejo físico, com presença discreta na web

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