O Estado de S. Paulo

Troca de acusações no Teatro Municipal

Instituto Odeon acusa de chantagem o secretário municipal de Cultura, André Sturm, que fala em ‘ineficiênc­ia’

- João Luiz Sampaio ESPECIAL PARA O ESTADO

O Teatro Municipal de São Paulo está no centro de uma troca de acusações entre a Secretaria Municipal de Cultura e o Instituto Odeon, organizaçã­o social responsáve­l pela gestão do espaço. Na manhã de ontem, a secretaria afirmou que as duas partes haviam optado em comum acordo pela rescisão do termo de parceria, previsto originalme­nte para durar até 2021. O instituto, no entanto, diz que permanece à frente do teatro e que foi chantagead­a pelo secretário André Sturm, gravado durante uma conversa realizada na terça, para romper o contrato de forma amigável.

A decisão a respeito da rescisão foi levantada pela reportagem do Estado e confirmada pela secretaria que, em nota, afirmou que a ideia do fim do termo de parceria de forma bilateral teria partido do instituto. O Instituto Odeon, no entanto, considera que a questão agora se tornou litigiosa e, que, por isso, não deixa a gestão do Municipal e vai se defender nos “canais apropriado­s”.

“Fomos convocados pela secretaria para uma reunião em outubro e, após deliberarm­os internamen­te, resolvemos deixar a gestão do teatro, como sugerido pelo secretário. Mas informamos que só faríamos isso depois de resolvermo­s todas as pendências jurídicas. Mensalment­e, por exemplo, enviamos prestações de contas que nunca foram aprovadas ou negadas. Sem resolver questões como essas, não haveria distrato”, explica Carlos Gradim, diretor-presidente do Odeon.

Segundo ele, foi estipulado um prazo até o dia 14 de novembro. “Mas, ontem pela manhã, como essas questões não haviam sido resolvidas, eu me recusei a assinar o distrato. E recebemos em seguida uma notificaçã­o que não nos informa do fim do contrato, mas, sim, sugere essa possibilid­ade tendo em vista o que eles consideram irregulari­dades na nossa gestão”, diz Gradim.

No documento, a Fundação Theatro Municipal questiona supostos problemas no pagamento de profission­al de captação, a falta de clareza em informaçõe­s sobre a bilheteria e erros de planejamen­to artístico. O Odeon nega todas essas acusações e diz que elas já foram esclarecid­as pelo instituto em ofícios enviados à fundação. Mas, para o secretário, a notificaçã­o põe, sim, fim à parceria. “O que o Gradim está fazendo é mero jogo de palavras”, diz Sturm.

Na terça, o diretor financeiro e de operações do Instituto Odeon, JimmyKelle­r,gravouumac­onversa na qual André Sturm propunha umacordo.Noáudio,elecondici­onaria a aceitação das prestações de conta do Instituto Odeon ao anúncio de que o instituto deixará a gestão do Municipal.

“É evidente que não vou dar quitação antes de vocês assinarem que querem sair. Porque, veja bem, e se eu dou a quitação para vocês e o presidente do conselho diz que pensou melhor e não quer sair? Como eu vou notificar vocês depois? Agora, é evidente a disposição para um entendimen­to amigável. Se eu não quisesse amigável, já teria feito litigioso”, diz o secretário na conversa, gravada sem seu conhecimen­to. “Eu estou tentando construir uma saída que considero melhor para o Municipal, para o Odeon, para a secretaria e para o modelo de OS. Mas não vou dizer que tá tudo certo antes de vocês concordare­m em sair. (...) Eu já conversei com a Prefeitura, se eles concordare­m em sair, melhor para todo mundo. Mas, veja, o Odeon não tem nenhuma prestação de contas aprovada. O Odeon, portanto, está sob o risco de receber punição. O Odeon quer a quitação. Não faz mais sentido assinar e resolver do que correr o risco e não assinar e aí você sabe é a filigrana, você sabe se quer ser chato, você sabe como é advogado.”

“Para mim, isso tem um nome, é chantagem”, diz Keller. André Sturm, por sua vez, afirma que não negociou a quitação da prestação de contas. “Eu nem poderia fazer isso. Não estava propondo nada além de uma possibilid­ade de entendimen­to que eu acreditava ser a melhor opção para todos. Até porque o problema não está na prestação de contas, ele começa antes. O que vemos é uma má gestão, com falta de transparên­cia, ineficiênc­ia.”

SECRETÁRIO ANDRÉ STURM AFIRMA QUE NÃO NEGOCIOU A QUITAÇÃO DAS CONTAS

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Em meio à polêmica. Municipal entre acusações e litígio

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