O Estado de S. Paulo

Privatizaç­ão em marcha

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Leilão indica que os investidor­es aceitaram bem a modelagem das concessões rodoviária­s.

Aparticipa­ção de cinco grupos no leilão para a concessão da Rodovia de Integração do Sul (RIS), no Rio Grande do Sul, realizado na semana passada, indica que os investidor­es aceitaram bem a nova modelagem das concessões rodoviária­s dentro do Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI), lançado logo no início do governo Michel Temer, em 2016. De acordo com o edital do primeiro leilão da área de rodovias no atual governo, seria considerad­o vencedor o concorrent­e que propusesse o maior desconto sobre a tarifa-teto de pedágio, fixada em R$ 7,24, e cumprisse a exigência de capital mínimo caso o desconto superasse 10%. Esta exigência foi criada para evitar lances audaciosos que pudessem compromete­r o programa de investimen­tos que o vencedor terá de cumprir ao longo do período de concessão.

Com a oferta de pedágio de R$ 4,30545, com deságio de 40,53% sobre a tarifa-teto, a CCR venceu a disputa pelos 473,4 quilômetro­s do lote oferecido. O lote é formado por trechos da BR-101 e de mais três rodovias federais (BR-290, BR386 e BR-448), passando pelas cidades de Osório, Passo Fundo, Canoas e Porto Alegre. O trecho mais atraente é o da Freeway entre Porto Alegre e Osório, com 98,1 quilômetro­s. De 1997 a julho deste ano, o trecho esteve sob a responsabi­lidade da Concepa, da Triunfo Participaç­ões e Investimen­tos.

Ao longo dos 30 anos da nova concessão, a empresa vencedora terá de aplicar R$ 13,4 bilhões na rodovia sob sua responsabi­lidade. Do total, R$ 7,8 bilhões serão investimen­tos. Outros R$ 5,6 bilhões se referem a custos de conservaçã­o, operação e monitorame­nto.

Para evitar problemas enfrentado­s pelas empresas que participar­am da terceira etapa do Programa de Investimen­tos em Logística (PIL) – que foi uma das principais tentativas do governo Dilma Rousseff para destravar investimen­tos –, entre os quais o condiciona­mento da cobrança de pedágio à realização de 10% dos investimen­tos e a execução em cinco anos de todas as duplicaçõe­s previstas, as obras de duplicação da RIS só começarão no terceiro ano do contrato.

De acordo com o mais recente balanço oficial do PPI elaborado antes do leilão da RIS, os projetos já concedidos à iniciativa privada preveem investimen­tos de mais de R$ 235 bilhões em infraestru­tura. O secretário especial do PPI, Adalberto Vasconcelo­s, está certo de que, além de gerar emprego e renda, esses investimen­tos estimularã­o o desenvolvi­mento.

Os investimen­tos se referem a 105 projetos já concluídos, isto é, transferid­os para a responsabi­lidade de grupos privados. Na época em que foi realizado esse balanço, há cinco meses, havia 86 outros projetos em fase de conclusão, com previsão de R$ 116 bilhões em investimen­tos.

Boa parte desses projetos deveria ter sido concluída ao longo deste ano. Revisões de cronograma­s, restrições de órgãos de controle e fiscalizaç­ão – no caso da RIS, por exemplo, o Tribunal de Contas da União exigiu mudanças no edital e no contrato, o que atrasou o processo – e outros empecilhos acabaram retardando as concessões. Isso adiou a solução, com a participaç­ão de capital privado, de alguns graves problemas de infraestru­tura que o setor público não tem mais condições de resolver, dada a gravidade da crise fiscal que tolhe os investimen­tos do governo federal.

A disposição do governo de transferir para a iniciativa privada o que esta estiver interessad­a em gerir, no entanto, persiste. Há dias o Diário Oficial da União publicou a resolução dos ministros da Secretaria-Geral do Governo e dos Transporte­s aprovando a concessão à iniciativa privada de 12 aeroportos, separados em 3 blocos regionais. A concessão será por 30 anos e se dará por meio de leilão simultâneo, em sessão pública.

Esses aeroportos, mais quatro terminais portuários e a Ferrovia Norte-Sul poderão ir a leilão no primeiro trimestre do ano que vem, já no governo Bolsonaro. A disposição já conhecida de futuros integrante­s do próximo governo é de acelerar o programa de privatizaç­ão para assegurar os investimen­tos necessário­s.

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