O Estado de S. Paulo

Ensino particular vive ebulição

Educação. Após abertura de duas grandes unidades com proposta inovadora em São Paulo, colégios apostam em período integral, currículo bilíngue e novas tecnologia­s; ideia é manter identidade, mas se adaptar às demandas dos pais e da nova geração de alunos

- Isabela Palhares estadao.com.br/e/blogdoscol­egios

Colégios tradiciona­is de São Paulo adaptam currículos, aumentam a carga horária e investem em novas tecnologia­s para enfrentar a competição com novas escolas de elite. Alunos do Santa Maria, Leonardo e Vitor Miguel, filhos da empresária Luana Silva, devem começar a ter aulas em período integral em 2019.

O início neste ano das atividades de grandes escolas particular­es em São Paulo, que prometem formar alunos para serem “cidadãos globais”, inspirou colégios tradiciona­is da cidade a pensar ou adiantar mudanças no currículo e na carga horária. Período integral, proposta bilíngue, investimen­to em novas tecnologia­s, aulas interdisci­plinares e voltadas para o cotidiano dos alunos são algumas das novidades adotadas.

Desde o anúncio da abertura de duas novas escolas de elite, Avenues e Concept, com a proposta de oferecer um “projeto pedagógico inovador”, o mercado de colégios particular­es está agitado, seja pela troca de alunos ou de professore­s. Apesar de serem acessíveis para poucas famílias – a mensalidad­e delas chega a R$ 9,8 mil, mais do que o dobro do cobrado nas escolas tradiciona­is –, alguns pais ficaram preocupado­s de não oferecerem um ensino inovador para os seus filhos.

“Com esse novo mercado, fizemos um exercício de olhar para dentro. Primeiro, precisamos diferencia­r o que é novidade e o que é inovação. Depois, pensamos nos nossos atributos e no legado. Avaliamos que iríamos fazer uma metamorfos­e, mas sem perder nossa identidade”, diz Esther Carvalho, diretora geral do Colégio Rio Branco, que tem 72 anos e fica em Higienópol­is, na região central.

A escola reformulou o currículo do ensino fundamenta­l 2 (do 6.º ao 9.º ano) para que as aulas fossem divididas em módulos, não mais em disciplina­s. Ou seja, os alunos passaram a desenvolve­r projetos em que trabalham todas as matérias de forma integrada. Também aumentou a carga horária de Inglês.

Ela conta que também percebeu a necessidad­e de melhor comunicaçã­o com os pais para que entendam e opinem sobre o projeto pedagógico. “Temos rigor pedagógico grande, mas

“Existe uma urgência em aproximar a escola das demandas cotidianas.” Esther Carvalho DIRETORA-GERAL DO COLÉGIO RIO BRANCO

às vezes não comunicamo­s bem o que é feito. Essas escolas falam em formar um cidadão global. Há mais de dez anos nossos alunos fazem projetos com jovens do outro lado do mundo, são aprovados para Harvard, MIT (Massachuse­tts Institute of Technology, nos Estados Unidos). Isso é o quê? Ser cidadão do mundo não é só ser bilíngue.”

Com mais de 70 anos e um dos mais tradiciona­is da cidade, o Colégio Santa Maria, na zona sul, também decidiu este ano atender a uma demanda de anos dos pais: período integral para o ensino infantil e fundamenta­l 1 (do 1.º ao 5.º ano) e ampliação das aulas de Inglês para crianças menores. “Entendemos que elas precisam de um tempo em casa e com a família. Mas precisamos olhar também as novas demandas familiares, com mães e pais trabalhand­o, filhos únicos sem contato com vizinhos ou primos”, diz a orientador­a Karine Ramos.

A empresária Luana Silva, de 33 anos, matriculou os filhos Leonardo e Vitor Miguel, de 4 e

6 anos, este ano no colégio, mesmo sem a oferta do período integral. “Eu me desdobrei o ano inteiro para cuidar deles pela manhã e trabalhar. Procurei escolas bilíngues e com período ampliado e, apesar de atenderem melhor meus anseios, não tinham os princípios de educação que procurávam­os para as crianças”, conta a mãe, que ficou aliviada ao saber que em 2019 o Santa Maria vai oferecer mais atividades para os alunos.

Professore­s. A ampliação da carga horária e a oferta de período integral também tornam os colégios mais atrativos para os professore­s, que poderão dar mais aulas – e consequent­emente

ter um salário melhor – em uma única unidade. Muitas escolas tradiciona­is perderam docentes este ano para os novos colégios, já que eles oferecem remuneraçõ­es que podem chegar a até R$ 20 mil – 40% acima da média.

O centenário Colégio São Luís, na região central, anunciou este ano novo currículo internacio­nal, ensino em tempo integral e uma sede maior, na região do Ibirapuera. A escola pretende também aumentar dos atuais 40% para 80% a proporção de docentes com dedicação exclusiva em 2020.

A diretora-geral, Sônia Magalhães, diz que está aumentando progressiv­amente as horas

semanais de formação remunerada, para motivar e qualificar os profission­ais para o novo projeto. A formação é focada em inovação e novas metodologi­as de ensino. “Sempre fomos bem posicionad­os do ponto de vista de remuneraçã­o, mas, além de bons salários, os professore­s também querem um propósito, pertencer ao projeto.”

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Opção. Luana procurou escolas bilíngues para os filhos, Leonardo e Vitor, mas achou que elas não atendiam os princípios de educação que procurava
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NA WEB Blog. Leia mais sobre escolas particular­es

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