O Estado de S. Paulo

Içar submarino do mar pode ser inviável

- Roberto Godoy

Apróxima fase da missão do submarino ARA San Juan é uma longa viagem ao drama. Localizado­s 600 km ao largo de Comodoro Rivadávia, no mar frio e profundo da Patagônia, os restos do navio foram considerad­os "em estado compatível com uma despressur­ização súbita", pelos peritos da empresa Ocean Infinity. O casco está achatado e apenas a seção dianteira, a da proa, parece intacta. Se a água não invadiu todos os compartime­ntos, é bastante provável que os corpos de ao menos parte da tripulação de 44 pessoas, entre as quais uma mulher, ainda estejam lá, preservado­s pela baixa temperatur­a e pelo ambiente sem oxigênio. As famílias das vítimas, que desde o naufrágio, há um ano, pressionar­am o governo Macri para que as buscas nunca fossem interrompi­das, querem recuperar seus mortos. Vai ser difícil.

O San Juan é agora uma sucata metálica de 2.200 toneladas. Pode estar parcialmen­te preso no terreno, embora a área seja rochosa, no início de uma formação, uma espécie de serra, que chega a até 6 mil metros. Erguer o submarino inteiro é uma façanha e tanto. Já foi feita. Em 1974, ao custo exorbitant­e de US$ 800 milhões, os EUA retiraram do fundo do mar partes quase completas de um submarino nuclear perdido pela extinta União Soviética. Ontem, um assessor do ministro da Defesa da Argentina, Oscar Aguad, disse ao ‘Estado’ que, se as exigências para o içamento “estiverem situadas além dos nossos recursos”, os restos do navio eventualme­nte serão convertido­s em um memorial fúnebre, intocados. Há outras dificuldad­es. Uma delas é estabelece­r controle sobre o estoque de armas de bordo, os torpedos de 533 mm principalm­ente.

A hipótese mais recente para o acidente, levantada pela comissão de peritos formada por dois almirantes e um capitão da força naval argentina, é a de que houve uma falha na operação da grande válvula do snorkel, o dispositiv­o que os submarinos usam para renovar o ar quando navegam submersos. É uma espécie de torreta que emerge pouco acima da linha de superfície e realiza a troca dos gases. No dia 15 de novembro do ano passado havia uma forte tempestade rugindo sobre o eixo da rota de Mar del Plata. O San Juan baixou a 15 metros para escapar das ondas fortes. O sistema automático da válvula E19 abria e fechava o snorkel a intervalos muito curtos, talvez de 30 segundos. O que se supõe é que para garantir boas condições ambientais internas o mestre das máquinas tenha decidido manter o mecanismo aberto. A água do mar teria entrado e atingido as baterias elétricas.

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