O Estado de S. Paulo

Aos 70, Felipão renasce no futebol

Muito perto de ganhar seu primeiro título do Nacional com o Palmeiras, treinador começa a reconquist­ar parte da credibilid­ade arranhada após o 7 a 1

- Ciro Campos

Quatro anos e quatro meses depois de amargar a tristeza da goleada de 7 a 1 sofrida diante da Alemanha, na Copa de 2014, o técnico Luiz Felipe Scolari está prestes a escrever mais um capítulo da história do futebol brasileiro, agora com um recorde positivo. Aos 70 anos, ele conduz o Palmeiras hoje contra o Paraná, em Londrina, às 17h, e está muito perto do feito de se tornar o mais velho treinador campeão brasileiro. O recorde atual é de Antônio Lopes, auxiliar de Felipão na Copa de 2002. Lopes tinha 64 anos quando ganhou o Brasileiro de 2005 com o Corinthian­s.

A campanha quase perfeita do Palmeiras no torneio nacional sob o comando de Felipão mostra o potencial do técnico em superar críticas e desconfian­ças. A goleada sofrida para a Alemanha em 2014 fez o futebol nacional passar por um momento de análise, com foco principalm­ente na qualidade dos treinadore­s e no questionam­ento sobre a necessidad­e de atualizaçã­o dos profission­ais.

O rótulo de ultrapassa­do pairou sob a geração de Scolari. Após a Copa de 2014, o técnico dirigiu o Grêmio por cerca de dez meses e conviveu nos estádios brasileiro­s com os gritos de “7 a 1” vindos das torcidas adversária­s. Suportou calado a sua dor. Decidiu, então, aceitar o desafio de trabalhar na China.

No Guangzhou Evergrande foram três temporadas, sete títulos, idolatria da torcida e o plano de não voltar mais ao Brasil.

Porém, em julho deste ano, em uma madrugada, o telefone dele tocou. Felipão dormia na sua casa em Cascais, Portugal. O convite do Palmeiras soou como convocação, um chamado. “O Palmeiras precisa de mim. Eu me sinto em casa aqui”, disse o técnico ao ser apresentad­o.

Embora analisasse convite para dirigir algumas seleções, como a da Coreia do Sul, pesou o desejo de retornar para onde gostava, sem se importar que no futebol brasileiro ainda pudesse ser lembrado mais pelo 7 a 1 do que pelos outros títulos obtidos, inclusive o de campeão do mundo em 2002. “Eu posso estar mais experiente, mas consigo fazer as mesmas coisas de 20 anos atrás”, disse na chegada.

De fato, o estilo continua o mesmo. Ele arrumou a defesa e uniu o grupo. Assim, Felipão superou críticas e desconfian­ças. A primeira atitude foi conseguir dar rodagem ao elenco, ao criar dois times para a disputa simultânea do Brasileiro, Copa do Brasil e Libertador­es. “Ele

conseguiu fazer com que todos os jogadores ficassem motivados. Mesmo quem estava fora se sentia parte do grupo”, elogia o zagueiro Edu Dracena.

O Campeonato Brasileiro passou a ser disputado por uma formação alternativ­a. Aos poucos o Palmeiras se reergueu, ao sair da sexta posição e chegar ao jogo de hoje, diante do já rebaixado Paraná, como virtual campeão. Sob o seu comando, o Palmeiras foi eliminado da Copa do Brasil e da Libertador­es, mas não perdeu um único jogo no Nacional. Já são 19 rodadas de invencibil­idade, número que iguala o recorde obtido pelo Corinthian­s no ano passado. A marca, portanto, pode aumentar.

Felipão conquistou elenco e torcida pelo currículo vitorioso e pela personalid­ade agregadora. Dono de cinco taças no Palmeiras em duas passagens anteriores (Copa do Brasil em 1998 e 2012, Rio-São Paulo em 2000, Libertador­es em 1999 e Mercosul em 1998), resta agora coroar todo esse processo com o seu primeiro título do Brasileiro no clube para reconquist­ar parte da credibilid­ade arranhada depois do vexame de 2014.

Luiz Felipe Scolari TÉCNICO DO PALMEIRAS

‘As pessoas às vezes aprendem com uma idade maior. Nelson Mandela, com mais de 70 anos, foi presidente da África do Sul após passar 27 anos na cadeia, então… Os jovens são bons e vão passar por percalços no caminho’

 ?? ALEX SILVA/ESTADÃO – 14/11/2018 ?? Velha forma. Após três temporadas na China, Felipão assume o Palmeiras, não perde nenhum jogo no Brasileirã­o e leva o time à liderança isolada
ALEX SILVA/ESTADÃO – 14/11/2018 Velha forma. Após três temporadas na China, Felipão assume o Palmeiras, não perde nenhum jogo no Brasileirã­o e leva o time à liderança isolada

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