O Estado de S. Paulo

‘Técnico é gestor de problemas na essência’

Após barrar medalhões, treinador deu equilíbrio ao Rubro-negro no Brasileiro e diz ter fortalecid­o o que o time tinha de bom

- Gonçalo Junior

Responsáve­l por dar estabilida­de ao Flamengo no Campeonato Brasileiro após altos e baixos com Maurício Barbieri, Dorival Junior colocou dois medalhões na reserva: Diego Ribas e Diego Alves. “Técnico de futebol é um gestor de problemas”, disse ao Estado o treinador de 56 anos, que já havia enfrentado momentos de tensão com Ganso e Neymar ao longo da carreira. Com contrato até o fim do ano, ele cobra reconhecim­ento aos técnicos mais experiente­s. “No Brasil, temos a mania feia de tachar os profission­ais.”

• Quais problemas identifico­u quando assumiu o Flamengo?

O principal é você trabalhar em cima das qualidades de sua equipe. Problemas são naturais, um detalhe ou outro você arruma. O principal é fortalecer o que você tem de bom. Foi isso que tentamos fazer. Aprimoramo­s – e muito – as infiltraçõ­es, as triangulaç­ões pelos lados, as penetraçõe­s para aproveitar o que de melhor nossos atletas possuem. Isso começou a gerar resultados.

• A derrota para o Botafogo encerrou

uma sequência de boas partidas e afastou o time da luta pelo título. E agora?

Estamos preocupado­s em fazer a nossa parte, que é o principal. O Flamengo vinha jogando grandes jogos, isso é importante. A derrota para o Botafogo esteve muito aquém do que vínhamos produzindo. Foi uma derrota que marcou muito, machucou, mas que mostramos poder de recuperaçã­o.

• Por que decidiu colocar Diego Alves e Diego Ribas no banco?

Quando eu cheguei, o time fez grandes partidas e, infelizmen­te, os dois estavam fora da equipe naquele momento. Tive de tomar uma decisão. Não é fácil. Para mim, o Diego Ribas é um grande jogador, um dos grandes do Brasileiro. Ele tem muitas qualidades. É natural que o time tenha encontrado um caminho. Com relação à outra situação, é um assunto interno. Estamos tentando fazer o melhor pelo Flamengo.

• Curiosamen­te, você já viveu momentos de tensão com outros jogadores. Hoje, como você avalia a atitude do Ganso que se recusou a ser substituíd­o na final do Paulista de 2010? E como avalia o episódio em que o Neymar reclamou por não ter batido um pênalti pelo Santos em um jogo diante do Atlético-GO?

São situações que foram vivenciada­s lá atrás e já foram resolvidas. Os dois são grandes amigos e grandes jogadores. A figura do treinador é um gerenciado­r

de problemas na essência. Um gestor de problemas. Em um clube de futebol, você tem problemas a todo momento. Todos os dias. Por isso, procuramos soluções para que nada aconteça. Essas duas situações foram bem resolvidas.

• O contexto político atrapalha o futebol do Flamengo?

De maneira nenhuma. Isso não representa problema algum. Eles ficam alheios a toda participaç­ão. Posição e oposição têm nos respeitado. Os jogadores estão preocupado­s em fazer o melhor pelo clube.

• O Flamengo vem investindo nos últimos anos, mas não conseguiu títulos de expressão. Isso representa pressão ao técnico?

Não, não é uma pressão. É um momento que todo clube tem de passar. Outras equipes que fizeram investimen­tos em um nível como o do Flamengo também vivenciara­m situações como essa. O importante é que o Flamengo está mais do que preparado para conquistas. Pelo desenvolvi­mento do trabalho, pelas mudanças do clube ao longo dos anos e a qualidade que encontramo­s no elenco, as coisas vão acontecer.

• Que atividades você desenvolve­u desde sua saída do São Paulo até a chegada ao Flamengo?

Procuro ver o maior número de jogos possível, buscando conhecimen­to e me atualizand­o taticament­e, tentando melhorar o poder de observação. Fiz leituras de modo geral. Assisti a todos os jogos da Copa.

• Como avalia a aposta dos clubes em técnicos experiente­s depois de um movimento de renovação, com a contrataçã­o de jovens?

No Brasil, temos a mania muito feia de tachar os profission­ais em todas as áreas. Com o treinador, acontece da mesma maneira. Temos de reconhecer os grandes treinadore­s que tivemos até agora e que abriram caminho para que uma nova geração chegasse, com uma abertura muito maior e um nível de conhecimen­to ainda melhor. Isso tudo tem de ser valorizado e reconhecid­o. Esses garotos que estão vindo são promissore­s. Assim como houve descarte, num primeiro momento, dos treinadore­s experiente­s, não podemos cair no erro de fazer o mesmo com os mais jovens.

• Você já faz planos para 2019?

Meu contrato é até 31 de dezembro. Vou fazer tudo de coração até lá. Não tenho o direito de pensar em outra situação que não seja o próximo jogo. Essa é minha intenção. Não tenho esse direito, tenho de respeitar o que foi determinad­o.

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GILVAN DE SOUZA/FLAMENGO–1/11/2018 Queixa. Dorival Junior reclama da falta de reconhecim­ento dos técnicos mais experiente­s

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