O Estado de S. Paulo

BRASIL JOGARÁ EM ESTÁDIO DE EQUIPE DA QUARTA DIVISÃO

Arena MK possui até hotel e abriga time alvo de polêmica que mexeu com o futebol inglês

- Luis Filipe Santos

Após vencer o Uruguai por 1 a 0 na sexta-feira, no Emirates Stadium, em Londres, um dos estádios mais modernos do mundo, a seleção brasileira enfrentará Camarões, terçafeira, na Arena MK, em Milton Keynes, cidade a 75 quilômetro­s da capital inglesa. Com capacidade para 30 mil torcedores, o estádio faz parte de um complexo que inclui o hotel que hospeda a delegação brasileira. Vários quartos, inclusive, têm vista para o campo, assim como salas e bares, que compõem parte da arquibanca­da do estádio.

A Arena MK, apesar de sediar um time da Quarta Divisão, o Milton Keynes, tem estrutura considerad­a boa. O local recebeu jogos da Copa dos Campeões Europeia de Rúgbi e, em 2015, foi palco de três partidas da Copa do Mundo de Rúgbi. Também foi cogitado como uma das sedes da Copa do Mundo de futebol nas candidatur­as inglesas para receber as edições de 2018 e 2022, que acabaram derrotadas – nessa situação, a capacidade teria de ser aumentada para 45 mil lugares.

A Arena MK tem sua história ligada à do time local, o Milton Keynes Dons FC (nome abreviado para MK Dons), que nasceu a partir de uma polêmica que mexeu com o futebol inglês.

Se nos esportes americanos é comum que franquias troquem de cidade, na Inglaterra uma mudança permanente nunca havia acontecido até 2003, quando o Wimbledon FC foi para a cidade de Milton Keynes, se tornando MK Dons e atraindo a antipatia de torcedores de diversas equipes do país. A transforma­ção teve diversas facetas.

A cidade de Milton Keynes surgiu em 1967. O município, mesmo com uma população de 200 mil habitantes, não tinha um time de futebol profission­al – as equipes da região disputavam apenas a amadora oitava divisão. Entretanto, a corporação de desenvolvi­mento da cidade desejava ter um estádio de primeira linha e tentou atrair diversos times para lá, como o Luton Town, o Charlton e o próprio Wimbledon, durante as décadas de 1970 e 1980.

Os planos ganharam novo impulso no fim da década de 90, quando Pete Winkelman, milionário e ex-executivo de uma gravadora, desenvolve­u um plano para remodelar uma área no norte da cidade. A ideia incluía a construção de hipermerca­do, loja de móveis e, novamente, um estádio. Com isso, conversas para que um time profission­al fosse para Milton Keynes recomeçara­m e envolveram Queens Park Rangers, Crystal Palace, Barnet e, novamente, Luton e Wimbledon – negociaçõe­s com este último prosperara­m.

O Wimbledon FC foi fundado em 1889 em Londres e havia passado a maior parte de sua existência como time amador. Na década de 1970, o clube foi aceito em uma liga profission­al, chegou à Primeira Divisão e foi campeão da principal competição mata-mata do país, a Copa da Inglaterra, na temporada de 198788, superando o Liverpool.

Logo após, porém, a equipe foi impedida de jogar no seu estádio, o Plough Lane, que não atendia às novas especifica­ções de segurança criadas após o desastre de Hillsborou­gh, em 1991, quando 96 pessoas morreram e 766 ficaram feridas. Uma destas recomendaç­ões era que as arenas tivessem cadeiras em toda sua extensão, o que não ocorria no Plough Lane.

Com isso, o Wimbledon FC passou a mandar jogos na casa do seu “vizinho”, o Crystal Palace, enquanto procurava um local para construir um estádio. O time não conseguiu encontrar um lugar no seu bairro de origem e começou a pensar em se mudar de cidade – até Dublin, capital da Irlanda, foi cogitada. A média de público começou a cair. Em 1997, o time foi vendido para dois empresário­s norueguese­s, Kjell Inge Røkke e Bjørn Rune Gjelsten. Em 2001, foi para a Segunda Divisão inglesa.

No início da temporada 2001-02, em agosto de 2001, o Wimbledon anunciou a intenção de se mudar para Milton Keynes. Torcedores do clube londrino, contudo, iniciaram um boicote e pessoas ligadas ao esporte considerar­am a possível mudança como a “morte do futebol”. A Associação de Futebol (FA, na sigla em inglês), de início, não autorizou a alteração.

O Wimbledon recorreu a uma comissão independen­te e, depois de ouvir diversas partes ligadas ao processo, dois dos membros julgaram que a única opção para o clube continuar existindo seria a mudança. Dessa forma, o Wimbledon FC foi autorizado a se tornar Milton Keynes Dons FC em maio de 2002.

O clube completou a mudança em setembro de 2003, mas pôde atuar na nova cidade apenas na temporada de 2004-05. Inicialmen­te, jogou no Estádio Nacional de Hóquei e, a partir de 2008, na Arena MK, onde o jogo da seleção brasileira acontecerá nesta terça-feira.

Altos e baixos. A primeira partida em Milton Keynes foi em 7 de agosto de 2004, contra o Barnsley, já pela Terceira Divisão inglesa. Apesar das promessas de que o novo time continuari­a o mesmo, nome, escudo e cores foram trocados. E a história do Milton Keynes é marcada por altos e baixos.

A equipe disputou a Terceira Divisão, caiu para a Quarta em 2006, retornando na sequência e subiu para a Segunda em 2014-15. Mas foi rebaixada logo em seguida e voltou para a Quarta Divisão na temporada 2017-18, onde está atualmente.

Como pontos altos nesse período, o Milton Keynes venceu a Copa EFL, matamata entre times de Segunda e Terceira divisões, e goleou o Manchester United por 4 a 0 na Copa da Liga Inglesa em janeiro de 2014.

Outro time foi fundado pelos torcedores ingleses órfãos no sul de Londres, o Wimbledon AFC, com os jogadores sendo escolhidos em peneiras. Subindo a partir da Oitava Divisão, o novo clube hoje disputa a Terceira do futebol inglês, à frente do Milton Keynes.

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JOHN SIBLEY/ REUTERS-31/1/2016 Modernidad­e. Arena MK conta com estrutura considerad­a boa e faz parte de complexo no qual hotel tem quartos, salas e bares com vista para o gramado

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