O Estado de S. Paulo

Venda de carne também se beneficia de guerra comercial

No acumulado do ano, exportaçõe­s de carne bovina para a China cresceram 56% em relação a 2017

- / CLARICE COUTO, GUSTAVO PORTO, NAYARA FIGUEIREDO E TÂNIA RABELLO

A guerra comercial entre Estados Unidos e China não beneficiou apenas as exportaçõe­s de soja. Na carne bovina, o dado mais recente, da Associação Brasileira de Frigorífic­os (Abrafrigo), mostra que a China passou a representa­r, em outubro, 44,1% das exportaçõe­s brasileira­s – ante 37,1% em igual mês do ano passado. Para a China e Hong Kong foram embarcadas, no mês passado, 585.263 toneladas, ante 448.721 toneladas em igual período de 2017.

No acumulado do ano, até setembro, o avanço é bastante expressivo: embarques 56% maiores de carne bovina para a China, com faturament­o adicional de 68%, conforme a Associação Brasileira das Indústrias Exportador­as de Carne (Abiec). Na soja, só em outubro, foram 5,04 milhões de toneladas exportadas, 132% mais que no mesmo mês de 2017, com receita de US$ 1,98 bilhão, uma alta em valores de 141%.

“Os exportador­es de soja brasileira já levaram uma fortuna com a guerra comercial”, disse o vice-presidente da consultori­a americana ED&F Man Capital Markets, Michael McDougall, que participou na terça-feira do Summit Agronegóci­o 2018. Ele disse acreditar que a guerra comercial está longe do fim por causa do caráter agressivo do presidente americano, Donald Trump. “Em vez de investir em diplomacia, Trump investe em armas, aumentando o orçamento para militares”, observou.

Mas há alguns fatores de risco domésticos que podem estragar esse cenário. Um ponto de atenção é a definição da política externa do novo governo. O setor está atento a atitudes e declaraçõe­s feitas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), em relação à China – como a visita que o então presidenci­ável fez, no início do ano, a Taiwan, considerad­a uma ilha rebelde por Pequim. No início de novembro, Bolsonaro, já eleito, se encontrou com o embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, para acalmar os ânimos.

Procurada na quarta-feira, a futura ministra da Agricultur­a, Tereza Cristina, evitou dar declaraçõe­s sobre os efeitos da guerra comercial EUA-China nas exportaçõe­s brasileira­s. Em entrevista na semana anterior, porém, havia assinalado a importânci­a do diálogo. “O diálogo é fundamenta­l. O presidente tem de dizer claramente qual é a política internacio­nal que ele quer adotar”, disse, na ocasião.

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