O Estado de S. Paulo

Política dos EUA faz preço do petróleo oscilar

Entrada em vigor das sanções ao Irã e as medidas comerciais de Trump estão por trás da volatilida­de

- TRADUÇÃO CLAUDIA BOZZO

Opreço do petróleo deveria estar subindo agora. Com as sanções americanas contra o Irã que vão entrar em vigor no início deste mês, as exportaçõe­s daquele país, o quarto maior produtor mundial de petróleo bruto no ano passado, devem encolher para perto de zero. Antecipand­o a tendência, o preço do Brent, referência internacio­nal, subiu acima de US$ 86 no início de outubro, maior alta em quatro anos, e alguns alertaram para a possibilid­ade de preços acima de US$ 100 o barril.

Mas, em vez de continuar em alta, desde o dia 8 de novembro a cotação do óleo entrou em ritmo de baixa. O preço do Brent fechou a US$ 66,53 no dia 14 de novembro. O West Texas Intermedia­te (WTI), referência de preço do petróleo americano, caiu por 12 sessões consecutiv­as até o dia 14 de novembro. Esse foi o mais prolongado declínio ininterrup­to em mais de três décadas. Os preços futuros do petróleo americano caíram 20% em relação ao seu pico recente.

Algumas das razões para a queda são por conta de fundamento­s do mercado. Em outubro, o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) rebaixou sua previsão de cresciment­o econômico global. Problemas nos mercados emergentes têm um efeito desproporc­ional sobre a demanda por petróleo denominado em dólar, à medida que este se torna mais caro ao debilitar as moedas locais. Mas a recente volatilida­de do mercado de petróleo também reflete novas forças, incluindo os limites dos produtores convencion­ais e o impacto peculiar do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo (Opep), liderada pela Arábia Saudita, aspira manter uma confortáve­l estabilida­de. Os preços devem ser altos o suficiente para sustentar os orçamentos de seus membros e razoavelme­nte baixos para sustentar a demanda global. Mas seu controle declinou. Existem atualmente três produtores dominantes de petróleo: Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia, dos quais apenas um é membro. À medida que a indústria de xisto da América explodiu, a Arábia Saudita se voltou para a Rússia para ajudar a coordenar a produção. Seus interesses não estão perfeitame­nte alinhados. O ministro do petróleo saudita, Khalid al-Falih, disse na semana passada que o reino reduziria a produção em 500 mil barris

por dia em dezembro; o ministro do petróleo da Rússia duvidou que houvesse excesso de oferta.

Mas foram os Estados Unidos que exerceram o maior efeito desestabil­izador. Este ano, o país tornou-se o maior produtor mundial de petróleo bruto. Suas empresas de xisto estão bombeando óleo a uma taxa fenomenal. A produção em agosto foi 23% acima do nível de 12 meses antes. Mas a indústria do xisto está vinculada a investidor­es, não a um ministro do petróleo, e a produção pode cair se os preços do petróleo continuare­m recuando e os investidor­es exigirem retornos mais altos. Além de tudo isso, vêm as políticas de Trump, que estão ajudando a empurrar

os mercados de petróleo para cá e para lá.

Depois que ele anunciou sanções ao Irã em maio, a Opep e seus aliados concordara­m em aumentar a produção. A produção da Arábia Saudita e da Rússia subiu para níveis recordes. Então, em 5 de novembro, os Estados Unidos anunciaram que concederia­m isenção de 180 dias à China, Índia e seis outros países para que continuass­em a importar do Irã – países que juntos respondem por mais de 75% das exportaçõe­s iranianas, segundo Sanford C. Bernstein, uma empresa de pesquisa.

As políticas comerciais de Trump também estão deprimindo a demanda por petróleo. A menor previsão de cresciment­o do FMI deve-se, em parte, a uma desacelera­ção nos mercados emergentes, mas também ao aumento das tensões entre os EUA e seus parceiros comerciais, uma tendência que enfraquece ainda mais as economias emergentes. O cresciment­o do transporte aéreo e marítimo caiu cerca de metade no ano passado, diz Edward Morse, do Citigroup, reduzindo a demanda por diesel. A guerra comercial de Trump com a China é particular­mente importante para os mercados de petróleo, já que a China respondeu por cerca de 40% do cresciment­o da demanda por petróleo no ano passado. Em 13 de novembro, a Opep baixou sua previsão para a demanda global por petróleo no ano que vem.

Mas, mesmo que os preços do petróleo caiam, há motivos para pensar que eles poderiam voltar a subir de novo em breve. Mais cortes de produção podem ocorrer no próximo mês, depois que a Opep e seus parceiros se reunirem em Viena. Além da incerteza no Irã, a perturbaçã­o na Venezuela, na Líbia, na Nigéria ou no Iraque podem comprimir a oferta global. Esses “cinco frágeis”, como alguns investidor­es os chamam, respondera­m por 12% da produção mundial de petróleo de julho a setembro, mais do que a Arábia Saudita.

Então, existe sempre a possibilid­ade de que Trump possa reverter o rumo – fechando um acordo comercial com a China, por exemplo, ou aumentando as restrições ao Irã mais uma vez. Ou ele pode simplesmen­te escrever um tuíte. Em 12 de novembro, ele foi ao Twitter para pedir à Opep que não cortasse a produção. O preço do petróleo caiu.

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MORTEZA NIKOUBAZL/REUTERS28/5/2006 Queda. Exportaçõe­s do Irã devem cair com sanções americanas

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