O Estado de S. Paulo

O retorno à infância de Érico Brás

Ator, que via ‘Escolinha do Professor Raimundo’, assume papel que era de Grande Otelo, na volta do programa

- Eliana Silva de Souza

Artista versátil, e também um nome de destaque na luta pela igualdade social, Érico Brás foi reconhecid­o com um prêmio internacio­nal, entregue em setembro em Nova York. Ele integra agora a lista dos 100 Negros Mais Influentes do Mundo pelo Mipad (Most Influentia­l People of African Descent), junto com nomes como Chadwick Boseman (Pantera Negra), Meghan Markle (duquesa), Donald Glover (rapper) e Nbaba Mandela (neto de Nelson Mandela).

Feliz por esse momento que está vivendo, o ator comemora, aos 39 anos, também sua entrada na nova temporada da Escolinha do Professor Raimundo, que estreia no dia 25 – e não só por estar nesse time, mas por poder interpreta­r o Seu Eustáquio, personagem já vivido por Grande Otelo.

“Quando Cininha de Paula me chamou para fazer esse personagem, fiquei muito emocionado”, conta o ator. “A Escolinha está na infância de muita gente. Quando Chico Anysio a criou, ela virou um fenômeno. Quando eu voltava da escola, assistia ao programa e via o Grande Otelo com seu personagem tão engraçado. Isso me chamava a atenção e alimentava minha vontade de ser artista.” Para fazer o personagem, diz que vai com muita cautela, procurando se manter o mais fiel possível ao que já foi feito.

Esse baiano de Salvador logo cedo mostrou que tem um lado forte para as artes, para o humor, e foi em 2008 que ele surgiu nas telas dos cinemas ao lado de Lázaro Ramos em Ó Paí, Ó, filme de Monique Gardenberg, fazendo o personagem Reginaldo, papel que repetiu na TV em 2009 e que retornará em 2019 em uma sequência do longa. Outro papel que marcou sua carreira

e até hoje é lembrado é o de Jurandir, de Tapas & Beijos. “Um dia, quando eu fazia o Tapas, uma mãe mostrou que o filho havia pedido o mesmo corte de cabelo do Jurandir. Foi quando percebi a minha responsabi­lidade para com o público e as crianças”,

conta Érico.

Atualmente, o espectador se diverte com a participaç­ão do ator no humorístic­o Zorra – ele se diz muito grato pela indicação para integrar o programa. “Esse Zorra é diferente da versão anterior, tem um humor inteligent­e, renovado, e sabemos muito bem que a comédia ajuda a refletir sobre os mais diversos assuntos, e os atuais não podem passar despercebi­do na TV. Com o humor do programa, a gente ajuda a refletir sobre essas questões.”

E, para demonstrar que é versátil mesmo, Érico também está em cartaz até o dia 22, no Teatro Bradesco, no Rio de Janeiro, com o musical O Frenético Dancin’ Days. “Fui convidado por Deborah Colker e Nelson Motta para fazer um personagem especial, o DJ Dom Pepe, que foi amigo de Nelson, com quem fundou a boate Frenetic Dancing Days, que unia empregados e patrões no mesmo local”, explica. “O espetáculo proporcion­a uma viagem no tempo e a gente se diverte muito no palco, como o público também se diverte na plateia”, completa.

Mas com tanta realização nessas áreas – teatro, cinema, televisão –, Érico mostra que seu lado de ativista fala muito alto. “Eu estou sempre ligado na tentativa de resolver os problemas sociais, tanto que fui nomeado conselheir­o no Fundo de Populações das Nações Unidas, o que só faz ampliar o trabalho que eu a minha mulher fazemos de conscienti­zação”, conta. Para isso, sabe que sua atuação nas mídias ajuda a aumentar a abrangênci­a dessas ideias. “Sabemos que a ausência do negro e a falta de representa­tividade das classes sociais mais baixas é muito grande. Nossa luta é pedir, exigir que o setor de comunicaçã­o insira mais mulheres, negros, jovens”, conclui.

Agora, será que falta algo ainda na carreira dele? “Eu tenho um sonho muito grande, o de ser apresentad­or de programa, pois há poucos negros nessa área e eu sei que tenho jeito para isso. Se surgir uma oportunida­de, agarro com certeza”, revela o ator.

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DANIEL CHIACOS O ator. Ele vai interpreta­r o personagem com ‘cautela’

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