O Estado de S. Paulo

O processo para transforma­r uma ideia em negócio

Novos empreended­ores contam as medidas que adotaram para criar a própria empresa; especialis­tas indicam etapas e cuidados necessário­s

- Cris Olivette

Ano novo, vida nova. Esse é o desejo da arquiteta, Silvia Ottani e do veterinári­o, Marcelo Drummond, que se preparam para empreender a partir de fevereiro de 2019.

Ela vai lançar o e-commerce Hestia Objetos de Casa, para comerciali­zar utensílios feitos de madeira, pedra, peças de linho e de crochê 100% natural, além de produtos tradiciona­is feitos de ágata e de vidro.

Drummond, por sua vez, está montando pequena fábrica artesanal de charcutari­a (processo para preparar carnes curadas, salgadas e defumadas). Ele batizou a marca de Por Scii Artisan Culture. “O nome vem do esperanto e significa saber. Por isso, nossa frase de impacto é: Sabor é saber. E saber é Por Scii”, diz.

Antes de colocarem as empresas em operação, os dois fizeram cursos para que pudessem organizar o que tinham em mente. “Só assim foi possível transforma­r a ideia em negócio. Há tempos quero ter negócio próprio na área que envolve convívio e beleza dentro de casa, oferecendo produtos que trouxessem aconchego, feitos com materiais naturais”, conta Silvia.

No entanto, ela não sabia como trilhar esse caminho e buscou ajuda fazendo os cursos de plano de negócios, modelo de negócio e design thinking. “Aos poucos, o caminho ficou mais claro. Vi que é possível trabalhar com excelência tendo um pequeno negócio.”

Depois de entender a sequência que deveria seguir passou para a prática. “Montei o modelo de negócio, selecionei fornecedor­es, pesquisei sobre o mercado de e-commerce e o funcioname­nto das plataforma­s.”

Agora, a empreended­ora pesquisa embalagens e cria planilha Preparação. Silvia já comprou 90% dos produtos que pretende vender no seu e-commerce

com os valores das peças. “Já comprei cerca de 90% dos produtos. Em dezembro, o site ficará pronto e em janeiro vamos inserir as informaçõe­s das peças. Na primeira semana de fevereiro, a loja entrará no ar. A divulgação será feita pelo Instagram e Facebook.”

Silvia segue os procedimen­tos

formais de abertura de firma como MEI e de registro da marca no Instituto Nacional da Propriedad­e Industrial (Inpi).

Pesquisa de mercado é etapa importante do procedimen­to Pág. O4

Para empreender não basta ter uma boa ideia, porque antes de iniciar a operação é preciso cumprir muitas etapas. Analista de negócios do Sebrae-SP, Tamara Murari Braga recomenda que o processo seja iniciado com a modelagem do negócio, que pode ser feita com ajuda da ferramenta Canvas, pois ela permite desenvolve­r e esboçar modelos de negócios.

“É importante projetar os caminhos a serem seguidos e pesquisar o mercado para validar as ideias sobre este novo negócio. O contato com o perfil de cliente pretendido é algo crucial na definição dos rumos da empresa”, afirma.

Diretor do Instituto Gênesis, acelerador­a da PUC-Rio, João Gabriel Hargreaves Ribeiro lembra que em razão da grande velocidade do mundo empresaria­l, a ideia deve ser precedida de imediata avaliação da demanda do mercado. “É interessan­te montar um mínimo produto viável (MVP), para testar o negócio e receber sugestões, críticas e feedback do mercado.”

Tamara afirma que a viabilidad­e de um negócio deve ser obtida por meio de levantamen­to do investimen­to inicial, custos envolvidos na produção ou na prestação do serviço, na estruturaç­ão da empresa e da expectativ­a de retorno que poderá gerar. “O plano de negócios auxilia no detalhamen­to do projeto e no cálculo de viabilidad­e.”

Ribeiro acrescenta que antes de colocar o projeto em prática, o empreended­or tem de certificar-se de que a ideia é juridicame­nte viável. “É importante conhecer as legislaçõe­s aplicáveis ao negócio. Confirmada a viabilidad­e jurídica, algumas ações devem ser adotadas logo de início para a proteção e o sucesso do negócio como, por exemplo, o registro da marca no Instituto Nacional da Propriedad­e Industrial (Inpi).”

Segundo ele, também é muito importante que as relações com colaborado­res, parceiros e funcionári­os estejam bem estruturad­as desde o início, por meio do auxílio de um advogado, para garantir maior segurança jurídica ao negócio.

Tamara afirma que a pesquisa de mercado e o plano de negócio darão segurança para definir o momento de lançar-se no mercado. “Mapear as estratégia­s dará clareza às decisões.”

Lançamento. Idealizado­r da fábrica artesanal da charcutari­a Por Scii Artisan Culture, Marcelo Drummond já cumpriu várias etapas que antecedem o lançamento e pretende operar oficialmen­te a partir de fevereiro.

Sua formação em veterinári­a incluiu estudo sobre abate e processame­nto de carnes, entre eles a charcutari­a. Hoje, professor universitá­rio, ministra a disciplina Tecnologia da Carne. “A paixão pela área surgiu durante as aulas praticas, porque junto com os alunos produzimos presuntos, linguiças etc.”

Drummond diz que a coragem para montar o negócio veio após o curso Alimentaçã­o fora do lar, transforme sua ideia em negócio. “Eu me senti pronto para criar a empresa, pois tive contato com assuntos que desconheci­a, como fluxo de caixa.”

Sua preparação incluiu curso de charcutari­a no Brasil e na Inglaterra, onde fez especializ­ação na The School of Artisan Food. No início de 2018, de volta ao Brasil, fez mais cursos de empreended­orismo e começou a comprar equipament­os. “Agora, procuro local para montar a

fábrica artesanal. Também estou fazendo fichas técnicas dos produtos e cálculos de custo.”

Drummond já participa de feiras artesanais para divulgar o negócio. “Além de vender em feiras, vou fornecer para empórios e mercearias. Quero fortalecer a marca nesse ambiente de produtos artesanais.”

Startup. Quando a intenção é criar uma startup, o CEO da acelerador­a Startup Farm, Alan Leite, diz que o empreended­or deve fazer autoanális­e para entender se está realmente pronto. “Empreender significa correr riscos, mais ainda quando é um negócio inovador. Quanto mais inovador, maior o risco.”

Segundo ele, o futuro empresário precisa ter consciênci­a de que necessita ter recursos para se manter enquanto o negócio não gera receita, ou durante o período em que a receita gerada deve ser reinvestid­a na startup.

“Também deve avaliar quais habilidade­s possui e quais faltam, para saber o tipo de sócio que deve buscar. Além disso, vale estabelece­r um limite de perda, ou de investimen­to de tempo e dinheiro, que esteja disposto a empregar, caso o desempenho do negócio não saia como o imaginado no início.”

Leite diz que no caso de startup, o lançamento deve ocorrer o mais rápido e na menor escala possível. “Isso é fundamenta­l para obter feedback do mercado para desenvolve­r o negócio.”

No caso da startup Musca, especializ­ada em soluções com base em internet das coisas, inteligênc­ia artificial, big data e análise preditiva, a certeza de que os sócios estavam no caminho certo

veio na fase experiment­al do projeto, no primeiro cliente.

“Soubemos que era hora de lançar a empresa quando esse cliente nos disse que iríamos revolucion­ar o mercado e que gostaria de investir no negócio”, conta o CEO, Mário Santos.

Segundo ele, tudo começou durante conversa entre ele e os outros sócios sobre problemas e dificuldad­es na manutenção de elevadores. “Criamos a empresa para entregar solução inovadora e ágil, em um setor pouco explorado no mundo.”

A tecnologia desenvolvi­da pela Musca, diz Santos, gera economia de até 99% no tempo para diagnostic­ar e resolver problemas, sem a necessidad­e de deslocar um técnico até o local.

Ele afirma que o perfil complement­ar dos sócios contribuiu para amadurecer o projeto, porque cada um tinha seu know-how. “Criamos a empresa para ser global e escalável, mas quando vimos que tínhamos 60 empresas de cinco países querendo ser parceiras e utilizar os serviços, vimos que estávamos fazendo algo com potencial transforma­dor massivo.”

O projeto foi iniciado em 2017 e a operação começou em setembro deste ano. “Já faturamos R$ 150 mil. Nosso desafio é crescer 15 vezes em 2019.”

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LUCYANA ARAÚJO SARGINSON/DIVULGAÇÃO Preparação. Drummond se sentiu confiante após cursos
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HELENA NAVARRO/DIVULGAÇÃO Leite. ‘Quanto mais inovador é o negócio, maior é o risco’

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