O quase impossível resgate do San Juan
Omar é escuro e a luz do sol chega fraca apenas até os primeiros metros. A paisagem revelada pelo olhar eletrônico do navio Seabed Constructor é feita de ravinas, cânions, falésias e abismos. O bloco definido como Uno 15 foi escaneado ao menos quatro vezes na primeira fase das buscas, sem revelar indício do naufrágio. As 2.200 toneladas de metal do navio, ainda que implodido e inerte, deveriam produzir um sinal de anomalia magnética. Até a semana passada, nada havia sido detectado.
A equação para o içamento até a superfície, ou mesmo para um procedimento de reflutuação, não fecha – as tecnologias são raras, disponíveis talvez apenas em países como EUA, Rússia e China; eventualmente, França. Os custos seriam enormes. Há 44 anos, uma operação semelhante do Pentágono consumiu, ao longo de anos, acima de US$ 800 milhões. Atualizado por estimativa, o gasto, hoje, bateria US$ 1,5 bilhão, “considerados os avanços na tecnologia robótica e das novas ferramentas especializadas”, acredita o especialista L.C. Bernardi, que chefiou ações de recuperação de naufrágios comerciais. A 600 km do litoral de Comodoro Rivadávia, o relevo não ajuda. Há uma cordilheira rochosa em três níveis, de acordo com o mapeamento digital. O 1.º degrau, de ângulo agudo, vai de 250 a 360 metros, em meio a rochas esparsas. Depois, outro aclive, acentuado, tem níveis de 700 m a 800 m levando ao abismo: uma rampa de 3.000 metros, interrompida por terraços – o ponto máximo, a cerca de 6 mil metros, está na zona da profundezas abissais. O San Juan afundou próximo de um desses taludes. Há fragmentos espalhados de 70 a 150 metros ao redor do casco. É provável que apenas as sondas e os drones do Seabed Constructor tenham visto o San Juan pela última vez.