O Estado de S. Paulo

Competição é antídoto contra corrupção, diz Castello Branco

Futuro presidente da Petrobrás quer foco na exploração de petróleo e afirma que venda de ativos está sendo avaliada

- Mônica Scaramuzzo

O economista Roberto Castello Branco, anunciado pela equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) como futuro presidente da Petrobrás, disse a Mônica Scaramuzzo que “a competição será um antídoto contra a corrupção” na empresa. “A corrupção tem oportunida­de de se manifestar onde há monopólios, onde a escolha não é por mérito, nos centros das conexões políticas pelos favores.” Ele defende que a petroleira mantenha foco na exploração e produção de petróleo. “A Petrobrás desenvolve outras atividades que não são naturais e que não atraem retorno. A competênci­a é na exploração e produção de petróleo. Temos de levar a companhia a acelerar a exploração do pré-sal”, disse. Ex-diretor do BC e diretor da Vale, Castello Branco – que também já integrou o conselho de administra­ção da Petrobrás – afirmou que nos próximos dias se dedicará à elaboração de estratégia­s para a estatal. A privatizaç­ão de ativos da empresa está em avaliação, mas não a venda da própria companhia.

O economista Roberto Castello Branco, anunciado ontem pela equipe econômica de Jair Bolsonaro como futuro presidente da Petrobrás, como antecipou o Estado, defende que a petroleira mantenha o foco nas atividades para as quais tem competênci­a, como exploração e produção de petróleo. “A Petrobrás desenvolve outras atividades que não são naturais e que não atraem retorno. A competênci­a da Petrobrás é na exploração e produção de petróleo. Temos de levar a companhia a acelerar a exploração do pré-sal”, disse ao Estado.

Ex-diretor do Banco Central e ex-diretor da Vale, Castello Branco, que também já fez parte do conselho de administra­ção da estatal, disse que nos próximos dias vai se dedicar a estudar estratégia­s para a Petrobrás. A privatizaç­ão de ativos da companhia está em avaliação, mas vender a própria companhia, não. “Privatizar a Petrobrás, neste momento, não está em discussão. Nem tenho nenhum mandato do presidente Bolsonaro para fazer isso.” A seguir, os principais trechos da entrevista.

Que Petrobrás o sr. vai assumir a partir de janeiro e qual será o futuro dela?

O Pedro Parente (ex-presidente da estatal) começou um trabalho de compliance e redução de custos na companhia, que deverá ser mantido. Vamos continuar o processo de desalavanc­agem (redução de dívidas). A Petrobrás já andou muito nessa direção, mas precisa ainda continuar nessa linha porque os preços do petróleo, assim como de outras commoditie­s, são muito voláteis e se transmitem para o fluxo de caixa. Sobre alocação de capital, a Petrobrás tem de usar o capital onde vai obter maior retorno para os acionistas. O principal acionista da Petrobrás, temos de manter em mente, é o povo brasileiro.

Qual deve ser o foco da estatal?

É levar a empresa a acelerar a exploração do pré-sal. O présal é uma fonte de riqueza enorme. Temos uma grande oportunida­de agora, se deixarmos passar, daqui a duas ou três décadas, o panorama energético do mundo vai ser diferente e o petróleo não será tão importante como é hoje. Temos de aproveitar esta fase para trazer desenvolvi­mento econômico para o Brasil.

Como se faz isso?

A Petrobrás tem o que ela tem competênci­a para fazer, dentro dos seus recursos. Ela tem tecnologia, bom estoque de capital humano, de engenheiro­s e geólogos altamente especializ­ados. E é claro que ela não consegue fazer sozinha. O ideal é que se tenha mercados competitiv­os gigantes. Para mim, além das medidas de compliance, a competição é o melhor remédio contra corrupção. A corrupção tem oportunida­de de se manifestar onde há monopólios, onde a escolha não é por mérito, nos centros das conexões políticas pelos favores. Para a Petrobrás, a competição será um antídoto permanente contra esse tipo de coisa. A sociedade não tolera mais (corrupção).

Que atividades o sr. considera não serem estratégic­as para a companhia?

A Petrobrás desenvolve outras atividades que não dão um retorno natural. Um exemplo é a distribuiç­ão de combustíve­is. A Petrobrás ainda é dona da BR Distribuid­ora, que, no fim das contas, é uma cadeia de lojas. A competênci­a da companhia está na exploração e produção de petróleo. Também não faz sentido uma única companhia deter 98% de uma atividade no Brasil, que é o refino. A Petrobrás pode rever o monopólio nessa área. Eu sou a favor de regras, não de delegações a pessoas. Então, de novo, a competição é favorável a todos: à própria Petrobrás e ao Brasil. Faz bem ao desenvolvi­mento econômico do País. Dá maior liberdade aos mercados, gera mais investimen­tos, mais renda, mais emprego, mais arrecadaçã­o ao governo federal, governos estaduais e municipais.

Como o sr. pretende montar sua equipe?

A Petrobrás tem uma equipe excelente. Eu já fui conselheir­o, conheço diversas pessoas e sei que tem profission­ais muito bem qualificad­os. Não pretendo fazer nenhuma revolução dentro da empresa. Todos podem estar certos disso. Nos próximos dias, vou me dedicar pura e exclusivam­ente à Petrobrás.

“A corrupção tem oportunida­de de se manifestar onde há monopólios, onde a escolha não é por mérito, nos centros das conexões políticas pelos favores. A competição será um antídoto contra esse tipo de coisa.”

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO–15/3/2011 Estratégia. Castello Branco diz que avaliará vender ativos da Petrobrás, mas a companhia, não

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