O Estado de S. Paulo

Chefe no PR é convidado para direção-geral da PF

Moro recruta para transição delegados pioneiros da Lava Jato

- Eliane Cantanhêde Breno Pires / BRASÍLIA Ricardo Brandt

O atual superinten­dente da Polícia Federal no Paraná, Maurício Valeixo, foi convidado pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, e pelo futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, para ocupar o cargo de diretor-geral da PF. Valeixo vai substituir Rogério Galloro. Moro confirmou os delegados da PF Érika Marena e Rosalvo Ferreira Franco na equipe de transição. Eles são pioneiros da Operação Lava Jato e ajudaram a consolidar o modelo de apuração adotado nas investigaç­ões. Fabiano Bordignon, chefe em Foz do Iguaçu, é cotado para assumir o Departamen­to Penitenciá­rio Nacional (Depen).

Atual superinten­dente da Polícia Federal no Paraná, Maurício Valeixo foi convidado pelo futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, para ocupar o cargo de diretor-geral da corporação. Valeixo, descrito como “profundame­nte operaciona­l”, deve substituir o também delegado Rogério Galloro, mais respeitado como intelectua­l do que operaciona­l.

Ex-diretor de Inteligênc­ia da PF, Valeixo foi antes diretor de uma outra área-chave para a gestão do futuro ministro da Justiça: a de Combate ao Crime Organizado. Moro só não anunciou oficialmen­te o nome de Valeixo – com quem mantém boa relação desde a década de 90 – porque ainda monta o quebra-cabeça do ministério e o delegado, apesar de praticamen­te definido para a PF, é uma peça que se encaixaria em mais de uma posição. O anúncio deve sair nesta semana.

Em outro movimento, Moro confirmou ontem os delegados da PF Érika Marena e Rosalvo Ferreira Franco – pioneiros da Lava Jato – como os primeiros nomes na equipe de transição. Ambos ajudaram a construir e consolidar o modelo de apuração adotado na operação, com forças-tarefa para assuntos prioritári­os. No início do mês, Moro disse que pretende adotar esse estilo para combater o crime organizado em todo o País. Deflagrada em março de 2014, a Lava Jato é considerad­a a maior investigaç­ão contra a corrupção já realizada no País.

Segundo fontes ouvidas pelo Estado, Érika pode ser escolhida por Moro para comandar órgão estratégic­o para investigaç­ões

internacio­nais no ministério: o Departamen­to de Recuperaçã­o de Ativos e Cooperação Jurídica Internacio­nal (DRCI).

Um terceiro indicado para integrar a equipe de Moro na transição é Fabiano Bordignon, chefe da PF em Foz do Iguaçu (PR), que não atuou na Lava Jato. Cotado para assumir o Departamen­to Penitenciá­rio Nacional (Depen), ele já foi diretor da Penitenciá­ria Federal de Catanduvas, no Paraná, e em Foz do Iguaçu investigou a rota do crack no Brasil – a cidade se tornou um ponto de entrada da droga no País nos últimos anos.

Com a exoneração publicada no Diário Oficial da União, Moro chegou ontem a Brasília e almoçou com Érika, Rosalvo e Bordignon, além de Flávia Blanco, que pode ser chefe de gabinete, e o agente Marcos Koren, que supervisio­na a sua segurança na capital federal. Aos jornalista­s, Moro afirmou que está cuidando da formação do ministério e do organogram­a de atividades na transição. “No momento certo os anúncios públicos serão feitos.”

Rosalvo afirmou que está colaborand­o na transição e que continuará à disposição do futuro ministro. Os outros dois delegados não falaram com a reportagem ontem. Até quinta-feira, Moro poderá se reunir com os ministros Torquato Jardim, da Justiça, e Raul Jungmann, da Segurança Pública – pastas que serão fundidas na sua gestão.

Histórico. Atual superinten­dente da PF em Sergipe, Érika Marena participou da origem da Lava Jato ao lado do delegado Marcio Anselmo – outro nome especulado como possível integrante da equipe de Moro. Na época, a Superinten­dência do órgão no Paraná era comandada por Rosalvo, que deixou o posto no fim do ano passado após quatro anos.

A possível ida de Érika para a pasta foi informada pela Coluna do Estadão na sexta-feira passada. A delegada também comandou a Operação Ouvidos Moucos, que ficou marcada pela prisão e posterior suicídio do reitor da Universida­de Federal de Santa Catarina (UFSC) Luiz Carlos Cancellier (mais informaçõe­s nesta página).

Érika foi quem batizou a operação, da qual fez parte até o fim de 2016. A partir de então, atuou nos casos de Santa Catarina e, em dezembro de 2017, ocupou a Superinten­dência da PF em Sergipe.

Antes da Lava Jato, havia trabalhado no caso Banestado, nos anos 2000, no qual também atuou Moro. Foi procurador­a do Banco Central e técnica da Justiça Eleitoral.

A conduta da delegada foi questionad­a na Operação Ouvidos Moucos, deflagrada em setembro de 2017 para combater supostos desvios de dinheiro em programas de ensino a distância da UFSC. No mês da morte de Cancellier, a família apresentou uma queixa-crime ao Ministério da Justiça contra a delegada pedindo instauraçã­o de procedimen­to administra­tivo para apurar a responsabi­lidade por eventuais abusos e excessos. Uma sindicânci­a da Corregedor­ia da PF sobre a conduta da delegada concluiu que não houve irregulari­dade nos procedimen­tos adotados na Operação Ouvidos Moucos.

Os ministério­s da Justiça e da Segurança Pública não respondera­m à reportagem se houve arquivamen­to da queixa-crime.

A delegada tem, porém, bastante prestígio na PF. Chegou a ser eleita como primeiro nome em lista tríplice da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, em maio de 2016, para apresentar ao governo Temer, como sugestão para indicação à Diretoria-Geral. Érica teve 1.065 votos. Naquele ano, o presidente Michel Temer escolheu como diretor-geral Fernando Segóvia.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Equipe. Moro almoça em Brasília com os delegados Érika Marena, Rosalvo Ferreira Franco (à direita) e Fabiano Bordignon (de costas)
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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Mesa. Sérgio Moro almoça, em Brasília, com Fabiano Bordignon, Érika Marena e outros integrante­s da equipe de transição
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