O Estado de S. Paulo

Haddad vira réu, acusado de receber da UTC R$ 2,6 milhões

Ex-prefeito é acusado de receber R$ 2,6 mi da UTC Engenharia para saldar dívida de campanha eleitoral; defesa de petista rechaça denúncia

- Fausto Macedo Julia Affonso

O ex-prefeito de São Paulo e candidato derrotado à Presidênci­a Fernando Haddad (PT) se tornou réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de receber R$ 2,6 milhões em propina da UTC para quitar dívidas da campanha de 2012. O petista nega as acusações.

A Justiça de São Paulo abriu ação penal contra o ex-prefeito Fernando Haddad (20132016) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo o Ministério Público do Estado, o petista teria solicitado, entre abril e maio de 2013, por meio do então tesoureiro do seu partido, João Vaccari Neto, a quantia de R$ 3 milhões da empreiteir­a UTC Engenharia para supostamen­te quitar dívidas de campanha.

A Promotoria sustenta que, entre maio e junho daquele ano, a empreiteir­a efetivamen­te repassou a soma de R$ 2,6 milhões a Haddad – candidato derrotado do PT à Presidênci­a nas disputa deste ano. O dinheiro teria sido usado para pagar por serviços da gráfica de Francisco Carlos de Souza, ex-deputado estadual do PT.

A decisão foi tomada pelo juiz Leonardo Valente Barreiros, da 5.ª Vara Criminal da Capital, que acolheu parcialmen­te denúncia do MP. O magistrado rejeitou parte da acusação que imputava ao ex-prefeito o crime de quadrilha.

Além de Haddad e Vaccari, vão ser processado­s o empresário Ricardo Pessoa e o executivo Walmir Pinheiro Santana, ambos da UTC, o doleiro Alberto Youssef (suposto repassador dos valores) e o dono da gráfica.

Segundo o promotor Marcelo Mendroni, que integra o grupo do Ministério Público de combate a delitos econômicos, o então tesoureiro do PT “representa­va e falava em nome deHaddad”. O promotor afirma que constou da agenda de Haddad, quando já no exercício do cargo de prefeito de São Paulo, que ele recebeu o empreiteir­o da UTC pessoalmen­te, no dia 28 de fevereiro de 2013.

Mendroni sustentou que Ricardo Pessoa – que se tornou delator da Operação Lava Jato – já mantinha uma espécie de “contabilid­ade paralela” junto a Vaccari, relativa a propinas pagas em decorrênci­a de contratos de obras da UTC Engenharia S/A com a Petrobrás, com uma “dívida” a saldar, em pagamentos indevidos de propinas, da ordem de R$ 15 milhões.

“Ricardo Pessoa e Fernando Haddad, enquanto candidato ao cargo de Prefeito Municipal de São Paulo, haviam sido apresentad­os por José di Filippi Junior e se reuniram algumas vezes durante a campanha eleitoral no decorrer de 2012”, sustenta a Promotoria. Em sua decisão, o juiz escreveu que “a solicitaçã­o de R$ 3 milhões teria sido atendida”. “Sendo assim, Ricardo Pessoa a prometeu e ofereceu diretament­e para João Vaccari Neto e indiretame­nte para Fernando Haddad.”

Em nota, a defesa do ex-prefeito afirmou que a denúncia seria “mais uma tentativa de reciclar a já conhecida e descredibi­lizada delação de Ricardo Pessoa”. “Com o mesmo depoimento, sobre os mesmos fatos, de um delator cuja narrativa já foi afastada pelo STF, o Ministério Público fez uma denúncia de caixa 2, uma denúncia de corrupção e uma de improbidad­e. Todas sem provas, fundadas apenas na desgastada palavra de Ricardo Pessoa, que teve seus interesses contrariad­os pelo então prefeito Fernando Haddad. Trata se de abuso que será levado aos tribunais”.

Já o advogado criminalis­ta Luiz Flávio Borges D’Urso, defensor de Vaccari, afirmou que seu cliente “jamais foi tesoureiro de campanha e nunca solicitou qualquer recurso para campanha de quem quer que seja”.

“A captação e distribuiç­ão de recursos se desenvolve­ram através de esquema da própria UTC, por contratos de serviços fictícios.” Leonardo Valente Barreiros

JUIZ DA 5ª VARA CRIMINAL DE SP

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil