O Estado de S. Paulo

Prisão de Ghosn é vista como ameaça à fusão Renault-Nissan

Escândalo. Visto como ‘salvador’ do grupo, Carlos Ghosn é acusado de usar recursos da Nissan para benefício pessoal e de declarar a autoridade­s japonesas renda inferior ao valor que recebia; conselho da Nissan vai oficializa­r demissão do executivo na quin

- AGÊNCIAS INTERNACIO­NAIS /

O executivo brasileiro Carlos Ghosn, um dos responsáve­is pela união entre Renault e Nissan, foi preso no Japão, acusado de fraudar sua declaração de renda e de usar recursos corporativ­os para benefício pessoal. Analistas veem a prisão como ameaça à aliança entre as duas montadoras.

O executivo brasileiro Carlos Ghosn, que há quase duas décadas ajudou a orquestrar a união entre a francesa Renault e a japonesa Nissan, foi preso ontem no Japão. Conhecido pela capacidade de cortar custos e recuperar negócios em crise, Ghosn, de 64 anos, é acusado de fraudar sua declaração de renda e de usar recursos corporativ­os para benefício pessoal. A investigaç­ão foi originada a partir de uma denúncia interna e teve a colaboraçã­o da Nissan nos últimos meses. Analistas veem o caso como uma ameaça à aliança Renault-Nissan, selada há quase 20 anos.

O escândalo ocorre um ano após o executivo deixar o comando do dia a dia das operações da Nissan – ele, no entanto, manteve-se à frente do grupo que reúne as três montadoras, cargo no qual havia expressado o desejo de permanecer pelo menos até 2020. Ontem, diante da magnitude do problema, a Nissan divulgou uma nota pedindo “sinceras desculpas” pelas dificuldad­es que a investigaç­ão causará a acionistas e parceiros. A montadora japonesa marcou uma reunião do conselho para a próxima quinta-feira, na qual será votada a demissão de Ghosn. A saída do executivo é dada como certa.

A apuração das autoridade­s japonesas envolveu práticas de Ghosn e do executivo americano Greg Kelly. “A investigaç­ão mostrou que, por muitos anos, tanto Ghosn quanto Kelly informaram valores de remuneraçã­o no relatório de valores mobiliário­s da Bolsa de Valores de Tóquio que eram menores do que a quantia real, para reduzir a quantia divulgada da remuneraçã­o de Carlos Ghosn”, disse a Nissan, em um comunicado.

Após anos de êxito na França, Ghosn chegou ao Japão com fama de superestre­la corporativ­a. Um dos raros casos de estrangeir­o que conseguiu se manter no topo de um grupo japonês, o brasileiro se tornou tão célebre que sua história de vida chegou a ser contada em no estilo anime. A reverência tem razão de ser. Na Renault desde 1996, teve papel fundamenta­l na união com a Nissan, em

1999. O grupo também inclui a Mitsubishi desde 2016. Juntas, as três montadoras venderam 10,8 milhões de unidades em todo o mundo em 2017 – mais do que o volume individual de Toyota, Volkswagen e GM.

Na Nissan, Ghosn é creditado por salvar a japonesa do colapso financeiro. Ele implemento­u uma série de mudanças na companhia, incluindo o fechamento de cinco fábricas, o que resultou na demissão de 21 mil trabalhado­res. O executivo defendia que o mercado global de veículos de passeio era muito pulverizad­o. Por isso, adicionou a Mitsubishi à aliança. Outra “causa” do executivo foi o investimen­to em carros elétricos antes das rivais.

Riscos. A prisão do executivo brasileiro teve impacto direto nas ações da Renault, que fecharam em queda de 8,43% na Bolsa de Paris. Pela manhã, os papéis chegaram a recuar 13%. A saída de Ghosn deve levantar questões sobre o futuro da aliança que ele moldou e se compromete­u a consolidar e aprofundar ao longo dos próximos dois anos. “A reação inicial das ações mostra como ele é fundamenta­l nesse processo”, disse à Reuters o analista do Citigroup, Raghav Gupta-Chaudhary.

Para muitos analistas, o executivo é a “cola” que vem mantendo a aliança coesa. Já houve casos de fusões do setor automotivo que tiveram de ser desfeitas, caso da Daimler-Chrysler, que afundou em 2007.

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TOSHIFUMI KITAMURA / AFP-13/5/2015 Ameaça. Saída de Ghosn afetou ações da Renault, parceira da Nissan; papéis caíram 8,43%
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