O Estado de S. Paulo

Uruguai analisa asilo a ex-presidente peruano

Caso Odebrecht. Alan García, presidente do Peru em dois mandatos, está desde sábado na casa do embaixador uruguaio em Lima; ele alega ser alvo de perseguiçã­o política em ação que investiga se ele recebeu US$ 100 mil em propina da construtor­a Odebrecht

- LIMA

O governo do Uruguai aceitou avaliar o pedido de asilo político feito no fim de semana pelo ex-presidente peruano Alan García, acusado de corrupção no caso Odebrecht. García buscou refúgio no sábado na residência do embaixador uruguaio em Lima, horas depois de ter sido impedido de deixar o Peru pela Justiça. Ele alega sofrer perseguiçã­o política.

Ao diário El País de Montevidéu, o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, disse que Montevidéu aceitaria processar o pedido, mas não esclareceu se o asilo será concedido. O gabinete do presidente Tabaré Vásquez divulgou nota na qual declarou que esperaria informaçõe­s sobre o caso prometidas pelo governo peruano, antes de tomar uma decisão. Lima deve enviar documentos relativos às acusações até hoje.

“Como defensor das liberdades democrátic­as, me dirijo ao senhor para pedir proteção do Uruguai até que acabe o clima de perseguiçã­o política no meu país”, disse García em carta enviada a Vásquez.

Na tarde de ontem, García recebeu a visita de seus filhos na residência diplomátic­a. Dois grupos de manifestan­tes, pró e contra o ex-presidente, se reuniram no local. Segundo fontes do governo, o pedido de asilo surpreende­u o Executivo peruano. García pode deixar a residência do embaixador uruguaio, pois não há sentença contra ele. Caso o Uruguai confirme a concessão do asilo, ele precisaria de um salvo-conduto para viajar. Sem este passe, a tendência é que ele fique alojado na embaixada por tempo indetermin­ado.

O presidente do Peru, Martín Vizcarra, conversou na noite de domingo com Vásquez. Na ocasião, os dois debateram o pedido de asilo. Vizcarra argumentou que indícios no processo levaram a procurador­ia a impedir García de deixar o país. Vizcarra pediu a Vásquez que pondere os detalhes do caso, mas prometeu respeitar a decisão uruguaia.

“Na Cúpula das Américas de abril tratamos do tema da corrupção e governabil­idade e subscrevem­os o acordo de Lima, no qual nos compromete­mos a lutar contra a corrupção”, lembrou Vizcarra. “Não existe perseguiçã­o política no Peru. Todos os peruanos respondem à Justiça, sem exceções.”

“O governo do Uruguai decidirá sobre o caso depois de examinar a documentaç­ão enviada pelo governo do Peru”, disse a presidênci­a uruguaia em nota. Segundo uma fonte do governo peruano, se a chancelari­a uruguaia entender que existem mais elementos políticos que jurídicos na acusação, ela concederá o asilo, mas isso pode demorar porque a Convenção de Caracas não estipula prazos.

Retorno. Alan García chegou ao Peru na quinta-feira procedente da Espanha, onde mora, para depor ao Ministério Público sobre atos de corrupção ligados à construção da Linha 1 do metrô de Lima, no seu segundo mandato como presidente (2006-2011).

Após chegar a Lima, a procurador­ia solicitou à Justiça um mandado para impedir García de deixar o país depois de novos indícios da investigaç­ão apontarem que ele recebeu US$ 100 mil da Odebrecht por meio de uma empresa laranja. Procurada, a Odebrecht informou que não vai comentar o caso.

Fontes do MP acreditam que, caso deixe o país, García pode repetir o que fez em 1992, quando se refugiou na Colômbia e depois na França até que as acusações sobre corrupção em seu primeiro governo (1985-1990) prescreves­sem. Ele retornou ao Peru em 2001 e se elegeu quatro anos depois. “Tudo isso é uma cortina de fumaça para distrair o país da falta de emprego, alta dos preços e estagnação econômica”, disse o ex-presidente.

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ERNESTO ARIAS/EFE-15/11/2018 Asilo. García chega ao Ministério Público, em Lima

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