O Estado de S. Paulo

Líder do CV é levado para o Paraná

Marcelo Piloto, apontado como líder do Comando Vermelho, matou jovem dentro da cadeia. Decisão do presidente atropelou extradição

- /BRENO PIRES, FELIPE RESK, JOSÉ MARIA TOMAZELA, JULIANA DIÓGENES

O traficante Marcelo Piloto, líder do Comando Vermelho, é transferid­o de helicópter­o do Paraguai para Foz do Iguaçu. Ele ficará preso na penitenciá­ria federal de Catanduvas, no Paraná. Piloto é acusado de matar uma jovem dentro da prisão no país vizinho para evitar a extradição para o Brasil.

Líder do Comando Vermelho (CV), o narcotrafi­cante brasileiro Marcelo Pinheiro Veiga, o Marcelo Piloto, de 43 anos, vai ficar preso na penitenciá­ria federal de Catanduvas (PR), unidade de segurança máxima, após ter sido expulso ontem do Paraguai. Ele é acusado de usar uma faca de sobremesa para assassinar a jovem Lidia Meza Burgos, de 18 anos, no sábado, durante visita íntima na cadeia.

Preso em Assunção desde dezembro, Piloto foi expulso – e não extraditad­o – por ordem do presidente paraguaio Mario Abdo Benítez. A decisão foi comunicada pelo Twitter. “O nosso país não é uma terra de impunidade para ninguém”, escreveu. Vestindo tênis e um conjunto esportivo, o traficante foi entregue à Polícia Federal brasileira às 7 horas na Ponte da Amizade, que liga Ciudad del Este, no Paraguai, a Foz do Iguaçu (PR).

Segundo jornal paraguaio ABC Color, Piloto foi levado de Assunção a Ciudad del Este em helicópter­o da polícia brasileira. No transporte até a fronteira, teve o rosto coberto e usou colete à prova de balas. O documento de entrega foi assinado pelo delegado Carlos Eduardo Vieira, chefe do Núcleo de Inteligênc­ia da PF em Foz.

Antes da expulsão, autoridade­s do Brasil haviam entrado com pedido de extradição e o processo foi autorizado pela Justiça paraguaia em outubro. Advogados de Piloto, porém, recorreram da ação para forçar a permanênci­a dele no Paraguai.

Agora, o líder do CV deve responder ao processo de homicídio no Brasil, onde a pena máxima prevista é de 30 anos, mesmo que o assassinat­o tenha acontecido no país vizinho. No Brasil, ele já é condenado a uma pena de 26 anos – dos quais cumpriu dez – por outro crime.

Conforme o Ministério da Segurança Pública, a permanênci­a de Piloto em prisão federal é de caráter provisório. A definição se ele vai continuar em Catanduvas dependerá da avaliação do Departamen­to Penitenciá­rio (Depen).

Manobra. Embora tramitasse o pedido de extradição, a morte de Lidia fez o cenário mudar. O crime não só motivou a expulsão imediata do traficante, como também fez o Paraguai trocar o comando da Polícia Nacional. Este mês, o governo paraguaio também divulgou vídeo em que o CV ameaça de morte a procurador­a-geral do Paraguai, Sandra Quiñonez.

Para especialis­tas em facções criminosas, o homicídio foi uma “manobra” de Piloto para não ser transferid­o. “Ele sabe que no Brasil as circunstân­cias no presídio seriam mais severas”, disse o procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Márcio Sérgio Christino.

Um dia antes do crime, a Justiça já havia negado o pedido de casamento feito pela noiva do traficante, que também está presa. A união com uma paraguaia poderia dificultar a extradição.

Também há suspeita de que Piloto tenha ordenado a morte da sua advogada, a argentina Laura Marcela Casuso, de 54 anos, executada a tiros na semana passada. Supostamen­te, ele estaria insatisfei­to com o resultado de ações judiciais. Laura também representa­va o traficante brasileiro Jarvis Chimenes Pavão, ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) – a facção, rival do CV, domina a rota de drogas e armas na fronteira. Mas para especialis­tas, a expulsão de Piloto não deve ter grande impacto na disputa de território pelo crime. “Ele já tinha perdido força após ser preso”, disse Christino.

Para a advogada criminalis­ta Roselle Soglio, a expulsão de Piloto pode abrir “precedente perigoso”. Segundo ela, o Paraguai violou acordos bilaterais de extradição. “Ele não tem o direito de passar por cima de legislação supranacio­nal.”

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CHRISTIAN RIZZI / AFP
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AFP Operação. Criminoso foi entregue à Polícia Federal brasileira na cidade de Foz do Iguaçu

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