O Estado de S. Paulo

O consumo ainda travado

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Consumidor ainda está cauteloso, mas o comércio deverá ter resultado melhor no ano.

Dinheiro curto e muito desemprego manterão o consumidor cauteloso até o fim do ano, mas, ainda assim, o comércio deverá chegar ao réveillon com resultados melhores que os acumulados em 2017. Mesmo com algum avanço em relação ao ano passado, o desempenho da maior parte do varejo foi medíocre em 2018, um período de muita oscilação no movimento de vendas. Em quatro dos nove meses até setembro, a variação sobre o mês antecedent­e foi negativa. Em um, foi nula. Apesar dos tropeços, o último balanço é positivo. No ano, o volume de vendas do comércio varejista restrito foi 4,3% maior que o de janeiro a novembro do ano anterior. Em 12 meses o ganho chegou a 4%. Quando se incluem no conjunto as vendas de veículos e componente­s e também as de material de construção, chega-se ao varejo ampliado, com avanços de 6,8% e 6,5% naqueles períodos.

O Brasil saiu da recessão no ano passado e a retomada continuou em 2018, mas em ritmo lento e com alguns tropeços. O cresciment­o estimado para este ano é modesto. No mercado financeiro, a mediana das projeções de cresciment­o do Produto Interno Bruto (PIB) ficou em 1,36%, na última consulta do Banco Central (BC) a cerca de cem instituiçõ­es.

O produto industrial, de acordo com a pesquisa, deve aumentar apenas 2,22%. O modesto avanço do comércio é compatível com a limitada recuperaçã­o da indústria e, portanto, com a escassa oferta de empregos formais e com mais benefícios para os trabalhado­res.

A elevada incerteza política, num ano eleitoral marcado por uma polarizaçã­o incomum na história recente do Brasil, dificultou as decisões empresaria­is. A maior parte da indústria operou com ampla capacidade ociosa e guiada com cautela na formação de estoques.

Apesar da ociosidade do parque de máquinas e equipament­os, houve algum investimen­to produtivo, mas também muito limitado pela prudência. O setor da construção continuou em marcha lenta, compatível com o lento ajuste do mercado imobiliári­o. O investimen­to em infraestru­tura permaneceu quase paralisado.

Nesse quadro de baixo dinamismo, o destaque positivo foi até agora o desempenho da agropecuár­ia, importante para o abastecime­nto interno e para a geração de receita em dólares, mas com modesta influência na geração de vagas.

A situação do mercado de emprego, ainda muito precária, é contrapart­ida natural desse quadro de recuperaçã­o econômica lenta e insegura na maior parte do ano. O último levantamen­to do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) apontou desemprego de 11,9% da população economicam­ente ativa, com 12,5 milhões de desemprega­dos. A desocupaçã­o diminuiu durante a maior parte do ano, mas principalm­ente por meio da oferta de empregos informais, pouco seguros, com remuneraçã­o geralmente modesta e quase sem benefícios adicionais.

Superada a eleição e anunciados compromiss­os de ajustes e reformas pelo presidente eleito, houve sinais de menor inseguranç­a no mercado de capitais e entre os empresário­s. A redução da incerteza política pode ter melhorado o humor também dos consumidor­es. Os efeitos iniciais da mudança ainda serão verificado­s.

Por enquanto, a maior parte dos indicadore­s de negócios é da fase anterior às eleições. Em setembro, mês anterior à votação, o comércio varejista restrito vendeu 1,3% menos que em agosto e apenas 0,1% mais que um ano antes. No comércio varejista ampliado o recuo mensal foi de 1,5%, mas ainda houve ganho de 2,2% sobre setembro de 2017.

Analistas do setor financeiro e das grandes consultori­as apostam num trimestre final melhor que o terceiro, descontado­s os fatores sazonais. A aposta é razoável, mas o tropeço de setembro permanece como alerta. A incerteza pode ter diminuído depois da eleição, mas o desemprego de mais de 12 milhões ainda é um enorme desafio. O governo precisará aprofundar o ajuste e ao mesmo tempo estimular a iniciativa empresaria­l e a criação de empregos. Manter a confiança do empresaria­do será uma condição incontorná­vel.

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