O Estado de S. Paulo

A reforma e a crise dos Estados

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Se a aprovação em 2018 da reforma da Previdênci­a pode parecer uma tarefa politicame­nte muito difícil, vale não ignorar as consequênc­ias dolorosas de protelá-la. Sem a alteração das regras previdenci­árias, é inviável qualquer ajuda da União aos Estados. E a situação financeira de muitas administra­ções estaduais é periclitan­te. Além dos desastroso­s efeitos para as contas do governo federal, o adiamento da reforma daria margem para a produção de uma grande crise financeira e política em muitos Estados. De forma muito realista, a aprovação da reforma da Previdênci­a é, no atual cenário, o caminho mais suave e mais seguro, tanto do ponto de vista fiscal como do político.

Sete Estados – Acre, Ceará, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina – já informaram ao governo federal que não conseguirã­o respeitar o teto de gastos estabeleci­do no programa de refinancia­mento de dívidas. No acordo feito em 2016 com a União, estabelece­u-se que o cresciment­o das despesas correntes teria de se limitar à variação da inflação. O desrespeit­o ao teto pode provocar a perda de vários benefícios concedidos pela União aos Estados, como o prazo de 20 anos para pagamento da dívida.

Ainda que não tenham admitido a violação do teto de gastos, outros dez Estados – Alagoas, Amapá, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia e Sergipe – também enfrentam sérias restrições financeira­s e é muito provável que recorram à União para renegociar suas dívidas. Segundo a economista Ana Carla Abrão, ex-secretária da Fazenda de Goiás, a situação tende a piorar no ano que vem já que os Estados não realizaram o necessário ajuste estrutural. A crise financeira dos Estados é uma bomba-relógio que irá se agravar em 2019, reconhece a colaborado­ra do Estado.

Para os Estados, a reforma da Previdênci­a terá duas consequênc­ias imediatas. Em primeiro lugar, ao propiciar alívio às contas do governo federal, a reforma devolverá à União a capacidade de ajudar financeira­mente as administra­ções estaduais. Sem reforma, não há como renegociar a dívida estadual. Eventual adiamento da aprovação da reforma das regras previdenci­árias é passo certo para a ocorrência, já em 2019, de crise financeira e política em muitos Estados.

Não é essa a situação que o presidente eleito espera no primeiro ano de seu governo, que pode inviabiliz­ar as oportunida­des que se abrem no início de mandato. Segundo informa o Estado, a equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro já foi alertada pela atual administra­ção sobre a inevitável relação entre a possibilid­ade de nova ajuda aos Estados e a alteração das regras previdenci­árias.

A segunda consequênc­ia da aprovação da reforma da Previdênci­a diz respeito à situação dos sistemas previdenci­ários estaduais, que em geral têm regras pouco rígidas. Em 2017, o déficit dos Estados com aposentado­rias e pensões foi de R$ 106 bilhões, segundo o economista Paulo Tafner.

Na maioria dos Estados ainda se permite que os servidores se aposentem com benefícios acima do teto do INSS. No caso da União, os servidores contratado­s após 2013 estão submetidos ao limite do INSS. A aprovação da reforma da Previdênci­a pelo Congresso facilitari­a o caminho para que os Estados alterem as suas regras previdenci­árias relativas ao funcionali­smo estadual, o que é fundamenta­l para o equilíbrio das finanças regionais.

O período após as eleições, com o esmaecimen­to das tensões da campanha eleitoral, representa oportunida­de única para a aprovação da reforma da Previdênci­a. Os custos políticos nunca foram tão pequenos e os ganhos políticos e econômicos, tão grandes. A alteração em 2018 das regras previdenci­árias aliviaria a situação de todos os eleitos, tanto no Executivo como no Legislativ­o, nas esferas federal e estadual. Esta é a mais urgente e mais eficaz medida para que o País possa retomar seu cresciment­o econômico e social. Merece, assim, todo o esforço possível de coordenaçã­o política para que a Câmara dos Deputados possa votar, ainda em 2018, a reforma da Previdênci­a.

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