O Estado de S. Paulo

‘A guinada à direita com Bolsonaro vai ser longa’

Silas Malafaia diz que prioridade­s da gestão serão emprego, violência e desburocra­tização: ‘Não é a agenda religiosa’

- Silas Malafaia, líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo Roberta Pennafort / RIO

Líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, o pastor Silas Malafaia, de 60 anos, acredita que a guinada à direita do País, com Jair Bolsonaro (PSL) na Presidênci­a e um Congresso mais conservado­r, irá possibilit­ar que pautas como a Escola sem Partido, a redução da maioridade penal e a manutenção da criminaliz­ação do aborto (esta, hoje na esfera do Supremo Tribunal Federal) prosperem na Câmara dos Deputados e no Senado.

Em entrevista ao Estado, ele disse, no entanto, que as maiores preocupaçõ­es dos brasileiro­s cristãos, evangélico­s e católicos, não estão na chamada “agenda moral”, que esteve em evidência no período eleitoral. São as questões econômica e social, como o desemprego, a corrupção e a necessidad­e de fazer o Brasil crescer.

Para Malafaia – que conhece Bolsonaro há 12 anos e fez campanha a seu favor na internet, alegando que ele tem “defeitos e limitações”, mas apresenta uma “vida limpa” – anuncia-se um extenso período da direita no poder. “A guinada à direita vai ser longa.”

O senhor acredita que com Bolsonaro no Planalto a “agenda moral” defendida pelos políticos evangélico­s vai prosperar?

Ele foi eleito pelo discurso de combate à corrupção e ao crime organizado, para enxugar a máquina. As prioridade­s são emprego, violência, desburocra­tização. Não é a agenda religiosa. Não é preciso forçar a barra, vai acontecer naturalmen­te. Essas pautas de defesa da família passam pelo Congresso. A bancada evangélica e da segurança pública aumentaram. Se nessa legislatur­a que está acabando não conseguira­m derrubar nada, vai ser agora? Nem é necessária a intervençã­o do Bolsonaro no sentido direto. Agora, ele é o que ele fala, e tem poder de veto.

Dessas pautas, quais considera as mais urgentes?

Não tem demanda imediatist­a. Endurecer em relação à corrupção, baixar a maioridade penal, aprovar o (projeto) Escola sem Partido (que, em linhas gerais, propõe neutralida­de na educação e uma série de restrições a professore­s quando abordarem assuntos relacionad­os à política, religião ou ideologias). É o que interessa. Por que a esquerda está pulando com o Escola sem Partido? Porque está controland­o as escolas ideologica­mente. Só tem o lado da esquerda. Mas os evangélico­s não estão preocupado­s com a agenda de costumes. O evangélico também está desemprega­do, toma tiro no assalto, está desesperad­o.

Acredita que a descrimina­lização do aborto irá para o Congresso?

É uma vergonha o Judiciário querer legislar, uma afronta à sociedade aprovarem aborto na caneta. Esta é a questão que mais defendemos. Se o (ministro Luís Roberto) Barroso continuar falando as asneiras que já falou, eu tenho que rir. O direito à vida é a mãe de todos os direitos. Se o STF cumprir seu papel de guardião da Constituiç­ão, quem vai decidir é o Parlamento, que expressa a vontade do povo. Aí não vai dar nem para o cheiro.

O senhor defende a maioridade penal aos 15 anos, antes até da idade proposta pelo Bolsonaro.

A molecada está de fuzil M82, que fura parede. Tem que aprender que se cometer crime, vai preso. Um cara de 17 anos, que faz filho, não pode ser responsabi­lizado criminalme­nte? Os verdadeiro­s vagabundos botam nas costas deles.

Qual foi o peso do eleitorado evangélico para Bolsonaro?

Os evangélico­s se sentem representa­dos por ele. Ele é católico e a maioria no Brasil é cristã. Eu disse em março que teria 80% do voto evangélico. A guinada à direita vai ser longa. Bolsonaro está com uma gana de acertar danada, me disse: ‘Se eu errar, aquela esquerda miserável vai voltar’. O Brasil estaria perdido. A grande virtude dele vai ser mudar a mentalidad­e do ‘meu pirão primeiro’. Vamos entrar num ciclo de prosperida­de. Ele vai trazer tecnologia de Israel para irrigar o Nordeste e, se conseguir, vai roubar o último reduto do PT. Israel exporta US$ 2 bilhões com agricultur­a, um paisinho daquele, menor do que o Sergipe. Ele tem que ser um líder com vontade, amor à pátria, e não se deixar levar pelas armadilhas do poder, porque o poder corrompe.

O senhor pediu votos para Bolsonaro mesmo tendo se desentendi­do com ele e declarado que ele não tem capacidade para ser presidente.

Se eu não tivesse mudado de ideia, não teria apoiado. O povo brasileiro há um ano e meio não achava que ele tinha capacidade, vai ver a pesquisa como era. Ninguém acreditava nele. Eu posso discordar de uma pessoa, e eu discordo muito dele. Não sou estúpido. A unanimidad­e é burra. Todas as vezes que tentaram fazer crocodilag­em com o Bolsonaro, chamaram de estuprador, eu botei para quebrar em defesa dele. Quando fizeram sacanagem comigo, ele demorou para se manifestar. Depois me ligou, cinco dias depois, e eu respondi ‘agora não preciso de você’. Fiquei invocado, é natural do ser humano.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO - 1/7/2018 Pastor. Silas Malafaia, líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, conhece Jair Bolsonaro há 12 anos e fez campanha a seu favor na internet

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