O Estado de S. Paulo

Empate no fim amplia vexame alemão

Exemplo de gestão dentro e fora de campo em 2014, seleção da Alemanha vive crise e termina temporada rebaixada ao segundo escalão europeu

- Renan Cacioli

O empate por 2 a 2 com a Holanda, ontem, em Gelsenkirc­hen, serviu apenas para a já rebaixada Alemanha cumprir tabela na primeira edição da Liga das Nações e encerrar de forma melancólic­a uma temporada que teve inédita eliminação na fase de grupos da Copa do Mundo da Rússia, em junho, e um sentimento que os próprios alemães não esperavam vivenciar tão cedo.

O 7 a 1 que chocou o Brasil no Mineirão há quatro anos, seguido do título mundial conquistad­o sobre a Argentina, deu ao planeta – e em especial aos brasileiro­s – a sensação de que se estava diante do modelo de jogo a ser seguido no futebol, seja pelos conceitos táticos em campo, seja pela gestão fora dele.

Porém, os vexames deste ano encheram de pontos de interrogaç­ão o tal modelo e fizeram os próprios alemães se questionar­em se tudo aquilo, de fato, havia sido um marco na história do futebol ou apenas circunstân­cias de um jogo que tem como um de seus maiores atrativos justamente erguer e derrubar times num piscar de olhos.

“Ficamos muito entusiasma­dos e otimistas depois da Copa de 2014 e em 2017, quando ganhamos a Copa das Confederaç­ões

com um jovem time e vencemos a Euro Sub-21. Isso nos levou a acreditar que poderíamos realmente criar uma dinastia com a combinação dos campeões mundiais e de todos aqueles jovens talentos”, analisa Heiko Niedderer, repórter do jornal alemão Bild. “Mas talvez isso também tenha nos levado a uma arrogância em relação à seleção. Talvez o apetite por mais tenha se perdido pelo caminho”, admite o jornalista, que acompanha tanto a seleção nacional quanto o Bayern de Munique a serviço do periódico.

Base do grupo dirigido por Joachim Löw ao longo dos 12 anos de trabalho do treinador à frente da seleção, o Bayern é um bom termômetro do momento do futebol alemão. O atual hexacampeã­o é apenas o quinto colocado da liga nacional, a sete pontos de distância do Borussia Dortmund, e tem o técnico croata Niko Kovac na corda bamba. Na mira. Pouco antes do fiasco na Rússia, Löw teve seu contrato renovado para o quarto ciclo, ou seja, em tese estará no Mundial do Catar, em 2022. Mas os resultados negativos cobram seu preço e há quem questione a permanênci­a dele no comando. A maior reclamação é de que o técnico se agarrou à geração de 2014 e perdeu tempo precioso na renovação do time.

“Ele teve muito sucesso nos últimos anos. Ganhou uma Copa, todos o amavam. Pessoalmen­te, eu esperava por sua aposentado­ria. Mas Löw disse que analisou tudo e tem poder para a reconstruç­ão. A coisa mais importante será ele não se apegar aos heróis de 2014. Precisa dar mais chances aos jovens, como Sané, Brandt, Havertz e Gnabry”, diz Florian Plettenber­g, jornalista do canal Sport1.

Nos últimos jogos, já se vislumbra parte desse processo. Ontem, por exemplo, Thomas Müller, um dos ícones da geração de 2014, iniciou a partida no banco. Os resultados, porém, não ajudam. O time vencia a Holanda por 2 a 0 até os 40 do segundo tempo. Sofreu o empate nos acréscimos. Nesta temporada, a Alemanha venceu apenas quatro de 13 jogos, sendo três amistosos. A única vitória em duelos oficiais foi o 2 a 1 na Suécia, na Copa da Rússia.

 ?? JOHN MACDOUGALL/AFP ?? Decepção. Jogadores da Alemanha observam comemoraçã­o do gol de empate da Holanda, anotado pelo zagueiro Virgil van Dijk
JOHN MACDOUGALL/AFP Decepção. Jogadores da Alemanha observam comemoraçã­o do gol de empate da Holanda, anotado pelo zagueiro Virgil van Dijk

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