O Estado de S. Paulo

Política de preço é sinal de atraso

Executivo diz ser contra subsídios como os aplicados pelo governo federal ao diesel desde a greve dos caminhonei­ros

- Mônica Scaramuzzo

O economista Roberto Castello Branco, novo presidente da Petrobrás a partir de janeiro, é considerad­o um dos homens de confiança de Paulo Guedes, futuro ministro da Economia. Ao Estado, Castello Branco se posicionou totalmente contra a política de controle de preços dos combustíve­is que foi adotada pela ex-presidente Dilma Rousseff. “Não se vê política (de preços) para carne e para o arroz, por exemplo. Porque isso simplesmen­te é o mercado.”

Em maio, os caminhonei­ros pararam o País por causa do reajuste ao óleo diesel. O sr. acha que esse assunto foi bem conduzido pelo governo?

Não sei, porque não participei. Prefiro não dar opinião. Mas a raiz disso está na farra de crédito subsidiado do BNDES de 2007 a 2014. Isso, aliada à má condução da política econômica, levou o País a uma recessão brutal, afetando o setor de transporte de cargas.

O subsídio ao diesel tem de ser repensado?

Subsídio não resolve nenhum problema. Pelo contrário, acaba criando outros. Temos um sério problema de desequilíb­rio fiscal. Não é recomendáv­el que se mantenham subsídios como um todo. Vamos discutir essa questão mais à frente.

E a política de preços para os combustíve­is?

Acho horrível se falar em política de preços. Isso é um sinal do nosso atraso. Não se vê política (de preços) para carne e para arroz, por exemplo. Porque isso simplesmen­te é o mercado. O ideal é que tenhamos vários players de mercado e que cada um decida o que é o melhor para seus clientes. É o livre mercado.

O sr. já tem ideia de que ativos poderão ser vendidos pela companhia? Vamos avaliar. Os detalhes serão discutidos depois de uma análise criteriosa.

Parte das ações da BR Distribuid­ora já é negociada na Bolsa de Valores. O governo pode se desfazer de uma fatia maior da empresa?

Vamos decidir depois. A Petrobrás deverá vender ativos que não fazem parte do core business. Prefiro não especular.

A Liquigás, empresa de gás de cozinha, chegou a ser vendida, mas o negócio foi barrado pelo Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade).

Esse é um ativo que não faz sentido a Petrobrás ter no seu portfólio. O mercado de distribuiç­ão de gás liquefeito ao consumidor é concentrad­o. Vamos encontrar uma maneira de colaborar para a desconcent­ração, não para acentuar essa concentraç­ão.

Privatizar refinarias está no radar?

É algo que pode ser estudado. Há uma distorção onde uma única empresa detém 98% do negócio. É uma anomalia.

Há uma corrente mais liberal que defende a privatizaç­ão da própria Petrobrás...

Privatizar a Petrobrás, neste momento, não está em discussão.

Não tenho nenhum mandato do presidente Jair Bolsonaro para fazer isso.

Outro assunto defendido pelo mercado é a quebra do monopólio do setor de gás canalizado. Esses assuntos deverão ser tratados, mas não envolvem exatamente só a Petrobrás. Envolvem políticas públicas, Congresso. Podemos dar nossa contribuiç­ão com ideias, mas não depende da Petrobrás. O gás natural é uma fonte de energia que ainda é pouco tocada no Brasil. Temos um potencial grande de produzir em larga escala e atrair investimen­tos.

O sr. afirmou que o foco da Petrobrás deverá ser na exploração e produção. Qual modelo deverá prevalecer nesse processo?

Eu sou favorável a que se tenha um único regime de exploração, o da concessão para o mercado como um todo. No Brasil, há três regimes: concessão, partilha e tem ainda a cessão onerosa. Tenho forte preferênci­a por um único regime. A concessão. Ponto.

O sr. considera esse modelo mais atrativo para investidor­es? Acredito que os investidor­es gostam mais do regime de concessão. Temos de tornar o País atrativo para se fazer negócios. Isso significa mais emprego, mais renda e a construção de uma nação próspera.

Qual será o papel da Petrobrás no próximo governo?

Será de uma empresa estatal séria, produtiva e que contribua definitiva­mente para o desenvolvi­mento do País. Vamos investir mais em pré-sal, atuar em setores-chave e vender o que tiver de ser vendido. No Chile, temos o exemplo da Codelco, maior produtora de cobre do mundo, que convive com outros players no mercado global e contribui para o desenvolvi­mento da economia chilena. O Chile é a melhor economia da América Latina. É um exemplo a ser seguido.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO–15/3/2011 Papel. Para Castello Branco, a Petrobrás tem de manter o foco na exploração e produção

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