O Estado de S. Paulo

Barbra sem temer ninguém

Barbra Straisend fala de seu novo disco e de sua oposição a Trump

- Maggie Haberman THE NEW YORK TIMES

Eu despertava à noite com as ofensas de Trump rodando na minha cabeça e tinha de gravar um novo álbum para a Columbia Records” Barbra Streisand

CANTORA

BARBRA STREINSAND CANTORA

Barbra Streisand está com um novo álbum que é a materializ­ação musical do seu desconfort­o com relação ao presidente Donald Trump e um raro exemplo da sua visão política penetrando na sua música. Uma faixa do novo álbum, Don’t Lie to Me, é uma mensagem direta para seu conterrâne­o nova-iorquino que hoje controla o Salão Oval.

Há mensagens similares no novo álbum, intitulado Walls, a ser lançado na sexta-feira, que inclui também um cover de Imagine, de John Lennon mesclado com What a Wonderful World, de Louis Armstrong. A música que dá título ao álbum, Walls (Muros), alerta que as pessoas agora “os construíra­m onde não deveriam estar”.

Em entrevista por telefone da Califórnia, Barbra conversou com o The New York Times sobre uma série de assuntos, falando desde a sua música ao poder presidenci­al e o remake de Uma Estrela Nasce, e até sobre panquecas. Mas a política dominou a conversa. Ela respondeu a perguntas sobre o movimento #MeToo, discutindo a derrota de Hillary Clinton e sua crença de que o senador Al Franken, democrata de Minnesota, não deveria deixar o cargo depois de ser acusado de acariciar ou tentar beijar várias mulheres. Uma pergunta sobre sua última visita ao Brooklin suscitou uma reflexão sobre democracia e verdade. Os que se lembram dos seus ataques contra o senador John McCain em 2008 – e o massacre do senador republican­o do Arizona de The Way We Where no programa Saturday Night Live pode ser engraçado vê-la agora elogiando o senador, seu compatriot­a antiTrump.

Barbra não respondeu quando indagada se Trump havia feito alguma coisa positiva. Mas essa democrata fervorosa corria o risco de irritar, se não afastar, alguns dos seus fãs que podem concordar com o presidente em vários assuntos. Se ela ficou preocupada com isto, não demonstrou. Abaixo, então, trechos da entrevista:

O que a inspirou a gravar este álbum já que na sua arte não costuma ser abertament­e política? Eu despertava à noite com as ofensas de Trump rodando na minha cabeça e tinha de gravar um novo álbum para a Columbia Records. Assim, pensei, por que não ser um álbum sobre o que se passa na minha mente? E isso se tornou o título da primeira música. Fico muito grata por isso, por ter a música na minha vida como um meio de me expressar.

Os artistas têm obrigação de serem políticos agora?

No meu primeiro álbum, em 1962 mais ou menos, meu agente me deu o controle artístico. O que significa que ninguém podia me dizer o que cantar ou que nome dar ao meu álbum, ou mesmo como seria a capa. E isto para mim é importante. A verdade sempre me guiou e ver Trump corrompend­o a verdade diariament­e é muito doloroso. Provavelme­nte, vou desagradar muitas pessoas. Estou criando um álbum que tem de ter musicalida­de – tem de haver beleza na música. Não sei o que as pessoas vão pensar quando ouvirem. Pode trazer à tona coisas que estão na sua cabeça. Don’t Lie to Me, se você não viu o vídeo, dá uma ideia mais geral. Mas a música é otimista, interessan­te, bonita, contemporâ­nea. E expressa minha cólera, minha frustração. Tenho que ser verdadeira como artista e, se as pessoas gostarem, ótimo. Se não gostarem, não precisam nem comprar nem ouvir. Mas sempre pensei que a minha pessoa na vida real fosse mais importante do que a artista. Como cidadã, este é o meu papel.

E quanto a desagradar aos fãs de Trump que gostam da sua música?

Não importa. Lembro de estar no palco, em Washington, e perguntar para o público: “Estou curiosa em saber, quantos republican­os há na plateia?” Porque todos sabem que sou uma democrata ferrenha. Muitas pessoas levantaram o braço. Arte e música transcende­m a política, eu acho. E espero. Eu disse isto a George Bush.

Lembra de alguma coisa boa que Trump fez?

( Uma longa pausa). Ele é um homem perverso. Estou preocupada com as crianças, estou preocupada quanto à imagem que ele está projetando para elas.

O que pensa sobre a maneira como o setor de música vem tratando o movimento #MeToo? Não tive muitos problemas nesse aspecto. Quero dizer, depende de quantos álbuns você vendeu. Você sabe o que estou dizendo, se o artista é homem ou mulher. Isso importa mais em termos do controle. A ideia de estar no controle não é bem aceita. Acho que foi isto que sucedeu com Hillary Clinton. Uma mulher de substância, articulada, experiente no aspecto de governar, digna, que tinha tudo para ser uma maravilhos­a presidente dos Estados Unidos, que parece não ser importante porque acho que as mulheres poderosas e fortes são vistas com suspeita.

Está satisfeita como a forma com que as mulheres estão contra-atacando?

Sim, embora no caso de uma pessoa como Al Franken eu fico consternad­a, e acho que ele estava certo quando disse no início que “renunciare­i quando Trump renunciar”, e também no caso de alguém acusado de agredir sexualment­e pelo menos três mulheres e ser o presidente dos Estados Unidos. TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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RYAN PFLUGER/THE NEW YORK TIMES Democrata convicta. Barbra chegou a perguntar quantos republican­os havia em sua plateia

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