Instagram inaugura nova era na moda
Transformação promovida pela plataforma neste mercado é tão importante quanto a do Waze nos transportes
Um dos mais transformadores vetores da moda de hoje não vem da genialidade de um estilista visionário nem de novas tecnologias têxteis. Fruto das mentes de dois engenheiros de software norte-americanos, ele acaba de completar oito anos e atende pelo nome de Instagram. Seu impacto na indústria pode ser comparado ao terremoto causado por Netflix, Amazon Prime Video e YouTube no mercado audiovisual ou ao de ferramentas como Waze e Uber na maneira como nos deslocamos pela cidade.
“O Instagram conseguiu popularizar o acesso aos bastidores do mercado de luxo, um tipo de ambiente antes restrito a um grupo muito pequeno de privilegiados. Ele aproximou marcas e consumidores, fortaleceu comunidades com interesse específico, impulsionou movimentos pela diversidade e bem-estar e se tornou uma vitrine de exposição global”, resume Eva Chen, um ex-editora de revistas que hoje é diretora de parcerias de moda da plataforma.
Uma rede social baseada na criação e no compartilhamento de imagens, de preferência belas e marcantes, e em que a efemeridade também é um fundamento, o Instagram tinha tudo para se aproximar desse universo. “É a rede onde o assunto moda experimenta seu maior alcance e engajamento”, afirma Paulo Borges, o idealizador da São Paulo Fashion Week. “Era a plataforma ideal para provocar essa revolução tecnológica e de discurso que afetou o jeito de as marcas se comunicarem e de o jornalismo de moda ser feito”, completa Daniela Falcão, diretora-geral da Edições Globo Condé Nast, detentora dos títulos Vogue e GQ no Brasil. “É sem dúvida a ferramenta que mais traduz o nosso negócio”, concorda Adriana Bozon, diretora de criação do grupo InBrands, dono de grifes como Ellus, Bobstore e VR, resumindo o sentimento geral.
Tamanha consideração pelo ‘Insta’ não é exagero. Ele tem um público declarado de mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo, 50 milhões deles só no Brasil. É uma audiência potencialmente gigante que está na mira de nomes consagrados e de novatos na moda.
Com cerca de 15 anos de mercado, a mineira Patricia Bonaldi ganhou destaque no País com suas criações coloridas e ricas em bordados assim como por estar entre uma das marcas favoritas das influenciadoras de moda, o que lhe permitia uma enorme mídia espontânea. “Aconteceu sem estratégias, sem fórmulas, de uma maneira gradual, passo por passo”, diz a estilista, que hoje vende também na Harrod’s, em Londres, e na Saks, em Miami. “A velocidade do desejo se intensificou e percebo uma mudança no comportamento da consumidora, que demonstra interesse em conhecer a marca mais a fundo”, avalia.
Fundada em 2012, a fastfashion Amaro é uma nativa digital. Tem no Instagram uma das suas mais importantes vitrines e foi a primeira empresa brasileira de moda a testar uma ferramenta de vendas diretas dentro dele. Estabelecida desde março, ainda não faz um sucesso estrondoso, mas é considerada promissora. “Estamos num momento de educar as pessoas. Temos visto um crescimento e esperamos que ele continue ao longo dos anos”, explica Denise Door, head de brand marketing da Amaro. No caso do e-commerce, o Insta ainda é usado para direcionar o desenvolvimento de produtos. “Aproveitamos a interação com as clientes para buscar alguns insights. Geramos perguntas sobre tipos de sapatos e roupas para entender melhor as preferências”, diz.
As passarelas, claro, também vêm sendo transformadas a partir de movimentos impulsionados pela rede. “Um desfile hoje vai muito além dos dez minutos da passarela. Ele é contado antes, com todas as imagens de inspiração, durante, para além dos looks desfilados, multiplicando as informações desde o processo de beleza. Ele potencializa o alcance das narrativas e permite que aquilo continue reverberando”, observa Paulo Borges.
No império do efêmero da moda e também das redes, entretanto, a única certeza é que tudo passa. “O Instagram é uma coisa de agora”, aponta Daniela Falcão. “O que a gente comemorou como a democratização que as redes trouxeram, ficou exacerbada. Vem aí uma volta à privacidade, a uma forma mais linear de comunicação”, prevê.