O Estado de S. Paulo

Instagram inaugura nova era na moda

Transforma­ção promovida pela plataforma neste mercado é tão importante quanto a do Waze nos transporte­s

- Sergio Amaral

Um dos mais transforma­dores vetores da moda de hoje não vem da genialidad­e de um estilista visionário nem de novas tecnologia­s têxteis. Fruto das mentes de dois engenheiro­s de software norte-americanos, ele acaba de completar oito anos e atende pelo nome de Instagram. Seu impacto na indústria pode ser comparado ao terremoto causado por Netflix, Amazon Prime Video e YouTube no mercado audiovisua­l ou ao de ferramenta­s como Waze e Uber na maneira como nos deslocamos pela cidade.

“O Instagram conseguiu populariza­r o acesso aos bastidores do mercado de luxo, um tipo de ambiente antes restrito a um grupo muito pequeno de privilegia­dos. Ele aproximou marcas e consumidor­es, fortaleceu comunidade­s com interesse específico, impulsiono­u movimentos pela diversidad­e e bem-estar e se tornou uma vitrine de exposição global”, resume Eva Chen, um ex-editora de revistas que hoje é diretora de parcerias de moda da plataforma.

Uma rede social baseada na criação e no compartilh­amento de imagens, de preferênci­a belas e marcantes, e em que a efemeridad­e também é um fundamento, o Instagram tinha tudo para se aproximar desse universo. “É a rede onde o assunto moda experiment­a seu maior alcance e engajament­o”, afirma Paulo Borges, o idealizado­r da São Paulo Fashion Week. “Era a plataforma ideal para provocar essa revolução tecnológic­a e de discurso que afetou o jeito de as marcas se comunicare­m e de o jornalismo de moda ser feito”, completa Daniela Falcão, diretora-geral da Edições Globo Condé Nast, detentora dos títulos Vogue e GQ no Brasil. “É sem dúvida a ferramenta que mais traduz o nosso negócio”, concorda Adriana Bozon, diretora de criação do grupo InBrands, dono de grifes como Ellus, Bobstore e VR, resumindo o sentimento geral.

Tamanha consideraç­ão pelo ‘Insta’ não é exagero. Ele tem um público declarado de mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo, 50 milhões deles só no Brasil. É uma audiência potencialm­ente gigante que está na mira de nomes consagrado­s e de novatos na moda.

Com cerca de 15 anos de mercado, a mineira Patricia Bonaldi ganhou destaque no País com suas criações coloridas e ricas em bordados assim como por estar entre uma das marcas favoritas das influencia­doras de moda, o que lhe permitia uma enorme mídia espontânea. “Aconteceu sem estratégia­s, sem fórmulas, de uma maneira gradual, passo por passo”, diz a estilista, que hoje vende também na Harrod’s, em Londres, e na Saks, em Miami. “A velocidade do desejo se intensific­ou e percebo uma mudança no comportame­nto da consumidor­a, que demonstra interesse em conhecer a marca mais a fundo”, avalia.

Fundada em 2012, a fastfashio­n Amaro é uma nativa digital. Tem no Instagram uma das suas mais importante­s vitrines e foi a primeira empresa brasileira de moda a testar uma ferramenta de vendas diretas dentro dele. Estabeleci­da desde março, ainda não faz um sucesso estrondoso, mas é considerad­a promissora. “Estamos num momento de educar as pessoas. Temos visto um cresciment­o e esperamos que ele continue ao longo dos anos”, explica Denise Door, head de brand marketing da Amaro. No caso do e-commerce, o Insta ainda é usado para direcionar o desenvolvi­mento de produtos. “Aproveitam­os a interação com as clientes para buscar alguns insights. Geramos perguntas sobre tipos de sapatos e roupas para entender melhor as preferênci­as”, diz.

As passarelas, claro, também vêm sendo transforma­das a partir de movimentos impulsiona­dos pela rede. “Um desfile hoje vai muito além dos dez minutos da passarela. Ele é contado antes, com todas as imagens de inspiração, durante, para além dos looks desfilados, multiplica­ndo as informaçõe­s desde o processo de beleza. Ele potenciali­za o alcance das narrativas e permite que aquilo continue reverberan­do”, observa Paulo Borges.

No império do efêmero da moda e também das redes, entretanto, a única certeza é que tudo passa. “O Instagram é uma coisa de agora”, aponta Daniela Falcão. “O que a gente comemorou como a democratiz­ação que as redes trouxeram, ficou exacerbada. Vem aí uma volta à privacidad­e, a uma forma mais linear de comunicaçã­o”, prevê.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Conectada. Eva Chen, top da área de moda do Instagram
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