O Estado de S. Paulo

Escrito nas estrelas

Observatór­ios para viajar nos mistérios do céu

- Peter Kujawinski SAN PEDRO DE ATACAMA THE NEW YORK TIMES

Depois de horas de solavancos em aviões e ônibus, finalmente deparei com um imenso céu noturno. Minha jornada parecia ter me levado para o espaço interestel­ar, e não ao platô do deserto do Atacama, no Chile.

Foi a primeira de uma série de visitas a observatór­ios de astronomia no Chile, Los Angeles e Havaí. Projetados para uso profission­al ou para o público em geral, esses observatór­ios nutrem as exploraçõe­s do cosmos pela humanidade. Provocam admiração e descoberta­s.

No Atacama, nosso grupo passou quase cinco horas com os olhos fixos no céu noturno. Este é o deserto mais seco do mundo. A combinação de aridez, grande altitude e baixa população resulta em condições excepciona­is de observação.

San Pedro de Atacama oferece diversos tours para ver o céu à noite, mas esta área não é apenas para amadores. O Chile, especialme­nte o Atacama, abriga 70% dos observatór­ios astronômic­os profission­ais do mundo, se incluirmos os enormes em construção como o Telescópio Gigante de Magalhães.

Eu queria visitar o Alma (Atacama Large Millimeter Array). Projetado por um consórcio internacio­nal de países, o Alma é “o mais complexo observatór­io astronômic­o já construído na terra”, segundo o National Radio Astronomy Observator­y, dos Estados Unidos.

A ambição e a escala do observatór­io Alma fazem dele um local popular entre turistas apaixonado­s pelo céu. É difícil fazer uma reserva, embora o isolamento do local colabore com o viajante de última hora. Todos os sábados e domingos, um ônibus sai de San Pedro de Atacama e leva turistas para visitarem a base de apoio das operações do Alma, no deserto, a meia hora de distância. Apesar de os bilhetes grátis esgotarem com meses de antecedênc­ia, as pessoas que não possuem reservas chegam assim mesmo no ponto de ônibus e com frequência são recompensa­das.

O observatór­io fica quase 3,2 quilômetro­s acima do nível do mar. A sensação é de uma colônia espacial, talvez por causa da sua limpeza e seu terreno desfavoráv­el. Ou por causa das condições extremas do ambiente. As temperatur­as na região congelam à noite e assam durante o dia.

Visitamos o campo base, o centro de controle, e Otto, um dos dois transporta­dores de antenas. Imagine uma fábrica de ferramenta­s em Marte – é essa a ideia. A sala de controle, operada 24 horas por dia, tem um ambiente que não combina com o custo de US$ 1,4 bilhão da instalação. Nada mais do que algumas mesas e cadeiras, muitos computador­es e um único umidificad­or que é o modelo exato daquele que tenho no quarto dos meus filhos.

A pesquisa do Alma é tão complexa quanto é simples sua motivação. Basicament­e o objetivo do observatór­io é buscar as razões pelas quais nós somos seres humanos em vez de nebulosas flutuando no vazio. Por exemplo, o observatór­io achou uma forma simples de açúcar no gás que envolve uma estrela jovem, demonstran­do que algumas das bases químicas da vida na Terra também existem em galáxias distantes.

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BETH COLLER/NYT Contemplaç­ão. Instalaçõe­s do Mauna Kea, no Havaí (no alto); interior do Griffith; e Alma, no Chile, visto do deserto
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MARCO GARCIA/NYT

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