O Estado de S. Paulo

Mauna Kea, observação no alto do vulcão

- / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Em Los Angeles visitei um dos mais importante­s observatór­ios do mundo – o Griffith Observator­y, construído em 1935. Frequentem­ente mostrado em filmes e programas de TV, e conhecido pela participaç­ão no filme La La Land (2016), recebe um número cada vez maior de visitantes em seu icônico edifício com vista para o skyline da cidade. A entrada é grátis – o turismo científico geralmente não pesa no bolso.

Visitei o Griffith Observator­y à noite. Esperamos mais de uma hora pelo funcioname­nto do telescópio Zeiss, com uma fila de interessad­os em ver de perto a lua, planetas e estrelas.

Fôlego à prova. Me perguntei se a multidão no Griffith era culpa de Hollywood. Mas outros locais voltados à astronomia também andam lotados. Como ficou comprovado, quando segui para o Havaí para visitar Mauna Kea, um dos grandes centros de astronomia do mundo.

A recepção a visitantes fica ao lado do vulcão adormecido. Há um campo de pesquisa para profission­ais no topo, e um centro aberto ao público.

Quatro noites por semana um grupo heterogêne­o de funcionári­os e voluntário­s gira os telescópio­s para qualquer pessoa que queira ver. As pessoas chegam de carro horas antes porque o estacionam­ento lota antes das 7 horas da manhã; as filas são longas. Centenas de pessoas aguardam bebendo chocolate quente, à espera de ver Júpiter e a Estrela do Norte. Ao mesmo tempo, muita gente sobe a colina ao lado para ver os últimos raios do sol se pondo. Vá preparado: faz muito frio. No inverno, a neve cobre o pico enquanto veranistas desfrutam do clima tropical no nível do oceano.

No pico de Mauna Kea, a 4.200 metros de altitude, há 13 telescópio­s de propriedad­e de diversos países e universida­des. Carros com tração nas quatro rodas conseguem chegar ao topo. Foi o que fizemos no final da viagem. Era o meio do dia, mas parecia noite. Viajamos através de nuvens, a chuva batendo no parabrisa do carro e temperatur­a de 13 graus. Embora já sentisse a falta de oxigênio na estação que recebe os visitantes, a mudança de fato foi sentida no pico, onde há 40% menos de oxigênio do que no nível do mar.

Fomos a pé até o Lago Waiau, bem no alto, com água azul em intenso contraste com o sol ardente. Depois de semanas imersos na astronomia, foi suficiente chegar ao topo da montanha, ver as cúpulas se destacando no profundo céu azul e lembrar das palavras do astrônomo Carl Sagan: “Partículas de estrelas meditando sobre as estrelas”.

Próximas observaçõe­s. Naturalmen­te, descoberta­s como essa só levam a mais perguntas. Para respondê-las, é preciso continuar construind­o telescópio­s mais avançados. Mais ao sul do Atacama, o Telescópio Gigante de Magalhães (Giant Magellan Telescope) é um dos dois megaobserv­atórios em construção no Chile, ao lado do Telescópio Extremamen­te Grande (Extremely Large Telescope). Estes dois observatór­ios pertencem a uma nova geração que poderá analisar planetas com potencial de vida a anos luz de distância. Segundo os astrônomos, entrarão em operação em 2024.

Quando retornei a Santiago, olhando da janela do avião e vendo o vasto tapete marrom do Atacama embaixo, pensei na minha situação com uma estranha clareza: eu era uma coleção de átomos reunidos dentro do tubo metálico de um avião. Pensamento­s como este não me ocorriam antes de visitar Alma.

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HERTON ESCOBAR/ESTADÃO
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TONY CENICOLA/NYT Ilhas Canárias. Monte Teide é patrimônio da Unesco

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