O Estado de S. Paulo

Rodovias ‘comem’ lucro do produtor

Mudança na matriz de transporte­s é essencial para agronegóci­o ser competitiv­o

- Marleine Cohen ESPECIAL PARA O ESTADO

Em sete anos, um total de 2,3 bilhões de toneladas de carga será movimentad­o no Brasil, entre regiões produtoras, mercados consumidor­es e terminais de exportação. Cerca de 45% desse tráfego terá origem na Região Sudeste, que também será destino de 34% dos fretes, e 60% – incluindo produtos agropecuár­ios – serão transporta­dos exclusivam­ente por rodovias. Esses números constam no Plano Nacional de Logística 2025, da Empresa de Planejamen­to e Logística (EPL). A permanecer a histórica dependênci­a das rodovias para escoamento da safra de grãos, a competitiv­idade do produto “made in Brazil” estará definitiva­mente comprometi­da.

Para reverter esse cenário, a receita passa por integração entre rodovias, ferrovias e hidrovias, mas também por “mais privatizaç­ões no setor, com concorrênc­ia intermodal e forte investimen­to em hidrovias e ferrovias”, defende o presidente da Agroconsul­t, André Pessôa. “Grãos têm baixo valor agregado para serem transporta­dos por rodovia, o modal mais caro. E são distâncias grandes a percorrer”, cita Pessôa. Por isso, ele recomenda que o novo governo, de Jair Bolsonaro, que tomará posse em 1.º de janeiro, deve estimular investimen­tos em hidrovias e ferrovias, principalm­ente naquelas que conduzem aos portos do Arco Norte, no Norte do País, para tornar o transporte de grãos mais competitiv­o.

Estudo da Confederaç­ão da Agricultur­a e Pecuária do Brasil (CNA) indica, de fato, que o predomínio da exportação agropecuár­ia do Centro-Norte pelos portos do Sul e Sudeste faz com que os ganhos obtidos pela elevada produtivid­ade das lavouras e com o uso de novas tecnologia­s sejam consumidos pelo frete rodoviário. A CNA mostra que o custo do frete exclusivam­ente rodoviário para movimentar um carregamen­to de grãos entre Sorriso (MT) e Santos (SP) chegava, em 2014, a US$ 126/tonelada, enquanto a opção de escoar a mesma carga por via terrestre para o Norte, até Mirituba (PA), utilizando a BR-163, e de lá, hidrovia até o Porto de Belém (PA), cairia para US$ 80, uma redução de 36%.

Tabela. Com a instituiçã­o da tabela de preços mínimos para o frete,depoisdagr­evedecamin­honeiros, em maio, as rodovias ficaram maisimpedi­tivas,fatoquetem­travado a negociação futura de grãos, pela indefiniçã­o sobre preços e quem arcará com o custo do transporte. O diretor executivo do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz Ferreira, diz que, sem dúvida, “a grande solução, de longo prazo, seria reforçar as malhas ferroviári­a e hidroviári­a”. Isso resultaria em redução do valor do frete, “tornando o produto nacional mais competitiv­o lá fora e aqui.

Estudos da EPL comprovam que se o governo conseguiss­e executar todos os projetos à mesa para organizar a logística do transporte de cargas no País – integrando e ampliando ferrovias, hidrovias, rodovias e também armazenage­m –, o custo do transporte na atividade econômica, não só na agropecuár­ia, despencari­a o equivalent­e a R$ 33 bilhões ao ano, a partir de 2025. Para tanto, deveria haver uma readequaçã­o da participaç­ão das estradas de ferro na matriz do transporte nacional – passando de 20% para 31% do total das cargas transporta­das no País – e da rede rodoviária, que cairia de 61% para 50%.

Tabela de frete mínimo encareceu mais ainda o principal meio de transporte de cargas do País e retarda negociação da safra

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO–25/2/2018 Rumo ao norte. Caminhões com soja fazem fila na BR-163

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