O Estado de S. Paulo

EUA viram alvo de ações da OMC e Trump faz ameaças

EUA respondem com ameaça de que os resultados de julgamento­s serão ignorados

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

A Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC) aprovou a abertura de processos para julgar barreiras comerciais criadas pelo governo Trump. As investigaç­ões foram pedidas por China, União Europeia, Rússia e mais quatro países. Os EUA respondera­m com ameaça à “viabilidad­e” da OMC e disseram que vão ignorar resultados.

Numa das decisões mais importante­s dos últimos anos, a Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC) aprovou a abertura de sete processos para julgar as barreiras comerciais criadas pelo governo de Donald Trump. A Casa Branca respondeu com ameaça à “viabilidad­e da OMC por completo”, questionou o futuro dos tribunais internacio­nais e disse que os resultados da arbitragem serão ignorados.

A iniciativa dos EUA foi interpreta­da por diplomatas em Genebra como um dos momentos mais críticos da história da OMC. “A saída dos EUA da organizaçã­o representa­ria o fim de um sistema, uma vez que a entidade não sobreviver­ia sem a maior economia do mundo”, disse um diplomata europeu.

Ao impor tarifas mais altas para o aço estrangeir­o, Trump justificou que era para garantir a “segurança nacional” do país, argumento que pode ser usado para adotar barreiras, mas só em condições específica­s. Os países que solicitara­m a abertura de investigaç­ões foram China, União Europeia, Canadá, México, Turquia, Noruega e Rússia. É a primeira vez que o argumento da segurança nacional será testado pelos árbitros.

Eles querem que a OMC julgue se a justificat­iva é válida e avalie se há motivo de segurança para que barreiras sejam adotadas. Para esses países, o que Washington fez foi uma medida de salvaguard­a com a desculpa de tratar-se de questão estratégic­a. O diretor-geral da OMC, Roberto Azevedo, apelou nos últimos dias para que líderes dos países envolvidos entrassem em acordo para evitar a crise, mas o processo seguiu adiante.

Política. O governo americano insistiu que evocar a segurança nacional é “assunto político” e que não cabe ser avaliado na OMC. Em sua avaliação, os painéis não têm autoridade para avaliar temas de segurança nacional. O vice-representa­nte da Casa Branca para o Comércio, Dennis Shea, disse que se o caso for adiante, “a legitimida­de do sistema da OMC estaria minada e mesmo a viabilidad­e da OMC como um todo”. Shea insistiu que um governo não tem o direito de violar “o direito soberano de determinar o que é interesse de segurança”.

A China rebateu dizendo que “não estamos na lei da selva” e que “ninguém está acima da lei”. Para a Europa, não basta apenas evocar o argumento de segurança nacional para impor barreiras. O governo brasileiro também criticou os americanos, alegando que não há acordo sobre o futuro do órgão de apelação por conta da falta de engajament­o dos EUA. Segundo o diplomata brasileiro Celso Pereira, os americanos pareciam tocar o “samba de uma nota só”, enquanto o Brasil estaria tentando tocar “todas as notas”, na busca de um acordo.

Para Welber Barral, da consultori­a Barral M Jorge, essa crise “gera um fator de instabilid­ade e todo mundo sai perdendo”. Segundo ele, a decisão do contencios­o deve levar dois anos.

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse que a OMC ficaria desmoraliz­ada se não tomasse a atitude, pois Trump precisa explicar o argumento de segurança nacional. Para ele, as sobretaxas impostas por Trump podem afetar o Brasil ao reduzir o consumo mundial e, automatica­mente, a demanda por commoditie­s. /

 ??  ?? Guerra comercial. Trump insiste que levantou barreiras por conta da segurança nacional
Guerra comercial. Trump insiste que levantou barreiras por conta da segurança nacional

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil